Os produtores de leite paranaenses passaram a ser mais cobrados pelas condições sanitárias desde o último dia 1º de novembro, mas também a ter a expectativa de aumentar a eficiência e até ganhar mercados no exterior. Depois de seis meses da entrada em vigor das Instruções Normativas 76 e 77, do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), os órgãos de fiscalização estão autorizados a exigir métricas de limpeza e qualidade. Em caso de descumprimento, serão advertidos ou até ter o produto descartado.

Os produtores devem entregar o leite com temperatura de até 4ºC, para evitar a proliferação de bactérias, além dos cuidados com o  animal para evitar a mastite
Os produtores devem entregar o leite com temperatura de até 4ºC, para evitar a proliferação de bactérias, além dos cuidados com o animal para evitar a mastite | Foto: iStock

O processo é mais uma etapa para igualar as exigências para a cadeia leiteira do País aos padrões dos principais países exportadores do produto e de derivados. Assim, há a expectativa de que os pecuaristas possam investir mais no aumento da capacidade produtiva, ter maior eficiência e reduzir custos. Com mais competitividade,eleva-se a chance de direcionar a produção excedente para o exterior e se evita as quedas abruptas de preço internamente, causadas pelo excesso de oferta.

Será rejeitado o leite que apresentar uma média superior a 300 UFC/ML (Unidade de Formação de Colônia por milímetro), ou a 500 mil células somáticas por ml no caso do leite cru refrigerado. Ainda, o líquido entregue na indústria deve apresentar índices mínimos de 3% de gordura, 2,9% de proteína e 4,3% de lactose.

Os exames periódicos serão feitos nos laticínios, que também devem seguir regras específicas pelas duas normas. Os produtores devem entregar o leite com temperatura de até 4ºC, para evitar a proliferação de bactérias. A indústria deve receber a uma temperatura de 7ºC, com margem de mais 2ºC em casos excepcionais e não repetidos.

Na prática, a visão de representantes da cadeia no Paraná considera que a pouca coisa muda para a grande maioria dos pecuaristas da região, que são profissionalizados e entregam um produto de referência. O Estado é o segundo maior produtor de leite do País, com 4,4 bilhões de litros em 2018, atrás apenas de Minas Gerais, segundo números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O diretor de pecuária de leite da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Bernardo Garcia de Araújo Jorge, afirma que não apenas o Paraná, mas todos os estados do Sul avançaram muito em qualidade e sanidade na produção leiteira. “Encarecer a produção, [a nova legislação] não vai, mas vai consolidar um processo que já é padrão no resto do mundo”, diz.

Jorge considera que a maioria dos pecuaristas do Estado já trabalham dentro das novas normativas. “O produtor tende a ter um produto de melhor qualidade e essas normas evitam que ocorra mastite, que é o que mais gera gasto na produção de leite”, conta o diretor da SRP.

O gerente operacional de Desenvolvimento Rural da Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural), os treinamentos buscam orientar produtor e indústria a fazer o controle de células somáticas, que é a mastite. Também há o controle bacteriano total, que é principalmente a higiene no processo de ordenha e limpeza dos equipamentos.

Para o produtor Louis Baudraz, de Rolândia, quem está na ativa já deveria trabalhar conforme as orientações. “Isso deve ajudar para que, no futuro, possamos exportar. Quando produzíamos mais, mas somente dependendo do mercado interno, o preço caía.”

Baudraz considera que as mudanças geram custos em investimentos e treinamentos, mas que deve melhorar a produção e gerar ganhos financeiros também. “O produto mais nobre garante retorno melhor, mas é importante trabalhar junto à indústria para que ambos ganhem. Antigamente, o leite era vendido in natura e um pouco virava muçarela, mas hoje existe uma diversidade de derivados em que dá para agregar valor”, completa.

Alerta vale mesmo para venda apenas no município

Mesmo que a maioria dos produtores paranaenses estejam cientes das mudanças, a Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) alertar que todos precisam se adaptar. O órgão promoveu 179 eventos de instrução, com treinamento de 11,5 mil produtores e representantes de laticínios, em 23 núcleos do órgão no Estado.

“Esse tipo de providência sanitária era gestada pelo Mapa pelo menos desde 2012, mas não era cobrada. Com a edição das normativas a secretaria intensificou a capacitação dos produtores”, diz o zootecnista Ademir Gracciotim, do Deagro (Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável) da Seab.

Apesar do risco de descarte de leite com inconformidades, ele diz que o produtor somente será impedido de fornecer depois de três avaliações, feitas em três meses diferentes. “Para voltar a vender à indústria, terá de ser aprovado em outra avaliação”, conta Gracciotim. O principal risco, porém, é entregar o produto com temperaturas acima do permitido. “Mas a assistência técnica trabalha todas essas questões como rotina. O que pode mudar é exigir um pouco mais de higiene.”

A Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) fiscaliza em torno de 76 laticínios de médio porte que comercializam produtos no Estado e a maioria apresenta procedimentos em conformidade com a legislação. Os laticínios e indústrias que comercializam produtos somente no município são fiscalizados pelo SIM (Serviço de Inspeção Municipal). E os estabelecimentos que colocam seus produtos no território nacional e para exportação são fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura. (F.G.)