SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa brasileira terminou a semana com queda acumulada de 18,9%, o pior desempenho para o período desde a segunda semana de outubro de 2008, ano da última crise financeira, quando a o índice caiu 20%. No ano, a queda é de 42% e supera, em termos nominais, 2008.

Corrigida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a queda nominal de 41,22% naquele ano é de 44,50%, segundo dados da Economatica. Se a correção inflacionária for media pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), a queda naquele ano foi de 46,12%.

Nesta sexta-feira (20), o Ibovespa, que chegou a subir 5,7% por volta das 12h, fechou em queda de 1,85%, a 67.069 pontos, menor patamar desde agosto de 2017.

À época, a Bolsa se recuperava da forte queda de 18 de maio daquele ano, conhecido como Joesley Day, quando o Ibovespa caiu 8,8% e foi a 61 mil pontos após divulgação de conversa comprometedora entre o empresário Joesley Batista e o então presidente Michel Temer (MDB).

As principais Bolsas globais inverteram a tendência de recuperação na tarde desta sexta, depois que os estados americanos Califórnia e Nova York decretaram isolamento domiciliar devido ao coronavírus e previsões para o PIB (Produto Interno Bruto) mostram um maior impacto da doença na economia.

Nos Estados Unidos, Dow Jones recuou 4,55%, S&P 500, 4,34% e Nasdaq, 3,79% nesta sexta. Na semana, o S&P 500 acumula queda de 15%, a maior desde 2008, ano da última crise financeira.

Já o WTI, referência de petróleo nos EUA, teve a maior queda semanal desde 1991, com recuo de 27% no período, a US$ 23,37, menor valor desde 2002. O Brent, referência internacional da matéria-prima, cai 19% no período, a US$ 27,27.

Os índices repercutem previsões negativas para a economia global. O Goldman Sachs prevê forte contração da economia americana no primeiro semestre deste ano devido ao coronavírus.

O banco americano espera uma queda no PIB (Produto Interno Bruto) de 6% no primeiro trimestre e de 24% no segundo, quando comparados ao mesmo período de 2019. Para o segundo semestre, o Goldman prevê recuperação, com crescimento de 12% do PIB no terceiro trimestre e de 10% no quarto.

O banco também revisou sua estimativa para o desemprego e estima um crescimento de 5 pontos percentuais, levando a taxa para 9% nos próximos trimestres. Desde 2011 os EUA não veem uma taxa de desemprego tão alta. No auge da crise, a taxa chegou a 10% em 2009.

Segundo a União Europeia, a recessão de 2020 pode ser tão ruim quando a de 2009.

Para o Brasil, o Ministério da Economia cortou a projeção oficial para o crescimento do PIB em 2020 de 2,10% para 0,02%.

Segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), a economia brasileira poderá ter contração de 4,4% em 2020, com riscos de a atividade ainda sentir efeitos negativos "significativos" até 2023.

Essa previsão é resultado de cálculo considerado mais realista pela FGV que, baseado em modelos econométricos, leva em conta os mecanismos de propagação doméstico e externo operando simultaneamente.

Apesar do cenário negativo, a cotação do dólar cedeu com intervenções do Banco Central. A autarquia vendeu US$ 2,95 bilhões em leilão "de repo" (acordos de recompras) —operação compromissada em que o o BC compra títulos soberanos em dólar— e US$ 175 milhões à vista.

A cotação do dólar fechou em queda de 1,47%, a R$ 5,0220. O turismo está a R$ 5,2140 na venda. Em algumas casas de câmbio, chega a ser vendido acima de R$ 5,40.

O dólar ficou R$ 0,194 mais caro na semana, alta acumulada de 4%. No período, as principais moedas globais se desvalorizaram ante o dólar. O euro e a libra acumulam perdas semelhantes.

Na Bolsa, uma das maiores quedas do dia foi da Sabesp, depois que o governo de São Paulo anunciou que a companhia vai suspender a cobrança da tarifa social de água para 506 mil famílias carentes no estado. A medida vale a partir de 1º de abril.