Imagem ilustrativa da imagem Cai a confiança dos brasileiros na tecnologia
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A confiança do brasileiro na tecnologia caiu quase 13% em outubro na comparação com abril deste ano. O ICD (Índice de Confiança Digital), expresso em uma escala de 1 a 5 - sendo 1 o mais pessimista e 5 o mais otimista - passou de 3,9 para 3,4. O índice é medido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e leva em consideração a expectativa dos brasileiros em relação à tecnologia frente às mudanças políticas, sociais, econômicas, ambientais ou mesmo tecnológica, com base na avaliação dos entrevistados sobre sete afirmações (ver infografia). Esta é a segunda medição realizada pela FGV.

Para André Miceli, coordenador do MBA de Marketing Digital da FGV e responsável pelo estudo, o conturbado momento das eleições presidenciais fez o índice cair. "Esse cenário de extrema polarização inundou a internet de conteúdo sobre o tema. Entre ideias, ataques e mentiras, a eleição foi pauta de inúmeras conversas pessoais além dos grupos de amigos e família no Facebook e WhastApp. As pessoas ficaram esgotadas."

Para Miceli, a queda no ICD serve de alerta para a necessidade de as empresas de tecnologia se preocuparem com as notícias falsas. "A grande lição é que é fato que as fake news precisam ser olhadas com muito critério e cuidado. Já existem iniciativas de empresas para diminuir e identificar as fake news e, de alguma maneira, isso deve arrefecer os ânimos."

Assim como qualquer índice de confiança, o ICD pode ser utilizado para prever investimentos. Se o índice revela um otimismo maior por parte dos mais velhos, por exemplo, uma empresa de tecnologia pode se sentir mais à vontade para criar produtos e serviços para esta faixa etária. Quando o índice revela que os mais jovens estão preocupados com a violência praticada por meio da tecnologia, empresas de tecnologia podem fazer campanhas ou criar funcionalidades que tragam soluções para esse tipo de problema.

"O ICD mostra muito a propensão de uso, a abertura ao uso e as queixas em relação à tecnologia, e o mercado pode se adequar a essas demandas", explica Miceli. Segundo ele, o índice deixa claro que as pessoas acreditam que a tecnologia lhes traz angústia e ansiedade, mas ao mesmo tempo não podem viver sem ela, e isso se torna um problema. "E é importante para as empresas que as pessoas usem a tecnologia de maneira saudável tanto para que a tecnologia evolua quanto para que as pessoas usem seus produtos."

Na visão do coordenador, a idade é o fator que mais gera diferenças de percepções. Enquanto os jovens se mostram mais pessimistas em relação à tecnologia, os mais velhos se revelam mais otimistas, principalmente aqueles que se encontram na faixa entre 55 e 64 anos. Já os jovens de 13 a 17 anos são os mais pessimistas. Para Miceli, a justificativa pode estar no fato de que a tecnologia ajuda os mais velhos a se aproximarem de netos e filhos que moram longe, ou a retomar contato com antigos amigos. "Esse tipo de vantagem se apresenta maior que qualquer desvantagem."

Além disso, os mais velhos não usam a tecnologia com tanta intensidade, ao contrário dos mais jovens, que por vezes se sentem tomados pelo chamado FOMO (Fear Of Missing Out ou medo de perder algo), ou seja, temem ficar por fora nas redes sociais, observa o coordenador. O desempenho dos jovens é o pior em três dos sete indicadores do ICD. Já os mais velhos tiveram o melhor resultado em três dos sete indicadores e não apresentam o pior desempenho em nenhum deles. A totalidade dos entrevistados acima de 65 anos concordara com as afirmações "eu espero sempre o melhor da tecnologia" e "sou otimista a respeito do futuro da tecnologia".

Mesmo assim, a pesquisa revela otimismo por parte do brasileiro em relação à tecnologia. Em nenhuma das duas edições um entrevistado discordou totalmente da afirmação "espero sempre o melhor da tecnologia". O grupo que discorda parcialmente também é pequeno. Em outubro de 2019, nenhuma pessoa discordou totalmente das afirmações "sou otimista a respeito do futuro da tecnologia" e "a tecnologia vai criar oportunidades para as pessoas".

MERCADO

Para Roberto Nishimura, professor da Unopar EaD na área de TI (Tecnologia da Informação) e presidente do APL (Arranjo Produtivo Local) de TI de Londrina e Região, o Índice de Confiança Digital e suas variáveis podem ser úteis para decisões de empresas de tecnologia. Ele também concorda que a onda de fake news que tomou conta das eleições pode ter afetado a confiança das pessoas na tecnologia, colocando em xeque a credibilidade da informação. Mas os usuários podem estar culpando o meio em vez da mensagem. "A tecnologia é extremamente confiável. O mau uso é que leva a esse cenário."

Além disso, ele ainda considera prematuro dizer se o resultado da pesquisa terá impacto efetivo sobre o mercado de tecnologia, já que esta é apenas a segunda medição realizada pelo FGV.

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