O Canadá ainda não voltou a importar carne bovina brasileira, informou ontem a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Lytha Spíndola. Embora o embargo tenha sido suspenso no dia 23 de fevereiro, aquele país ainda não retomou suas compras do produto. ‘‘Eles alegam questões burocráticas’’, informou a secretária. ‘‘O Itamaraty está cuidando disso.’’
Questionada se esse não seria um sinal de má vontade do Canadá, a secretária comentou: ‘‘tudo indica que sim.’’ Os Estados Unidos, que participaram do embargo ao lado de Canadá e México, já voltou a importar. Mesmo quando o ingresso de carne nos EUA estava impedido, as empresas americanas não deixaram de encomendar, confiantes de que a restrição seria levantada no curto prazo.
As vendas brasileiras de carne para o Canadá são de valor baixo. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil vendeu, no ano passado, US$ 5,3 milhões em carne industrializada e apenas US$ 48 mil em carne congelada para aquele país. O principal problema do embargo, segundo apontaram autoridades brasileiras à época, não era o que o Brasil deixaria de vender ao Canadá, mas o dano à imagem do produto e as consequências disso sobre as exportações de carne para outros mercados mais importantes, como era o caso dos EUA.
Na avaliação da secretária, o episódio do embargo acabou revertendo a favor do Brasil. ‘‘Eles (os canadenses) tentaram nos prejudicar, mas acabaram passando um atestado de que a carne brasileira é boa’’, disse.
O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Roberto Giannetti da Fonseca, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, em entrevista publicada no último sábado, que os frigoríficos brasileiros não deixarão passar essa oportunidade. Segundo informou, a embaixada do Brasil em Londres já contratou uma agência de publicidade. A idéia é fazer uma campanha mundial de valorização da carne bovina brasileira como um produto saudável, livre do mal da vaca louca e da febre aftosa.
Técnicos da Secex informaram que o episódio do embargo impactou somente a exportação de carne bovina. Outros produtos normalmente importados pelo Canadá não tiveram suas vendas afetadas. Nas duas primeiras semanas de março, o Brasil havia exportado US$ 13 milhões àquele país.
Diplomatas e autoridades do governo brasileiro informam que o clima no relacionamento entre o Brasil e o Canadá continua ruim e não há como negociar, nesse momento, acordos comerciais que evitem a aplicação de uma retaliação contra o Brasil. O Canadá foi autorizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) a retaliar o Brasil, por causa de subsídios à Embraer considerados ilegais pela OMC. A lista de produtos a serem alvo de punição, porém, só deverá ser divulgada a partir do final de abril. No governo brasileiro, a aposta é de que não haverá retaliações. ‘‘Eles têm mais a perder com isso do que o Brasil’’, dizem os técnicos. ‘‘O Brasil compra mais do Canadá do que eles de nós.’’