Para Guilherme Boulos, modelo que privilegia solução para crise fiscal está superado
Para Guilherme Boulos, modelo que privilegia solução para crise fiscal está superado | Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo



Pré-candidato mais à esquerda do cenário eleitoral, Guilherme Boulos, do Psol, é um crítico do tripé econômico implantado no governo FHC, que prioriza controle da inflação e das contas públicas, além do câmbio flutuante. Para ele, entre várias outras medidas, é preciso conter a volatilidade do dólar. "Deve-se impor maior regulação no mercado interbancário de câmbio e algum controle sobre os fluxos de capital de curto prazo, isto é, mecanismos que contenham a especulação", afirmou ele, por meio da assessoria, em respostas a perguntas enviadas pela FOLHA.
Boulos acredita que, com isso, a taxa de câmbio terá um comportamento "menos errático". Para ele, a moeda norte-americana não pode oscilar "dessa forma" em uma economia que se tornou grande importadora de insumos industriais, como a brasileira. "Como a utilização de insumos importados foi muito ampliada desde os anos 1990, a alta do dólar produz efeitos inflacionários, devido ao aumento dos custos", alega. Ele defende mecanismo para que o risco cambial não seja repassado ao "consumidor apenas".

BANCO CENTRAL
O pré-candidato diz ser necessário estabelecer um "duplo mandato" para o Banco Central, que teria a responsabilidade pelo controle da inflação, mas também pela manutenção da atividade econômica. "Trata-se, na verdade, de uma questão de controle social sobre a execução da política econômica do País. Do ponto de vista mais técnico, deve-se reduzir o peso dos preços administrados, pouco sensíveis à política monetária, no cálculo do índice de inflação utilizado", propõe.
Para Guilherme Boulos, existem distorções na execução da política de controle da inflação que "são extremamente prejudiciais à manutenção do nível de emprego". "Elas precisam ser superadas."

SUPERAVIT FISCAL
Estabelecer como critério da política fiscal apenas metas crescentes de superavits primários anuais, na opinião do pré-candidato do Psol, é "algo desastroso" para o desenvolvimento do País. "O planejamento fiscal brasileiro tem que se estruturar a partir da definição de metas orçamentárias anuais ou plurianuais, de preferência, visando a estabilização da relação dívida/PIB em uma perspectiva de médio prazo", afirma.
Segundo ele, esperar resolver a questão fiscal para só depois, através da restauração da confiança, induzir o investimento tem se mostrado um modelo equivocado em todo o mundo "No curto prazo, precisamos reconstruir as condições de crescimento econômico, para que, aí sim, a questão fiscal seja equacionada através da recuperação das receitas fiscais principalmente", alega.

PREVIDÊNCIA
Boulos defende um modelo de Previdência baseado "num sistema único, calcado nos princípios da repartição e da solidariedade", sendo financiado por empregadores, trabalhadores e governo. E lembra que a Constituição prevê outras fontes para financiar a Previdência.
Na visão do representante do Psol, a reforma da Previdenciária tem pouca importância na resolução do problema fiscal no curto prazo. "Temos que colocar em discussão os efeitos que os benefícios previdenciários possuem sobre a dinâmica econômica dos municípios no interior do Brasil e sobre as famílias que têm como fonte mais importante de renda a aposentadoria dos idosos."

ESTADO
Para Guilherme Boulos, o Estado deve ser "do tamanho das necessidades da população". "Temos uma imensa carência de serviços públicos, como saúde, educação, segurança, além de uma imensa carência de infraestrutura social e urbana. Nossas grandes cidades são caóticas, com falta de moradia, saneamento e transporte", ressalta.
Por causa desses fatores, de acordo com ele, os problemas do País não se resolvem com Estado mínimo. "Temos que reestruturar algumas carreiras públicas, precisamos dar prioridades a algumas áreas, mas é um mito achar que o Estado brasileiro é grande em relação a sua população e ao atendimento de suas necessidades", declara.
Leia amanhã a entrevista da pré-candidata do PCdoB, Manuela D'Avila.