Aluguéis poderão ser reajustados em 35,75% pelo IGP-M em julho
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quarta-feira, 30 de junho de 2021
Vitor Ogawa - Grupo Folha
Os contratos de locação em andamento, com aniversário em julho e correção pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), medido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), poderão ser reajustados em 35,75%. Com ligeira alta de 0,60% no mês de junho, fecha-se o comportamento dos preços no período de 12 meses compreendido entre julho de 2020 e junho de 2021. Para efeitos comparativos, no ano passado esse índice fechou o ano de 2020 em 23,14%, que já havia sido a maior alta desde 2002. Nos cinco anos anteriores ao período da pandemia esse índice ficou entre 5% e 7%.
Caso o reajuste do aluguel seja repassado integralmente pelo IGP-M, um aluguel de R$ 1,5 mil que vigorou até junho de 2021, realiza-se a multiplicação de R$ 1.500,00 por 1,3575, que resultará em R$ 2.036,25, que corresponde ao valor a ser pago no final do mês de julho ou início de agosto de 2021. Vale lembrar que 90% dos contratos de locação no Brasil são regidos pelo IGP-M, segundo estimativas do Secovi-SP.
O economista e professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) em Londrina, Marcos Rambalducci, explicou que o IGP-M realmente pode impactar significativamente o valor do reajuste do aluguel, muito mais do que o impacto na mesma época do ano passado, quando atingiu 23,14% de inflação no acumulado de 12 meses.
Ele ressaltou que este índice, calculado pela FGV, leva em consideração o Índice de Preços no Atacado (60%), o Índice de Preços ao Consumidor (30%) e o Índice de preços da Construção Civil (10%). “É o mais próximo da inflação real de temos, pois considera uma gama ampla de bens e serviços.”
“O que temos visto em termos de reajuste é que é praticamente impossível fazer o repasse do IGP-M cheio para o contrato dos aluguéis. As empresas com dificuldade em sobreviver e as altas taxas de desemprego e perda de renda vão impedir a maior parte deste reajuste. Caso o locatário não negocie, certamente perderá o inquilino e poderá ficar alguns meses sem conseguir alugar seu imóvel. A melhor solução para ambos é a negociação.”, expôs.
Segundo ele, o processo de negociação é de caráter muito particular. “Mas utilizar a correção pelo IPCA (entre 8 e 9%) parece uma boa estratégia para ambos”, orientou. Rambalducci explicou que o aluguel representa 20% do gasto das famílias que não têm casa própria.
“Qualquer que seja o índice de reajuste, trará impactos muito significativos. E quanto menor a renda familiar, maior será este impacto. A negociação visa atenuar este impacto, mas qualquer índice de reajuste acabará por subtrair uma parcela da renda que poderia ser utilizada para outras despesas. E não é somente o aluguel que sobe mais que o salário. Os alimentos em Londrina, considerando o valor da cesta básica, tiveram elevação de 20,6% na comparação de junho de 2020 e junho de 2021. Então, essa soma de perdas, aflige mais ainda a renda das famílias”, destacou o economista.
Leonardo Baggio, vice-presidente de locação do Secovi-PR, afirmou que o IGP-M não está refletindo a verdadeira inflação do mercado de locações do Paraná. “Percebemos que está muito mais para o IPCA, em torno dos 8%”, ressaltou. “Temos orientado as imobiliárias associadas para fazer uma mediação entre o inquilino e o proprietário. E tem tido um resultado bem legal. De um lado, é uma empatia bem grande dos proprietários e pedimos o bom senso por parte dos inquilinos para entender que os proprietários muitas vezes precisam dos aluguéis como renda para sobreviver. As imobiliárias têm tido bastante sucesso nessas negociações”, destacou. “Nos próximos 12 meses o cenário é de total incerteza. Acredito que a pandemia já está no fim, mas a gente sabe que a qualquer momento pode chegar uma nova onda e temos que estar preparados. Nosso cenário vai acompanhar o cenário macroeconômico como um todo”, apontou.