O aumento repentino no número de casos confirmados de Covid-19 e Influenza no Brasil deixa apreensivo o setor de turismo, que luta para recuperar o volume de viajantes do período pré-pandemia. Em Foz do Iguaçu, um dos mais importantes destinos turísticos do país e o principal do Paraná, o número de visitantes estrangeiros caiu drasticamente nos últimos dois anos e com os índices de contaminação em ascensão, as reservas estrangeiras em hotéis e pousadas, até o momento, são as mais afetadas.

Imagem ilustrativa da imagem Cancelamentos de voos por contaminação preocupa setor turístico
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Agora, com o avanço da variante ômicron, a preocupação é com o cancelamento de voos pelas companhias aéreas em razão do contágio de tripulantes, incluindo pilotos e copilotos. As três maiores empresas em atividade no país - Gol, Latam e Azul - confirmaram o impacto do quadro sanitário em suas operações e, no Estado, por enquanto, houve pelo menos quatro cancelamentos.

Londrinenses em viagem fora do Estado também foram afetados. A técnica em enfermagem Adriana Amaral Moreira e o marido passaram sete dias em Salvador e na manhã desta segunda-feira (10), quando chegaram ao Aeroporto Internacional de Salvador para retornar a Londrina, receberam a notícia de que o voo da Latam que embarcariam para Guarulhos, às 10h35, havia sido cancelado.

Eles só conseguiram embarcar em outro voo às 3h25 desta terça-feira (11), para conexão em Guarulhos, às 8h25. O casal chegou a Londrina próximo das 9h30. “Apesar do contratempo, recebemos assistência da companhia aérea que nos hospedou em um hotel durante a espera e cobriu outros gastos com transporte e alimentação. No fim, deu tudo certo”, contou.

Até a noite de segunda-feira (10), nenhum voo com origem ou destino a Foz do Iguaçu havia sido cancelado. O secretário municipal de Turismo, Paulo Angeli, tem feito o monitoramento constante junto à Infraero. “Não temos informação de cancelamento até agora, está tudo mantido. Mas não estou dizendo que não possa acontecer.”

Ainda que o crescimento dos casos de contaminação pelo novo coronavírus e pelo vírus H3N2 não tenha afetado os voos para Foz, o setor hoteleiro já começa a sentir os efeitos. “As reservas internacionais estão sofrendo cancelamento regular. As nacionais não estão tendo redução considerável”, destacou Angeli.

Segundo o secretário, foi observada uma mudança no perfil de turistas que chegam a Foz. Se antes da pandemia os visitantes estrangeiros representavam 40% do volume de turistas, esse percentual hoje caiu para 4%, sendo a maioria vinda do Paraguai. “Dentro desses 4% é que está havendo uma redução de reservas no momento por precaução dos viajantes, mas não deve comprometer a receita do setor”, avaliou Angeli.

Imagem ilustrativa da imagem Cancelamentos de voos por contaminação preocupa setor turístico
| Foto: iStock

Entre os 96% de turistas brasileiros, de acordo com o secretário de Turismo, grande parte reside em um raio de até mil quilômetros de Foz do Iguaçu e prefere viajar de carro. "A maioria dos brasileiros vem de cidades do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. No final do ano, alguns níveis de hotelaria tiveram ocupação de até 100%, mas precisamos recuperar o turista internacional e dar regularidade à visitação.”

Angeli aposta na eficácia dos protocolos de segurança sanitária para garantir o fluxo turístico no município e demonstra tranquilidade em relação à elevação dos casos de contaminação com base nos números da rede de saúde. “Foz do Iguaçu foi uma das primeiras cidades turísticas do Brasil a implementar protocolos de segurança sanitária. Sabemos da nossa responsabilidade e sabemos o que fazer para reduzir isso. Aumentou a contaminação, mas não a letalidade e a ocupação nos hospitais. Estamos com 112% da população vacinada, 84% com o esquema vacinal completo.”

VOOS CANCELADOS

A Latam informou que o cancelamento de voos começou no domingo (9) e, até o momento, quatro voos não foram realizados. Na segunda-feira, foi cancelado um voo de Guarulhos a Londrina e outro de Londrina a Guarulhos. Nesta terça (11), outros dois cancelamentos estavam previstos. Um de Guarulhos a Curitiba e outro de Curitiba a Guarulhos. O planejamento da companhia não previa cortes nos voos com origem ou destino para o Paraná entre os dias 12 e 16 de janeiro.

Levantamento da Latam aponta que 1% dos voos domésticos e internacionais programados pela companhia deixaram de ser realizados desde o dia 1º de janeiro. A empresa orienta os clientes a conferirem o status do voo antes de se dirigirem ao aeroporto, no site latam.com. Caso o voo tenha sido alterado, o cliente deve realizar login e acessar Minhas Viagens > Administrar suas viagens para remarcar o voo sem multa ou diferença tarifária ou, se preferir, solicitar o reembolso.

A Azul não informou os voos cancelados no Paraná justificando não ter “braços operacionais” que permitam fazer esse recorte. A companhia, no entanto, confirmou o aumento no número de casos de dispensas médicas entre seus tripulantes e que alguns de seus voos de janeiro estão sendo reprogramados por “razões operacionais”. A empresa ressaltou, porém, que 90% das operações funcionam normalmente e que os clientes impactados são notificados das alterações, reacomodados em outros voos da própria companhia e recebem toda a assistência necessária conforme prevê a resolução 400 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

De acordo com a Folhapress, entre quinta (6) e segunda (10), Latam e Azul haviam informado o cancelamento de mais de 500 voos em todo o país. A Gol foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem até o fechamento desta edição.

Anac monitora contaminações e medidas operacionais das empresas

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que vem monitorando os casos de doenças respiratórias causadas em pilotos, comissários e demais profissionais do setor aéreo e que tem atuado na preservação da saúde dos profissionais e dos passageiros que trabalham e utilizam o transporte aéreo.

A agência reguladora salientou que as medidas de segurança sanitária recomendadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e adotadas pelo governo federal, alinhadas às regras internacionais determinadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), vêm sendo cumpridas desde o início da pandemia para garantir a segurança no transporte aéreo a passageiros e trabalhadores do setor.

Também são monitorados pela Anac as medidas operacionais adotadas pelas empresas de transporte aéreo para minimizar os impactos causados por atrasos e cancelamentos de voos, assim como o cumprimento da prestação de assistência aos passageiros, determinadas pela própria agência.

Passageiros que sofrerem atrasos ou cancelamentos têm direito à prestação de assistência pelas companhias aéreas dentro do que prevê a Resolução 400/2016 da Anac.(SS)

Consumidores têm direito a reembolso e compensações

Em 2022, a lei 14.034/2020, que estabelecia prazo de até 12 meses para o reembolso de passagens aéreas de voos cancelados perdeu a vigência e, desde 1º de janeiro, passa a valer o contrato firmado entre o consumidor e a companhia aérea e a Resolução 400/2016 da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para voos domésticos, além do Código de Defesa do Consumidor.

“O cancelamento ou interrupção, caso o consumidor opte pelo reembolso, deve ocorrer em até sete dias do ocorrido. Dependendo da situação, poderá exigir uma compensação por prejuízos materiais e morais que efetivamente venha a sofrer”, destacou o membro da Comissão de Direitos do Consumidor da OAB em Londrina, Wagner Lai.

Casos em que o consumidor é realocado em outro voo são considerados atrasos e a resolução da Anac também prevê regras a serem observadas. Se o atraso for superior a uma hora, a companhia deve oferecer meios de comunicação ao passageiro, como internet, possibilitar ligações etc. Atrasos superiores a duas horas obrigam as empresas a fornecerem alimentação ao passageiro e, quando o atraso ultrapassa as quatro horas, deve ser oferecido serviço de hospedagem em caso de pernoite, incluindo traslado de ida e volta ao aeroporto. “É importante observar que os contratos não podem prever regras diversas da Resolução e do Código de Defesa do Consumidor porque são consideradas nulas”, ressaltou Lai.

Se a empresa aérea não cumprir as regras, o consumidor deve guardar todos os documentos e recibos de compras e serviços que tiver de contratar em decorrência dos atrasos ou cancelamentos e que deveriam ser fornecidos pela companhia durante a espera. Dependendo da situação, caso haja prejuízos morais e materiais, o consumidor também poderá exigir a compensação.

Em qualquer caso, o consumidor lesado poderá procurar os órgãos de proteção para formalizar a reclamação e buscar a reparação dos danos e também contar com a ajuda de um profissional para avaliar a situação.(SS)