Os materiais usados na construção civil são em grande parte nacionais, e por isso mais passíveis de serem afetados pela alta na tarifa de energia
Os materiais usados na construção civil são em grande parte nacionais, e por isso mais passíveis de serem afetados pela alta na tarifa de energia | Foto: Istock

O aumento de mais de 20% na bandeira vermelha da conta de luz, informado na última terça-feira (15) pelo diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), André Pepitone, preocupa o setor da construção civil.

O principal impacto deve vir por meio dos materiais utilizados nas obras. Alguns deles demandam alto consumo de eletricidade durante a fabricação e esse custo deverá chegar aos canteiros.

O alumínio é apontado como a matéria-prima que mais demanda energia, com cerca de 50% do seu custo de produção atribuído ao consumo de eletricidade, seguido pelo cimento e o aço.

Isso atinge o setor em um momento já complicado de aumento de preço dos insumos. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) chegou a 15,25% no acumulado dos últimos 12 meses, e alguns materiais subiram muito acima disso.

A Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) pontuou, em nota, que manifesta preocupação com as notícias sobre aumento da tarifa de energia. "O tema é bastante sensível à indústria de materiais de construção, sobretudo para alguns setores, como o siderúrgico, cerâmico e de vidros", afirmou.

Os materiais usados na construção civil são em grande parte nacionais, e por isso mais passíveis de serem afetados pela alta na tarifa de energia. Devido ao aumento de custos dos materiais, o setor de construção civil já vem tentando ampliar a importação de matérias-primas, solicitando a diminuição de impostos.

Outro efeito temido da alta no custo da eletricidade é a redução do poder de compra dos clientes. A Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) compartilha dessa preocupação. "Quando o bolso encolhe, a capacidade de fazer investimentos se reduz", diz José Carlos Martins, presidente da entidade.

A conta de luz das próprias construções também vai subir, mas seu efeito sobre o setor deve ser menor do que a alta das matérias-primas.

Vice-presidente do Secovi-PR (Sindicato da Habitação e Condomínios) Regional Norte, Marcos Moura afirma que o impacto do aumento da energia preocupa o setor. "Logicamente preocupa a gente, porque somos reféns ainda da energia de usinas. Não temos autossuficiência em energia renovável, o Brasil ainda está engatinhando nessa área. Por isso, as empresas acabam tendo que colocar geradores e consumir energia das usinas. O custo fica mais alto."

Porém, Moura diz acreditar que o impacto será sentido de forma momentânea e que a alta dos preços dos materiais de construção devido à pandemia já estava afetando o setor. "A situação da pandemia acabou atrapalhando tudo, os materiais de construção ficaram mais caros, cimento, tijolo, ferro. Desequilíbrio vai ter, com certeza, mas também é coisa momentânea. Voltando as chuvas, as coisas retornam ao patamar normal."

No ano passado, o vice-presidente do Secovi-PR diz que a alta não foi repassada ao setor. "No ano passado, não sentimos isso no mercado. O que percebemos é que não foi repassado para o mercado. O risco é se tiver continuidade em um espaço muito grande. Do contrário, acredito que não vamos ter uma dificuldade gigantesca." (com Folhapress).