O economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Charles Wright demonstrou ontem que o banco está preocupado com a aplicação das verbas liberadas pela instituição para o investimento em obras na área de transportes no Brasil.
O BID financia diversos projetos no setor, como a duplicação das rodovias Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte), Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) e Rodovia do Mercosul (Curitiba-Florianópolis). ‘‘As obras de duplicação estão ocorrendo um pouco mais tarde do que gostaríamos’’ , declarou.
Segundo ele, o BID financia programas em 27 países da América Latina e todos os projetos estão sujeitos às auditorias da instituição, que monitora a aplicação dos investimentos.
De acordo com Wright, o BID pretende aprofundar os debates sobre soluções para o transporte urbano no Brasil. Uma das iniciativas é o fórum ‘‘Driving 2001’’, divulgado ontem em São Paulo, que terá o apoio do banco e tem entre seus idealizadores o empresário e bicampeão mundial de Fórmula 1 Émerson Fittipaldi.
O fórum será realizado em São Paulo, de 15 a 19 de outubro, e reunirá diversos especialistas para discutir questões como a construção e manutenção de rodovias, aplicação do Código de Trânsito e treinamento de motoristas. O economista afirmou que o fórum está sendo financiado pela iniciativa privada, mas terá a participação de representantes dos órgãos de trânsito e dos governos municipais, estaduais e federais.
De acordo com os cálculos do BID, cerca de 100 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito na América Latina. O número anual de feridos é de 1 milhão e as perdas com acidentes no continente são calculadas em US$ 30 bilhões por ano. ‘‘Só o Brasil responde sozinho por um terço desses números’’, citou Wright. Ou seja, os prejuízos no País são de cerca de US$ 10 bilhões por ano e o número de feridos ultrapassa 300 mil. Estima-se que mais de 30 mil brasileiros morrem no trânsito todos os anos.
Para o consultor de tráfego do BID, Philip Gold, apesar de ter um trânsito violento, o Brasil já desenvolveu boas experiências que devem ser estimuladas. Um dos exemplos é o largo uso do cinto de segurança.
Outro exemplo, segundo Gold, é a campanha ‘‘Paz no Trânsito’’ de Brasília, que diminuiu o número de acidentes e atropelamentos na capital. ‘‘Atualmente, o motorista de Brasília pára antes da faixa para o pedestre atravessar, como ocorre em Londres; portanto, é um mito essa história de que o motorista brasileiro não pode ser educado’’, declarou Gold.
Wright disse que o País desenvolveu iniciativas que já superam as do primeiro mundo. O sistema de ônibus de Curitiba (PR), segundo ele, transporta 1,5 milhão de pessoas por dia e teve no ano passado apenas um acidente fatal. ‘‘É um sistema mais seguro do que o da Holanda’’.