Economistas apostam em um crescimento econômico do Brasil entre 2,5% e 3,5%
Economistas apostam em um crescimento econômico do Brasil entre 2,5% e 3,5% | Foto: Shutterstock



Apesar do cenário político negativo, os economistas apostam na economia brasileira sob comando do ministro Paulo Guedes. Eles acreditam que o governo vai conseguir aprovar a reforma da Previdência, condição tida como essencial para a volta do crescimento. Na semana passada, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, disse que o Brasil pode crescer 3,5% ainda neste ano se a reforma, enviada na quarta-feira (20) ao Congresso, for aprovada logo.

A FOLHA conversou com seis economistas paranaenses. Há quem acredite ser possível chegar a 3,5%. Outros acham o número um exagero e apostam nos 2,5% previstos pelo Boletim Focus, do Banco Central.

O economista, professor e consultor Daniel Poit minimiza os problemas que envolvem ministros e os filhos do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, trata-se de "tropeços" característicos de qualquer início de governo. Poit reconhece que há uma série de dificuldades a serem enfrentadas, mesmo assim está confiante. E acredita ser "factível" o Brasil crescer 3,5%.

O economista ressalta que convencer os deputados e senadores a aprovarem uma medida impopular como a reforma da Previdência é um enorme desafio. Ele acredita que, lançando mão de "práticas tradicionais" da política brasileira, o governo vai conseguir. "Os parlamentares vão colocar empecilhos para tornar a negociação mais cara. Vão forçar até que o governo se dobre", afirma. Ou seja, na visão dele, o Executivo terá de oferecer algum benefício aos parlamentares para obter os votos necessários à aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma.

As dificuldades também virão do exterior. Para Poit, a "intransigência sobre algumas questões" demonstrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, põe em risco o crescimento da economia mundial. A crise na Venezuela também tem repercussões negativas na economia.

Apesar de todas essas considerações, o economista acredita num crescimento significativo do PIB de 2019. "Se a reforma acontecer no primeiro semestre, no segundo teremos ganhos muito substanciais", diz o professor da UFPR.

MENOS

"Não acho impossível", declara o economista e professor da Universidade Positivo, Lucas Dezordi, quando questionado se o Brasil tem condições de crescer acima de 3% neste ano. "Pode ser uma aposta alta considerando a desaceleração da economia mundial, mas, com uma boa reforma de Previdência, temos chance de voltar a crescer neste nível", afirma.

O mais provável, no entanto, segundo ele, é um crescimento em torno de 2,5%, com inflação baixa e uma recuperação modesta da indústria.
"Não estou 100% otimista por algumas razões", diz Dezordi. Uma delas é que, na opinião dele, o presidente Jair Bolsonaro está inaugurando uma "nova forma de governar", com redução de ministérios e sem fazer composições com partidos políticos. "Não sei se vai conseguir imprimir esse novo modelo", justifica.

Para ele, "alguma reforma" será aprovada. Do contrário, a situação do Brasil vai se tornar preocupante. "Estou neutro com viés de otimismo", brinca o economista Adilson Volpi, professor aposentado da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "A economia vai depender do espírito público e da visão de longo prazo dos políticos", afirma.

Para ele, há duas frentes no governo que são fundamentais: a reforma da Previdência e o pacote anticrime apresentado no Congresso pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Volpi explica: "Com o projeto do Moro, que ataca o crime organizado e a corrupção, temos um alento de que os recursos públicos não serão desviados", argumenta.

O pacote anticrime e a reforma, juntos, proporcionariam uma sensação de segurança nos investidores. "Geram uma confiança de que algo de novo está acontecendo e os resultados virão em médio prazo", alega.

Com os projetos aprovados, o economista acredita que, ao fim do ano, os empregos virão e o consumo vai aumentar.

RECEIO

Já o economista Ronaldo Antunes da Silva, presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, se diz mais receoso porque o "cenário externo está ficando negativo". Além disso, ele afirma que não haverá avanço na economia, se não houver expectativa de melhora na área fiscal. "O empresário não sairá arriscando e o consumidor também se retrai."

Silva ressalta que indústria brasileira está com capacidade ociosa e pronta para crescer. Mas isso depende da reforma da Previdência.
"As expectativas relatadas no boletim focus vão em outra direção, de crescimento modesto", afirma o economista e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) José Guilherme Silva Vieira, ao ser questionado sobre a possibilidade de o Brasil crescer 3,5%.

"A reforma da Previdência não resolve problemas fiscais no curto prazo e, mesmo os efeitos positivos para a retomada de investimentos, não se dão sem planejamento por parte das empresas e dos investidores", ressalta. Ele não acredita que a economia volte a acelerar antes de aprovada a reforma. "E o calendário mais otimista prevê a aprovação apenas no início do segundo semestre", declara. Por isso, na opinião de Vieira, se o País crescer 2% já será um resultado a ser comemorado.