SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira voltou aos 91 mil pontos nesta terça-feira (2) devido ao otimismo de investidores com a reabertura das economias globais após paralisações nas atividades de modo a conter o avanço da Covid-19.

O Ibovespa fechou em alta de 2,743%, a 91.046 pontos, o maior patamar desde 10 de março, um dia antes da OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar que há uma pandemia do novo coronavírus em curso no mundo, com a sua disseminação em todos os continentes.

O apetite por risco também se refletiu no dólar, que despencou 3,22%, a R$ 5,2130, menor valor desde 14 de abril -antes de Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde) e Sergio Moro (ex-ministro da Justiça) deixarem o governo de Jair Bolsonaro.

Essa é a mais forte desvalorização percentual diária desde 8 de junho de 2018, quando o dólar desabou 5,5%.

"A queda da Bolsa em março criou várias oportunidades de compra, com empresas mais baratas que seu patrimônio. Agora, com a flexibilização da quarentena, vemos a volta de algumas atividades do comércio, materializando a retomada. Mas é uma expectativa de melhora da economia e não, necessariamente, algo que já tenha ocorrido", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Apesar da onda de protestos nos Estados Unidos e no Brasil, investidores repercutem a reabertura de Europa e EUA, ao passo que o número de novos casos da doença desacelera nessas regiões.

Também contribui para o viés positivo o novo pacote de estímulo que está sendo desenhado pelo governo alemão, de cerca de 100 bilhões de euros, e a compra, segundo a Bloomberg, de soja americana por chineses.

Na segunda (1º), agência de notícias Reuters afirmou que a China havia pedido a suas empresas estatais que suspendessem compras de soja e carne suína dos EUA, após o governo americano ter afirmado que iria eliminar o tratamento especial dos EUA a Hong Kong como forma de punição a Pequim, quem planeja impor uma nova legislação de segurança no território.

Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 0,9%, Paris, 2% e Frankfurt, 3,75% nesta sessão.

Nos EUA, Dow Jones subiu 1%, S&P 500, 0,8% e Nasdaq, 0,6%.

No Brasil, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou na noite de segunda (1º) o pedido feito por partidos políticos para que o telefone celular do presidente fosse apreendido no âmbito do inquérito que investiga se ele tentou interferir politicamente na Polícia Federal. Celso de Mello, contudo, fez um alerta a Bolsonaro de que descumprir ordens judiciais implica crime de responsabilidade.

Tensões recentes entre os poderes Executivo e Judiciário foram apontadas por analistas como fator de impulso para o dólar, que acumula alta de 30% contra o real em 2020.

As incertezas políticas, somadas a um ambiente de juros baixos e crescimento fraco, prejudicam as perspectivas de investimento estrangeiro no Brasil, levando o dólar ao recorde nominal (sem contar a inflação) de R$ 5,90 em 13 de maio. Desde então, a moeda recua 11,7%.

Nesta terça, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem do vencimento julho de 2020, totalizando US$ 600 milhões.

Na sessão, o real teve o melhor desempenho entre o todas as moedas do mundo. Analistas afirmam que essa valorização decorreu ainda de fatores técnicos, com operadores se desfazendo de posições negativas no câmbio brasileiro, construídas praticamente desde o início do ano.

No ano, porém, a divisa brasileira ainda é a moeda que mais perde valor ante o dólar.

Também ajudou para o apetite a risco o lançamento do Programa Emergencial de Acesso a Crédito nesta terça, em uma tentativa do governo federal de destravar empréstimos para pequenos e médios empresários. O programa permite o uso de R$ 20 bilhões do FGI (Fundo Garantidor para Investimentos) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a concessão de crédito a empresas que tenham registrado em 2019 receita bruta entre R$ 360 mil e R$ 300 milhões.

"Não daria por certo que há uma tendência de queda na nossa taxa de câmbio, uma vez que ainda temos: a crise política, que não parece ter chegado ao seu fim, as manifestações do último final de semana, e, não está claro se o ciclo da pandemia no Brasil alcançou o pico ou se ainda teremos fases piores", diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.