A alta taxa de juros, fixada desde agosto do ano passado em 13,75% ao ano, desestimula os financiamentos de bens como imóveis e veículos, mas contribui para alavancar as vendas de consórcios. O setor vem registrando resultados positivos desde o segundo semestre de 2020 e não dá sinais de arrefecimento. Após fechar o primeiro quadrimestre do ano com crescimento de 20,5% na comparação com o mesmo período de 2022, o balanço de maio demonstra o fôlego do sistema para continuar avançando. Dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) apontam aumento de 10,9 % no número de consorciados ativos entre maio de 2022 e maio de 2023, chegando a 9,56 milhões, um recorde histórico do segmento.

No período de janeiro do ano passado a março deste ano, o sistema de consórcios registrou 15 meses consecutivos de expansão no total de participantes ativos. Em abril, houve uma retração, fechando com 9,44 milhões de consorciados, mas em maio voltou a crescer. Nos primeiros cinco meses de 2023, o volume de créditos comercializados no país somou R$ 115,52 bilhões. Os destaques foram os consórcios de imóveis, com alta de 17,3%, e os de veículos pesados, com 15,3% de aumento.

A taxa Selic é um dos fatores que ajudaram a alavancar as vendas de consórcios, mas não o único, conforme avalia o presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi, em material divulgado pela assessoria de imprensa da entidade. O balanço do setor, afirmou ele, reflete a maior consciência sobre educação financeira do consumidor agregada à gestão das finanças pessoais e a uma gradativa melhoria do salário médio anual brasileiro. “Com mais planejamento em suas compras, ele, o consumidor tem procurado não se levar pelos impulsos dos imediatismos nas compras, assumindo apenas aqueles compromissos capazes de serem suportados no orçamento mensal.”

A ausência de juros, com a cobrança apenas de taxa administrativa, prazos mais longos para pagamento e custo final menor, têm atraído os consumidores que, quando contemplados, podem se valer do poder de compra ou de barganha para concretizar seus negócios. “Estar de posse de carta de crédito é o mesmo que ter dinheiro na mão para compra à vista”, ressaltou Rossi.

PARANÁ

No Paraná, no primeiro trimestre deste ano houve expansão de 16,7% em relação a igual período de 2022 nas vendas de consórcios. Segundo levantamento da Abac, março fechou com 75.408 cotas vendidas. Em número de cotas ativas, as administradoras paranaenses registraram expansão de 11,7% no período, saltando de 716.070 para 799.736.

Sediada em Londrina, a administradora paranaense Consórcio União acompanha o crescimento do setor e entre janeiro e março deste ano, contabiliza alta de 10,4% sobre o primeiro trimestre de 2022 em volume de créditos comercializados. O diretor comercial da empresa, José Roberto Luppi, diz que os números do setor demonstram a “resiliência” do sistema de consórcios. Com uma taxa Selic tão elevada, de 13,75% ao ano, os consórcios se apresentam como um meio mais atrativo de realização de sonhos, como a compra da casa própria ou do carro novo, por serem reajustados anualmente pelo índice inflacionário – IPCA para os veículos e INCC para os imóveis. “Quem quer comprar um bem financiado, não vai comprar com essa taxa de juros. Vai para o financiamento aquele que talvez precise de mais emergência na compra. E com uma taxa de juros mais baixa, quem investe na poupança compra o consórcio para investimento porque dá mais rentabilidade”, analisou Luppi. “O consórcio tem atratividade em movimento de juros altos ou baixos.”

INVESTIMENTO

O empresário Julio Cesar Folego é um exemplo de consumidor que utiliza o consórcio como investimento. Ele adquiriu a primeira cota em 2010, aos 19 anos, ao considerar que esse seria o caminho mais rápido para que pudesse realizar o sonho de comprar um carro zero quilômetro. Além de ajudar o pai e a mãe no trabalho de feirantes e vender roupas de porta em porta, em Ibiporã, onde a família reside, durante a semana ele trabalhava em uma ótica de Londrina, onde recebia R$ 600 de salário para cuidar dos carros dos clientes. Do salário mensal, R$ 200 eram destinados ao pagamento de um consórcio. “Fui contemplado em uma carta de R$ 38 mil e comprei um Gol zero.”

Desde então, parte do dinheiro que Folego ganhava era investido em consórcios. Dessa forma, ele conseguiu aumentar consideravelmente seu patrimônio e hoje, aos 32 anos de idade, tornou-se um empresário. Com a soma de várias cartas de crédito, ele construiu um centro comercial com mais de dez salas térreas e, em cima do empreendimento, o apartamento onde vive com o pais.

A assiduidade na compra de cotas lhe rendeu uma viagem ao Chile, em 2014, bancada pela administradora de consórcios. “Dei meu primeiro passo lá atrás e invisto em consórcios até hoje. Nunca imaginei que poderia conquistar tudo isso. Com as cartas de crédito, eu antecipo minhas conquistas. Só invisto meu dinheiro em consórcio de imóvel. A carta rende. Tem os reajustes anuais, mas a carta valoriza e acompanha o mercado de imóveis”, ensinou o empresário que atualmente também ingressou no ramo de venda de consórcios. O escritório fica em uma das salas comerciais administradas poro ele e para convencer os potenciais clientes, utiliza como exemplo a sua própria experiência. “Meu capital multiplicou muito. Quando as pessoas me perguntam se o consórcio é um bom investimento, aponto para o centro comercial que construí. Tudo com as cartas de crédito do consórcio.”