Luiz Henrique Fernandes assumirá com outros sócios a administração do frigorífico:  “Temos uma cadeia produtiva que precisa se fechar, e estamos na metade do caminho"
Luiz Henrique Fernandes assumirá com outros sócios a administração do frigorífico: “Temos uma cadeia produtiva que precisa se fechar, e estamos na metade do caminho" | Foto: Ricardo Chicarelli

Com expectativa de gerar empregos, ampliar a renda a produtores rurais e desenvolver economicamente a região, Alvorada do Sul, na Região Metropolitana de Londrina, planeja inaugurar até janeiro um frigorífico de peixes com capacidade inicial de abater 6 toneladas (t) de tilápia ao dia. O projeto está em andamento há dez anos, consumiu cerca de R$ 5 milhões em investimentos públicos e foi concedido à iniciativa privada, mas ainda depende de algumas adaptações para entrar em funcionamento.

Serão criados 50 postos de trabalho inicialmente, com expectativa de dobrar o número em até dois anos, segundo o secretário municipal de Agricultura e Pesca, Valteir Bazzoni. Ele afirma que cada emprego direto resultará em mais dois indiretos nas propriedades rurais, além de aumentar o interesse de pequenos agricultores na criação, principalmente, de tilápias.

Segundo o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento), a produção de peixes na região Norte do Paraná pouco evoluiu nos últimos dez anos. O volume de tilápias abatidas nas regiões de Londrina, Maringá e Cornélio Procópio girou no período em torno dos 7,8 mil t registrados no ano passado. Nos mesmos dez anos, a região Oeste saltou de pouco menos de 20 mil para 100,6 mil t, principalmente pelo apoio de cooperativas como a Copacol e a C.Vale.

Pelo desenvolvimento no Estado, o interesse na atividade não é exclusivo de Alvorada. Cornélio Procópio e Pinhalão, ambos no Norte Pioneiro, também buscam colocar em funcionamento frigoríficos próprios, mas com projetos que não decolaram ou estão inconclusos. Bazoni afirma, porém, que a proposta de Alvorada deve sair do papel nos próximos meses e mudar a realidade econômica da região. “A estrutura física comporta 100 t dia, há espaço para máquinas, para crescer, e fomos conhecer os projetos de outras regiões”, diz.

A solução foi usar recursos de convênios estaduais e federais, não-reembolsáveis, além de dinheiro do município para a construção. Depois, a prefeitura promoveu uma concorrência pública por licitação, para conceder a estrutura por 30 anos à iniciativa privada.

O prefeito Marcos Pinduca (PMDB) afirma que a expectativa é chegar a 200 empregos diretos nos próximos anos. “Vai ser instalada uma linha de abate e há espaço para quatro”, conta. Ele diz que o começo do projeto ocorreu de uma demanda dos produtores da própria região e atraiu interessados na concessão até de Manaus (AM). “Por sorte, caiu nas mãos de pessoas daqui, que conhecemos, que são produtores e têm muito conhecimento técnico.”

A Estância Alvorada, que tem quatro sócios que atuam com piscicultura e têm um pequeno frigorífico na cidade, assumirá o controle e deve investir entre R$ 500 mil e 800 mil em equipamentos, caminhões e novos processos, diz o empresário Luiz Henrique Fernandes. O grupo tem hoje 27 funcionários e produz 100 t por mês, em uma área de tanques-rede de quatro hectares, na represa Capivara. “Temos hoje um frigorífico inspecionado, com SISB [Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal], mas é pequeno e uma parte da nossa produção que abatemos aqui. O restante temos de comercializar para fora do frigorífico.”

Fernandes conta que procurou o prefeito ainda em 2006, quando Pinduca também estava no cargo, para falar sobre a necessidade de a região contar com um frigorífico que agregasse valor aos peixes da região. “Temos uma cadeia como as outras, que precisa se fechar, e estamos na metade do caminho, porque fazemos produção e não temos o destino adequado. É diferente do pessoal do Oeste, que tem várias unidades de abate, onde se transforma o produto em filés, postas e peixe inteiro, que é diretamente colocado para o consumidor”, explica.

O sócio da empresa afirma que tem experiência com a comercialização pelo frigorífico pequeno que mantém, que não faltará demanda, mas que pretende contar com uma equipe comercial grande. O próximo passo na relação com produtores será buscar a integração, com fornecimento de ração e alevinos, além do recebimento do peixe. “É o único caminho, que vai dar segurança, tranquilidade para o nosso produtor”, cita Fernandes.

O projeto está em andamento há dez anos, consumiu cerca de R$ 5 milhões em investimentos públicos
O projeto está em andamento há dez anos, consumiu cerca de R$ 5 milhões em investimentos públicos | Foto: Ricardo Chicarelli

Proposta prevê fomento a criação em tanques escavados

A Prefeitura de Alvorada do Sul também fechou uma parceria com a Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) para dar assistência também a agricultores que desejem criar tilápias em tanques escavados, em propriedades que não estão à margem da represa Capivara. O município fornecerá o maquinário para fazer o tanque e o órgão estadual montará o projeto de viabilidade econômica com os futuros piscicultores.

Há um grupo de produtores interessados, mas o técnico da Emater na cidade, Reinaldo Neres dos Santos, afirma que é preciso evitar aventuras e esperar a viabilização do frigorífico. “Minha preocupação é por ser uma atividade de campo, que tem períodos favoráveis e complicados, um custo alto, então é um desafio”, conta Santos. “Existe muita gente que não é ligada à agricultura e que quer investir na criação na represa ou em tanques escavados”, completa.

Ele conta que um grupo de 30 agricultores do Assentamento Iraci Salete participaram de uma reunião, promovida pela Emater, para que conhecessem a atividade. “Vamos precisar ter um olho clínico para definir quem terá condições de pensar em produção comercial, de escala, e acho que serão uns oito. Os demais podem não ter os recursos.”

O técnico do órgão considera, porém, que o potencial da região é enorme. Ele também defende um processo de integração, com o frigorífico mais ligado ao fornecimento de ração, por exemplo. Nesse sentido, o prefeito Marcos Pinduca afirma que há uma cooperativa de Londrina e uma de Maringá interessadas no projeto e que podem participar dessa integração no futuro. “Já conseguimos um registro do SIF [Serviço de Inspeção Federal] desse frigorífico, que é para exportar, e falei com uma cooperativa que não quis entrar no projeto ainda porque tem mais dois anos de investimentos em silos planejados”, conta.

ESPERANÇOSO

O produtor de tilápia e empresário Wesley Santoro tem hoje 120 tanques-rede com capacidade de até 750 kg, cada, em Alvorada do Sul. Porém, diz que o preço baixo nos últimos dois anos fez com que muitos dos piscicultores da região diminuíssem a produção para não ficar no prejuízo.

A vantagem que Santoro encontrou na atividade é que fornece peixes para o próprio restaurante na cidade. "Estamos esperançosos com o frigorífico local, porque vai demandar os peixes da nossa região, com preço decente e, quem sabe, poderemos formar uma cooperativa como em outras regiões, onde o sistema funciona melhor." (F.G.)