Caixa estima R$ 15 bi em saques de FGTS em um mês

A Caixa Econômica Federal abre com horário estendido de duas horas nesta sexta-feira (13), para que os cotistas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) possam iniciar os saques de R$ 500 por conta. A expectativa na instituição é que ocorra a injeção de R$ 15 bilhões no mercado somente no primeiro mês, nas mãos de 30 milhões de pessoas.

Para dar conta dos atendimentos, as agências bancárias abrirão neste sábado (14) e também terão duas horas a mais de expediente na segunda (16) e terça-feira (17). Os clientes da poupança individual da Caixa serão os primeiros a receber e os que nasceram entre janeiro e abril podem sacar nas agências e em lotéricas, ou ter o valor creditado automaticamente em conta no banco, a partir de hoje.

A partir do dia 27 será a vez dos clientes da poupança nascidos entre maio e agosto e, em 9 de outubro, dos poupadores da Caixa que aniversariam entre setembro a dezembro. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse na quinta-feira (12), em transmissão ao vivo na página da instituição no Facebook, que o banco está preparado para a operação de pagamentos. “Serão R$ 15 bilhões liberados para cerca de 30 milhões de pessoas apenas neste primeiro mês”, disse.

Quem não é correntista da Caixa poderá sacar os R$ 500 por conta de FGTS, conforme o calendário estipulado pelo banco. Os nascidos em janeiro podem sacar a partir de 18 de outubro e os em fevereiro, a partir de 25 do mesmo mês. Quem faz aniversário em março terá a liberação em 8 de novembro e quem é de abril, duas semanas depois. Para os de maio será em 6 de dezembro e os de junho, em 18 do último mês do ano. O cronograma segue até 6 de março de 2020, data para os nascidos em dezembro.

Quem estiver fora do País poderá receber os valores nas embaixadas brasileiras credenciadas pelo banco. Todos os valores devem ser sacados do fundo até 31 de março de 2020, ou voltarão para as contas de FGTS. Para os clientes que não desejam retirar os valores, a data limite para comunicar a Caixa é até 20 de abril de 2020.

Conforme publicado na edição da FOLHA da última segunda-feira (9), o governo federal instituiu, na mesma medida provisória que permitiu os saques, a ampliação de 50% para 100% de devolução dos lucros obtidos com o uso dos recursos do fundo aos cotistas já a partir de agosto. Assim, especialistas ouvidos pela reportagem afirmaram que o rendimento do FGTS atinge 6,44% ao ano e supera os principais investimentos de renda fixa do País, o que torna mais rentável deixar os recursos no fundo.

QUEM NÃO QUISER

Quem deseja abrir mão de sacar os recursos do FGTS até 31 de março do ano que vem deve acessar o site da Caixa ou usar o aplicativo do FGTS do banco, disponível para todos os sistemas de celulares. Será preciso usar o número de CPF ou o número do PIS/Pasep, além da data de aniversário e da senha do cadastro – que pode ser feito na hora.

O cotista terá acesso ao valor disponível para saque e terá de clicar no campo de solicitação para “desfazimento do crédito”.

O teto para saque é de R$ 500 por conta de FGTS do trabalhador. No entanto, caso a pessoa tenha, por exemplo, R$ 300 em uma conta e R$ 1 mil na outra, poderá tirar somente R$ 300 de uma e R$ 500 da outra. Se o cotista contar com uma conta com R$ 150, esse é o valor que terá direito a sacar.

O crédito de até R$ 500 por conta de FGTS que ficará disponível a partir desta sexta-feira (13) não terá relação com a decisão do trabalhador com conta ativa de fazer o Saque Aniversário, que passa a valer somente a partir de abril de 2020. A Caixa Econômica Federal divulgará informações sobre como será a modalidade a partir de 1º de outubro deste ano.

No caso de o cotista optar pelo Saque Aniversário, ele trocará a retirada anual de um percentual dos valores de FGTS pelo direito de sacar 100% da conta ativa em caso de demissão sem justa causa. Porém, isso não anula a multa de 40%, que é paga pelo empregador do demitido.

Quem aderir ao Saque Aniversário só poderá retornar à modalidade anterior após dois anos da data da solicitação à Caixa. Os trabalhadores com mais de uma conta ficarão sujeitos a somente uma sistemática de saque.

As retiradas do Saque Aniversário ocorrerão em abril, para quem nasceu em janeiro e fevereiro, maio, para os de março e abril, e junho, para quem aniversaria em maio e junho. Para nascidos de julho a dezembro, o saque em 2020 ocorrerá a partir do mês de aniversário até o último dia útil dos dois meses seguintes.

A partir de 2021, todos os saques ocorrerão no mês de aniversário ou nos dois meses seguintes. O valor do saque anual será equivalente a um percentual do saldo da conta, para todas as faixas, mais um valor fixo para contas a partir de R$ 500,01, conforme tabela nesta página. A adesão ao Saque Aniversário não altera outras formas de uso dos recursos, como na compra da casa própria ou aposentadoria. (Com Agência Brasil)

O objetivo do governo federal ao enviar a MP (Medida Provisória) 889 ao Congresso Nacional é dar um fôlego ao consumidor e à economia, por meio da liberação de uma parte dos recursos do FGTS para o cotista, ano a ano, caso o trabalhador assim deseje. Apesar de não ser a solução para a dificuldade do País em sair da recessão, especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a medida será um alento ao comércio neste fim de ano.

“Os R$ 500 parecem pouco, mas, como há muitas pessoas com contas ativas, pode dar uma aquecida, fazer com que as pessoas com dívidas as quitem e voltem ao mercado de crédito e gerar consumo”, diz o economista chefe da Trivèlla Investimentos em Curitiba, Lucas Dezordi.

Para ele, não há problema em o trabalhador usar os recursos no consumo, porque o pior da crise já passou e a tendência é que ocorra uma recuperação, ainda que aos poucos. “Faço uma ressalva somente quanto ao Saque Aniversário. Se a pessoa não tem uma poupança para um ano sem renda, por exemplo, e retira o dinheiro, vai correr o risco de ser demitida e ficar sem o FGTS para pagar as contas até arranjar outro emprego”, sugere Dezordi.

Para o consultor de finanças pessoais e empresariais Charles Vezozzo, de Londrina, os saques do FGTS são muito válidos para quem tem débitos parcelados, porque os juros pagos aos credores são sempre maiores do que o rendimento do FGTS ou de investimentos. “A prioridade é pagar a dívida, porque, embora a iniciativa do governo seja para gerar consumo, é preciso ter cautela e poupar.”

Vezozzo também lembra que o FGTS é importante para abater dívidas de casa própria, mas acredita que parte dos cotistas vá usar para o consumo. “Para a economia do País, será benéfico, ainda que não resolva o problema do desemprego e de crescimento, que precisam de um conjunto de ações por parte do governo.” (F.G.)