Anac suspende transporte aéreo de cargas dos Correios
Decisão foi motivada por incidente em avião no ano passado, que transportava baterias de de íon de lítio
PUBLICAÇÃO
domingo, 01 de junho de 2025
Decisão foi motivada por incidente em avião no ano passado, que transportava baterias de de íon de lítio
Daniele Madureira - Folhapress

SÃO PAULO, SP - A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu todos os voos dos Correios dedicados ao transporte de cargas, por falhas na segurança. A informação foi antecipada pelo UOL e confirmada pela Folha de S. Paulo.
A decisão da agência foi motivada pelo incidente com um avião que fazia o trajeto de Vitória (ES) a Guarulhos (SP) em 9 de novembro do ano passado, que teve um incêndio em pleno voo, oito minutos antes de aterrissar, forçando os pilotos a fazerem um pouso de emergência. Os dois tripulantes conseguiram escapar em segurança, mas a aeronave ficou danificada.
A Total trabalha com voos fretados e tem os Correios como único cliente em transporte de cargas. Para esta finalidade, a estatal também contrata os serviços da Sideral Linhas Aéreas. As empresas foram procuradas pela reportagem da Folha para se pronunciarem a respeito da decisão da Anac, mas não retornaram até o fechamento deste texto.
De acordo com as investigações do incidente em Guarulhos, a aeronave carregava uma carga de baterias de íon de lítio, usadas em equipamentos eletrônicos -como celulares, tablets e notebooks-, mas também em veículos elétricos e sistemas de energia solar fotovoltaica. As baterias de íon de lítio contêm um eletrólito líquido que pode inflamar e causar incêndio em caso de superaquecimento, danos físicos ou defeitos de fabricação.
O transporte aéreo desse tipo de produto não é proibido, mas exige cuidados adicionais -como um volume restrito de baterias, que devem permanecer separadas de outras cargas.
A decisão da Anac suspende os voos da Total e da Sideral para os Correios a partir da próxima quarta-feira (4). Mas a Folha apurou que a Total pretende tentar reverter a suspensão, entregando um documento à Anac em que se compromete a assumir a segurança operacional da carga transportada pelos Correios.
A princípio, a companhia aérea não sabe qual a natureza da carga que transporta para os Correios - que entrega os volumes em pacotes lacrados para o voo. A estatal, no entanto, precisa alertar a aérea sobre a existência de materiais perigosos. Após o incidente, as cargas dos Correios passaram a ser inspecionadas em sistemas de raio-x.
Desde abril de 2016, a Anac proibiu o transporte de baterias de íon lítio como carga em aeronaves de passageiros no Brasil. A proibição seguiu determinação da OACI (Organização de Aviação Civil Internacional), que também determinou restrições para o transporte do material em aviões cargueiros.
A proibição se baseou em testes realizados pelas três principais fabricantes de aviões (Airbus, Boeing e Embraer), que apontaram que as aeronaves não foram projetadas para combater o fogo proveniente de baterias de íon lítio. De acordo com os testes, uma única bateria danificada ou em curto-circuito é capaz de propagar combustão e comprometer as demais baterias do carregamento.

