Ariel Palacios
Agência Estado
De Buenos Aires
Após nove meses de persistente resistência, a Argentina decidiu suspender as salvaguardas contra os têxteis importados do Brasil.
Implementada em julho do ano passado, a resolução 861/99 estabeleceu salvaguardas que determinaram cotas contra este produto proveniente do Brasil. Esta medida restringiu a entrada de têxteis brasileiros, principalmente os tecidos planos como o algodão e a sarja. Além disso, a resolução foi o estopim de uma sequência de conflitos que se ampliaram rapidamente a outros setores, e que chegaram a causar especulações nos dois países de que a permanência do Mercosul estava ameaçada. No entanto, graças à resolução do Tribunal Arbitral do Mercosul, a Argentina foi obrigada a suspender as salvaguardas.
Mesmo assim, o governo argentino tentou driblar o Tribunal, e demorou a suspensão por 15 dias mais, enquanto tentava conseguir que empresários dos dois países chegassem a um acordo setorial. O acordo ainda não foi conseguido, mas o affair dos têxteis terá uma atenção especial nas próximas reuniões de negociadores do Mercosul. Os argentinos querem que este setor – que em seu país não se modernizou – esteja protegido temporariamente.
O anúncio da suspensão das salvaguardas foi feito pelo vice-chanceler argentino, Horacio Chighizola. Segundo ele, a suspensão era ‘‘iminente’’.
Em troca disto, Chighizola declarou que espera que o Brasil ‘‘cumpra com seu pacto de cavalheiros’’ e retire o pedido de formação de um painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Argentina. Nas últimas semanas, os negociadores argentinos haviam pedido ao Brasil a remoção das reclamações contra seu país, já que elas se constituíam em ‘‘uma mancha’’ dentro do sistema comercial, e muito mais por serem provenientes de um país-sócio.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Economia, a suspensão poderia ser realizada ontem. O prolongamento da demora se deve ‘‘a que o governo argentino está tentando encontrar um mecanismo que proteja a indústria local’’. Isto evidenciaria alguma manobra argentina para driblar, pelo menos em parte, a decisão do tribunal.