Balança comercial de Londrina caminha para primeiro superávit em 5 anos
Entre janeiro e dezembro, exportações locais superaram importações e balança do município acumula superávit de US$ 300 milhões
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sábado, 21 de outubro de 2023
Entre janeiro e dezembro, exportações locais superaram importações e balança do município acumula superávit de US$ 300 milhões
Simoni Saris - Grupo Folha
Pela primeira vez, nos últimos cinco anos, a balança comercial em Londrina dá sinais de que irá chegar ao final de dezembro com saldo positivo. Em 2023, até agora, as exportações superam as importações e a balança acumula superávit de mais de US$ 300 milhões. O resultado registrado nos nove primeiros meses é reflexo de um volume crescente nas vendas ao mercado externo, observado mês a mês, a partir de janeiro. Desde 2017 as exportações no município não ficavam acima das importações. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as vendas locais ao mercado externo cresceram 203,3% enquanto as importações caíram 45,6%.
Um dos principais motivos para a melhora nos números do comércio exterior londrinense é a retomada das importações na China após a crise sanitária de Covid-19. Mas os setores comercial, industrial e do agronegócio locais estão atentos aos riscos geopolíticos, especialmente aos conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio e suas consequências no mercado global.
De janeiro a setembro de 2023, o dados da Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, apontam que a balança comercial de Londrina registra um superávit de US$ 300,02 milhões. Entre os principais produtos comercializados, a soja lidera o ranking com folga, com US$ 408.231.842 negociados em nove meses, o que representa 51% do total das exportações locais. Em seguida, estão o milho, com 15%, somando US$ 96.587.384, e extratos, essências e concentrados de café, chá ou de mate, com US$ 57.105.081, o que corresponde a uma fatia de 14%.
Os maiores compradores da soja e do milho foram os países asiáticos, exceto os do Oriente Médio, e os derivados de café, chá e mate tiveram como principal destino a Europa. De tudo o que foi exportado neste ano em Londrina, 55% tiveram como destino a China, cujas negociações com as empresas londrinenses somaram US$ 452 milhões. Em segundo lugar no ranking das exportações, estão os Estados Unidos, com uma participação de 3,7%, totalizando US$ 30,7 milhões, seguidos pela Argélia, com US$ 27,9 milhões e 3,4%, Malásia, com US$ 27,8 milhões e 3,4% e Japão, com US$ 20,2 milhões, o que corresponde a uma parcela de 2,4%.
“No ano passado, a China ainda estava sob os efeitos da política de Covid Zero. Assim, as medidas de isolamento decretadas pela China em reação à pandemia dificultavam a retomada da economia doméstica, explicando, em parte, a redução das exportações à China, uma vez que a soja e o milho estão ligados ao consumo das famílias”, analisou o professor do curso de economia da Faculdade Anhanguera, Élcio Cordeiro da Silva.
O economista lembrou ainda que a economia chinesa foi ameaçada pelo risco constante de recessão dos seus parceiros comerciais, o que prejudicou o crescimento econômico do país asiático e levou à redução do ritmo de importações. Silva considerou também o período de estiagem enfrentado no Brasil no início de 2022, que reduziu a oferta de grãos, elevou os preços e forçou a China a buscar novos fornecedores.
Com base na lista dos principais produtos exportados pelo município, ressaltou o economista, é possível inferir que a balança comercial do município tende a ser beneficiada pelas exportações de commodities como consequência da queda, por exemplo, do preço médio da tonelada da soja em grão.
A melhora nos indicadores da balança comercial de Londrina fez com que o município aumentasse sua participação nas exportações do Estado, de 1,4% em 2022 para 3,7% neste ano. Na classificação dos municípios que mais exportam, no ano passado Londrina ocupava o 14º lugar e agora, subiu para a sexta colocação.
De acordo com um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística, Londrina é a terceira cidade paranaense que mais exporta pelo porto de Paranaguá, atrás apenas de Maringá e Ponta Grossa, primeira e segunda colocadas, respectivamente.
“A valorização do dólar nos torna muito mais competitivos lá fora, mas com o aumento do poder aquisitivo da população, no mundo todo, faz com que se alimentem melhor e daí a necessidade de se consumir mais grãos. O aumento nas nossas exportações é reflexo disso”, avaliou o presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre.
O presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Angelo Pamplona, lembrou que há cinco anos, o dólar estava cotado em cerca de R$ 3,87 e a valorização da moeda norte-americana nos últimos anos beneficiou as exportações. Além dos fatores econômicos favoráveis, Pamplona destacou o fortalecimento de alguns setores. "Hoje, Londrina tem um viés muito forte na área de inovação. Temos um sistema de inovação atuante e organizado e esse tipo de indústria exporta", comentou.
Pamplona acrescentou ainda que o estímulo dado pela Prefeitura de Londrina às empresas locais, por meio do programa Compra Londrina, fez com que muitos empresários se organizassem e se tornassem aptas também a exportar. "Nós, da Acil, também fizemos missões internacionais e incentivamos as empresas locais a exportarem. É um trabalho de formiguinha.”
Após anos seguidos de resultados ruins na balança comercial local, Londrina parece ter recuperado o fôlego nas negociações com o mercado externo, mas questões geopolíticas, como as disputas por territórios travadas entre Rússia e Ucrânia e Israel e Palestina preocupam. “Acompanhamos com preocupação porque as consequências dessas guerras podem ter reflexo em todos os setores da economia”, disse Pamplona.
El-Kadre citou o risco dos bloqueios econômicos e das sanções comerciais, o que poderia atingir em cheio o agronegócio brasileiro. Mas ele destacou as pesquisas que têm sido aceleradas no sentido de tornar o Brasil cada vez mais independente de insumos importados. “Avançamos muito em relação aos biodefensivos, adubos e compostos para recomposição do solo. O Brasil está muito atento a isso.”
Volume de importações londrinense recua 45,6% em 2023
Entre janeiro e setembro de 2023, as importações londrinenses recuaram 45,6% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Nos primeiros nove meses de 2022, a balança comercial local indicava US$ 1.279,35 bilhão em importações contra US$ 357,12 milhões em vendas ao mercado externo, com um déficit acumulado de US$ 922,23 no período.
Neste ano, as transações se inverteram e, até agora, as importações somam US$ 523,44 milhões enquanto as exportações deslancham, totalizando US$ 823,46 milhões.
Na lista dos principais produtos importados, os inseticidas, rodenticidas, fungicidas, herbicidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento para plantas, desinfetantes e produtos semelhantes lideram, com 50% do total, o que corresponde a US$ 263 milhões. Em segundo lugar, estão os compostos heterocíclicos, exclusivamente de hetero-átomos de azoto, com 9,9%, somando US$ 52 milhões, seguidos por partes reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinas a determinado grupo de máquinas e aparelhos, os quais respondem por 6,4% do volume de exportações, totalizando US$ 33,7 milhões.
Quase metade de tudo o que foi enviado a Londrina por países estrangeiros vem da China, que responde por 47% das importações, o correspondente a US$ 248 milhões. Abaixo, estão Israel, com 24% e US$ 126 milhões, e Estados Unidos, com 4,5% e US$ 23,6 milhões.(S.S.)