Imagem ilustrativa da imagem Cerca de 50% das micro e pequenas empresas podem retomar faturamento até agosto
| Foto: Gustavo Carneiro

Um estudo feito pelo Sebrae prevê que, se o ritmo de vacinação for acelerado, cerca de 9,5 milhões de pequenos negócios podem ter retomado o nível de atividade anterior à pandemia até o dia 18 de agosto. Isso representa cerca de 54% dos microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas brasileiros.

Dentro deste universo, estão os negócios que atuam nos setores relativamente menos atingidos pela crise e que teriam uma reação mais rápida ao contexto de imunização da população, diz o Sebrae: Comércio de Alimentos, Logística, Negócios Pet, Oficinas e peças, Construção, Indústria de base Tecnológica, Educação, Saúde e bem-estar e Serviços Empresariais.

Para chegar a essas conclusões, a entidade levou em consideração dados da Fiocruz e do cronograma para a entrega de vacinas do Ministério da Saúde e dados populacionais do IBGE. “Sabemos que a vacina é o único meio capaz de devolver a economia ao eixo da normalidade. Quanto mais rápido imunizarmos todos os brasileiros, mais rápida será a retomada dos pequenos negócios”, comentou o presidente do Sebrae, Carlos Meles.

Por outro lado, outros setores da economia, pelas suas particularidades, retornariam mais lentamente ao estágio verificado antes do início da pandemia. É o caso dos segmentos de Bares e Restaurantes e Artesanato e Moda, que só retomariam esse nível de atividade por volta do dia 11 de outubro, quando 100% das pessoas com mais de 25 anos estariam imunizadas.

Já o setor de Beleza só alcançaria o estágio de faturamento equivalente ao pré-pandemia em 27 de outubro. Segundo o estudo do Sebrae, os setores de Turismo e Economia Criativa devem demorar ainda mais, voltando ao patamar de faturamento anterior à pandemia apenas em 2022, mesmo que 100% da população já tenha sido vacinada até dezembro deste ano.

“A pandemia mudou muitos dos hábitos de consumo da população. Mesmo com o avanço significativo da vacinação, alguns comportamentos não serão alterados rapidamente. A tendência é que o consumo por meio da internet continue em alta. Assim como é esperado que as pessoas continuem evitando grandes concentrações ainda por algum tempo”, explica Meles ainda.

Alguns fatores podem desacelerar a retomada do faturamento, na visão de empresários e entidades representativas. Na construção civil, por exemplo, que segundo a pesquisa do Sebrae será um dos primeiros a retomar, no final de maio, ainda pode ser impactada pela alta dos insumos, afirma o presidente do Sinduscon Norte PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná), Sandro Nóbrega. "Pode ser que não aconteça a retomada naquele ritmo e volume desejados", diz Nóbrega.

Mas a alta no consumo dos insumos, da demanda de profissionais e o volume de lançamentos já dão sinais de que a retomada pode acontecer. "Fora isso (alta dos insumos), o ritmo esperado deve ser atingido em maio sim", ele completa.

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| Foto: Gustavo Carneiro

A suspensão das aulas presenciais atingiu em cheio uma das atividades da indústria de produção de uniformes escolares e corporativos de Claudenilson Daniel. A escassez e a alta de matéria-prima também prejudicaram a indústria.

Outro entrave é o afastamento de funcionários diagnosticados ou com suspeita de Covid-19 e de pessoas que tiveram contato com casos confirmados, diz Daniel. Mas embora de forma lenta, conforme o industrial, a retomada está acontecendo. "Está lento, mas aos poucos a economia tem retomado e as indústrias têm voltado a sua linha de produção. Não está 100%, mas hoje em torno de 60% e 70%."

'FLEXIBILIZAÇÃO'

Para os setores de moda e de bares e restaurantes, que devem ser dois dos últimos a retomarem o nível de faturamento anterior à pandemia, também depende dos decretos publicados pelos governos estaduais e municipais a recuperação, dizem empresários.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Na visão de César Boldori, dono de um pub em Londrina, o faturamento não deve demorar tanto a voltar quanto prevê o Sebrae. Com o estabelecimento seguindo todos os protocolos de saúde à risca, a atividade pode retomar o nível de faturamento anterior à pandemia em cerca de dois meses, estima Boldori. Isso mesmo com o limite de 50% da capacidade de lotação, já que o empresário ampliou o espaço do bar para poder receber mais pessoas respeitando o distanciamento. "A gente se adequou ao momento da pandemia para não deixar o faturamento cair. Caminhou junto com as dificuldades, viu a necessidade e atendeu ao que o cliente estava precisando, que era sair de casa com segurança."

Para ele, o que pode colocar empecilhos à retomada são os decretos estaduais e municipais, que estabelecem limites ao horário de funcionamento dos estabelecimentos. "Se esse decreto do dia 30 flexibilizar o horário até 24 horas acredito que daqui no máximo dois meses retomaremos o faturamento."

'NORMALIDADE'

De acordo com o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) regional Norte do Paraná, Leonardo Leão, a grande maioria dos negócios do setor ainda trabalham com até 50% do faturamento anterior à pandemia. "A grande maioria não consegue ultrapassar os 50% devido ao cenário atual de restrição de horário e não trabalhando aos domingos."

Mas a flexibilização do setor deverá evoluir em paralelo com a vacinação, afirma Leão. Com isso, a perspectiva é que os bares e restaurantes possam operar com 70% a 80% da capacidade após o mês de julho, afirma Leão. Aí então os estabelecimentos poderão caminhar para uma normalidade, ele acredita. "Grosso modo, eu, como Abrasel, acredito que em outubro, novembro, conseguiremos ter uma normalidade."

Além da vacina, outras medidas

A presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Márcia Manfrin, considera que a vacina é importante para proteger a população e a economia, mas "retomar as atividades ao nível anterior da pandemia não significa que as perdas acumuladas durante a pandemia serão sanadas". "Houve muito prejuízo aos empresários e alguns setores vão demorar para se recuperar."

Para ela, além da vacina, outras medidas se fazem necessárias para recuperar a saúde financeira das empresas, como estabilização e flexibilização do horário de funcionamento do setor produtivo, incentivos fiscais e linhas de crédito com juros baixos para as micro e pequenas.

'VANTAGEM COMPETITIVA'

Mas com um planejamento de longo prazo (o Masterplan) em andamento, um Plano de Retomada da Economia em desenvolvimento com ênfase nas micro e pequenas e um programa que capacita as empresas locais de menor porte para as compras públicas (o Compra Londrina), o vice-presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) Marcus Von Borstel avalia que Londrina se encontra com uma "vantagem competitiva" na retomada do faturamento.

A cidade também avança rapidamente na vacinação e tem uma indústria com força na área de TI e que permite o trabalho em home office por mais tempo, aponta Von Borstel. Mas, de modo geral, a vacinação é fator mais determinante para setores mais afetados pela pandemia, como de educação, bares e restaurantes, turismo, moda e economia criativa, salienta o vice-presidente.

Reinvenção para acelerar a retomada

Em 2020, quando o comércio enfrentou o primeiro lockdown, a empresária Rose Bianchini tomou providências para não ter o faturamento prejudicado. Ingressou no comércio on-line e manteve contato com os clientes pelas redes sociais e as perdas não foram sentidas. Mas em 2021, a empresária avalia que a instabilidade nas decisões do governo em relação ao funcionamento das atividades afetou o seu negócio. "No ano de 2021 o que mais senti foram as decisões dos nossos governantes, questão de abre e fecha, não ter uma estratégia mais concreta para os comerciantes. Foi uma coisa que até a população ficou sem entender", diz.

Para ela, o comércio do segmento de moda pode sim demorar a retornar ao nível de faturamento anterior à pandemia, mas não dá para esperar o cliente passar em frente à loja para vender. "Até porque também acredito que não vai ser mais o que era antes. Estamos em uma fase de descobrir o que vai ser o varejo."

TURISMO REGIONAL

Para o turismo, a perspectiva é ainda mais desalentadora, e os empresários não podem esperar a vacinação para retomarem a receita. Por esse motivo, o setor busca reinventar a atividade, com foco no turismo regional.

O setor trabalha até mesmo com o prazo de 2023 para que o faturamento volte ao mesmo patamar de antes da pandemia, diz Hérika Galli, vice-presidente do Conselho Municipal do Turismo e diretora da Associação dos Meios de Hospedagem de Londrina e Região. "Mesmo com 100% da população vacinada, o retorno vai ser gradual porque as pessoas não se sentem seguras", ela pondera. "Retomada do faturamento ao que era há um ano, mesmo com 100% da população vacinada, só quando a palavra Covid não estiver circulando mais."

Enquanto vacina não chega para todos

Levando em consideração que alguns setores da economia vão ver o faturamento voltar à normalidade apenas em 2022, segundo o estudo do Sebrae, as micro e pequenas precisam colocar alguns planos em prática para não passar o ano de 2021 com ainda mais dificuldades.

A economia tem que voltar aos trilhos para as empresas voltarem a crescer, mas o empresário também precisa se precaver cortando custos fixos, tornando o negócio mais enxuto e contando com a tecnologia neste processo, ressalta Márcia Manfrin, presidente da Acil. "Também é importante encontrar novos nichos de mercado e novas formas de atuação. É preciso aprender com a crise e utilizar esse aprendizado para alavancar os negócios."

Neste momento de isolamento social, a digitalização é a medida mais urgente a ser tomada e compreende a primeira fase do plano de apoio do Sebrae aos pequenos negócios, alerta Fabrício Bianchi, gerente do Sebrae/PR Regional Norte. "Neste momento tem que primeiro se debruçar na questão da digitalização. Fazer uma boa análise da parte financeira e do acesso a crédito. Não temos este ano as mesmas políticas públicas de 2021, e isso é uma dificuldade muito grande instalada."

Em seguida, com a flexibilização das medidas de isolamento social, vem a necessidade de continuar observando os protocolos de saúde, renegociar dívidas e remodelar as empresas para continuar em operação. Após a vacinação de 100% dos brasileiros, é a hora de apoiar os novos negócios que vão surgir. "Também temos um trabalho muito forte de levar produtividade e inteligência de mercado. O consumidor que tínhamos até março de 2020 é outro em 2021 e será outro em 2022", completa o gerente do Sebrae/PR.