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Economia 5m de leitura

Alta no preço de medicamentos e insumos chega até 150% em hospitais

Falta de matéria prima, aumento na procura, inflação e variação cambial impulsionaram os preços

ATUALIZAÇÃO
22 de janeiro de 2022

Simoni Saris - Grupo Folha
AUTOR

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A falta de matéria prima para produção de medicamentos, a grande procura por insumos hospitalares, a variação cambial e a alta da inflação registrada nos últimos dois anos, elevaram os custos de manutenção dos hospitais. No primeiro semestre do ano passado, quando o Brasil viveu o auge da pandemia de Covid-19, com a imunização da população ainda em fase inicial, o agravamento dos casos clínicos e a superlotação nos hospitais, os preços de remédios e EPIs (equipamentos de proteção individual) dispararam. Alguns medicamentos chegaram a subir mais de 1.500% entre 2020 e 2021 e o HU (Hospital Universitário) de Londrina teve um aumento de quase 150% nos valores empenhados na comparação com o período pré-pandemia.  

Um levantamento apontou alta de 5,96% no preço dos medicamentos no país em 2021. A variação foi medida pelo IPM-H (Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais), indicador criado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em parceria com a Bionexo, empresa que atua na área de soluções digitais para gestão em saúde. O resultado aponta crescimento abaixo da inflação de 10,06% no período, calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas no dia a dia das instituições de saúde, as planilhas de controle financeiro mostram um aumento bem mais significativo nos custos gerais de manutenção. 

Em 2019, antes da pandemia, o HU de Londrina empenhou R$ 39 milhões para cobrir as despesas da unidade. Em 2020, o valor empenhado cresceu 38,46% e chegou a R$ 54 milhões. No ano passado, quando houve o agravamento da situação epidemiológica, os custos subiram para R$ 96 milhões - alta de 146% na comparação com o período pré-pandemia. A verba orçamentária é destinada ao custeio de todos os gastos da instituição, da compra de papel higiênico a medicamentos. Mas segundo a diretora administrativa do HU, Daiane Cardoso, a maior parte desse valor foi usada na compra de material hospitalar e medicamentos.  

KIT INTUBAÇÃO 

Um exemplo do efeito da pandemia nos custos da instituição de saúde é o fentanil, um dos medicamentos que compõem o kit intubação. A ampola, que em 2020 custava R$ 5,07 a unidade, a partir de abril do ano passado, no pico da doença, chegou a R$ 48,50, uma alta de 856%. E além da explosão no preço, houve a falta do medicamento. “Vários fatores levaram a isso, a oscilação cambial, o aumento exponencial do consumo, tendo em vista a gravidade da pandemia. Quando começou o agravamento da doença e as pessoas começaram a precisar de intubação, os antibióticos, os sedativos, os relaxantes neuromusculares e os EPIs - máscaras, aventais, luvas – tiveram alta em torno de 300%”, disse Cardoso. “Esses insumos sumiram do mercado mundial devido ao alto consumo. A China e a Índia, que detinham a matéria-prima, precisavam produzir em larga escala e vimos a vulnerabilidade do sistema produtivo nacional. Os laboratórios locais não tinham como produzir. E ainda teve a alta do dólar.” 

De forma geral, se analisada toda a gama de materiais hospitalares e medicamentos, a alta nos preços foi de 70%, calculou o gerente financeiro da Santa Casa de Londrina, Manoel Velasco Junior. “Não foi só o valor, foi também a questão do consumo. Tivemos uma mudança grande no perfil de gastos de produtos. A luva teve um aumento exacerbado de preço. Hoje, a caixa que custava R$ 14, custa R$ 30, mas cheguei a pagar R$ 96 (585% de aumento). Antes da pandemia, eram 600 caixas por semana. Agora, são 800”, comparou. 

Entre os medicamentos, um dos mais básicos teve alta expressiva no período. A dipirona injetável, cuja ampola de cinco mililitros custava R$ 0,50, na semana passada era vendida por R$ 5,78, uma diferença de 1.056%. O rocurônio, sedativo amplamente utilizado para auxiliar na intubação de pacientes, antes da pandemia custava R$ 12 a ampola. No auge da doença, em 2021, chegou a custar R$ 195, aumento de 1.525%. Hoje, baixou para R$ 30, mas o valor ainda está 150% acima do praticado há dois anos.   

PREJUÍZO 

Velasco destacou, no entanto, que as maiores altas foram observadas nos materiais descartáveis, como luva, máscara, touca e avental. Os gastos com esses itens dobraram desde 2019. Para os hospitais filantrópicos, como a Santa Casa, que vivem “no vermelho”, a alta repentina nos custos resulta em um prejuízo ainda maior para as instituições. O último reajuste linear na tabela do SUS foi aplicado há 11 anos e há valores que permanecem inalterados há quase duas décadas. “Sem reajuste, os custos estão sendo absorvidos pelas instituições. O convênio não paga o EPI porque é equipamento de proteção do trabalhador.” O gerente financeiro calcula que o balanço de 2021 deva apontar um prejuízo duas vezes e meia maior que o prejuízo registrado em 2020. 

O IPM-H registrou oscilações ao longo de 2021, com crescimento no primeiro semestre seguido de seis quedas consecutivas, entre junho e novembro. Em dezembro, houve ligeiro aumento, com alta de 0,19%. “A sequência de seis quedas mensais seguidas em 2021 coincidiu com os avanços na imunização dos brasileiros e o maior da pandemia no país, o que reforça a relação entre o controle da pandemia e o comportamento dos preços dos medicamentos”, avaliou o CEO da Bionexo, Rafael Barbosa, por meio da assessoria de imprensa da empresa. “Nesse sentido, o avanço nos preços do ano passado pode ser atribuído em partes aos aumentos registrados entre março e maio, período que combinou o agravamento do quadro da pandemia e os reajustes nos preços (CMED, em abril)”, concluiu. 

O resultado do consolidado do IPM-H em 2021 foi menor do que o crescimento registrado em 2020, de 14,35%. Nos anos anteriores, as altas foram de 3,97% (2019), 4,97% (2018), 3,94% (2017) e 4,74% (2015). No entanto, desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, o IPM-H apresenta uma alta acumulada de 18,84%, impulsionada pelas variações positivas registradas nos preços de quase todos os grupos de medicamentos, sendo mais expressivas em aparelho digestivo e metabolismo (56,02%), sistema nervoso (48,99%) e aparelho cardiovascular (37,20%). 

“Os preços não vão cair enquanto tiver pandemia. Não vai haver redução nesse momento até porque o aumento hoje é em função da matéria prima que está em falta no mercado. Vai um tempo até estabilizar e reduzirem os preços, mas não voltarão aos patamares normais nunca mais”, afirmou Velasco.  

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