O aumento em até R$ 3,00 do preço do botijão de 13 kg do gás de cozinha deve acontecer de forma gradativa, mas não deve se sustentar por muito tempo, segundo a Federação Nacional das Revendedoras de Gás Liquefeito de Petóleo (Fergas) e alguns revendedores londrinenses consultados pela Folha de Londrina. Anunciada na semana passada pelas revendas, e supostamente promovido de forma aleatória pelas distribuidoras, a alta no preço do gás foi interpretada pelas revendas como uma represália à portaria encaminhada pela Fergas à Angência Nacional de Petróleo (ANP) sugerindo a possibilidade de os revendedores trabalharem com mais de uma marca de gás.
O presidente da Fergas, Álvaro Chagas, acredita que o aumento osquestrado pelas distribuidoras deve acontecer de forma gradativa e diluída em pelo menos duas semanas. ''As altas virão de real em real, uma distribuidora de cada vez. Assim fica mais dífícil para o governo detectar algum tipo de ação cartelizada''.
Segundo Lourival Modesto, dono de uma revenda de gás em Londrina, a teoria de Chagas já está se concretizando. ''Como foi dito na semana passada, a Nacional Gás Butano foi a primeira a promover o aumento, seguida nesta semana pela Minas Gás, Ultragás e Liquigás''.
O superintendente da Nacional Gás Butano e diretor do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás (Sindigas), Maurício Martins, não confirmou alta no preço do produto, mas admitiu a possibilidade de alguma revenda ter perdido descontos proporcionados pela distribuidora para facilitar a entrada em novos mercados. ''A retirada de descontos é uma política corriqueira da Nacional Gás e pode ter sido interpretada como reajuste''.
A alegação de retirada de desconto, porém, foi rebatida com indignação pelo presidente da Fergas. ''Então depois de nove meses de desconto a benefício é retirado? Se fosse um fato isolado, tudo bem, mas todas as distribuidoras retirarem os descontos na mesma semana é, no mínimo, suspeito'', disse Chagas.
Segundo ele, o fim do benefício seria uma '' alegação estapafúrdia'', com o objetivo de verticalizar o mercado de comercialização de gás. ''Eles sabem da situação ruim que as revendas atravessam e estão abusando do poder econômico''. De acordo com dados da Fergas, 40% das revendas do País estão em situação de inadimplência com as distribuidoras.
Lourival Modesto não acredita, porém, que a alta do gás vá durar por muito tempo. ''Como disse antes o presidente da Angas, uma alta sem respaldo político da ANP ou da Petrobras não pode durar muito tempo. Logo uma distribuidora vai furar o esquema e todas as outras irão atrás, de novo''.
O mercado de comercialização de gás de cozinha no Brasil é controlado por quatro grandes grupos empresariais, donos das 16 maiores distribuidoras do País. Juntas, essas empresas respondem por 89% do mercado, segundo o Sindigas, ou 96%, de acordo com a Fergas. O setor já está sendo investigado pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Fazenda por possível formação de cartel.