A elevação do dólar, a quebra da safra brasileira e mudanças na taxação da exportação de trigo por parte da Argentina devem salgar o pão francês do brasileiro e, em Londrina, o aumento deve chegar nos próximos dias. A avaliação é do Sindipanp (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitarias do Norte do Paraná), que prevê um reajuste de cerca de 4% no valor final do produto.

Elevação do dólar e quebra da safra brasileira de trigo estão entre os fatores que devem encarecer o pão, mas alta de energia elétrica e outros fatores também influenciam a cadeia produtiva
Elevação do dólar e quebra da safra brasileira de trigo estão entre os fatores que devem encarecer o pão, mas alta de energia elétrica e outros fatores também influenciam a cadeia produtiva | Foto: iStock

O presidente da entidade, Itamar Carlos Ferreira, afirma que o preço da farinha de trigo sofre pressão de alta há pelo menos três meses, desde a mudança nas políticas de exportação do presidente argentino Alberto Fernández, em dezembro de 2019.

Além disso, como o trigo é comprado em dólar, os moinhos devem repassar o aumento de custos para os panificadores, avisa ele. “Já está insustentável segurar o pão francês no preço atual. Já houve um aumento de 13% e deve vir outro, de mais 5%”, alerta Ferreira, que também faz um alento. “A alteração do preço do pão não será no mesmo patamar. Deve refletir em 3% ou 4%”, diz.

O saco de 25 quilos de farinha de trigo, que custava R$ 43,90 no fim do ano passado, está custando R$ 49,60, segundo Ferreira – é sobre este último valor que o reajuste de 5% é esperado. Um saco de 25 quilos resulta em cerca de 600 pães, diz o presidente da entidade, que representa aproximadamente 350 padarias em Londrina, Ibiporã e Cambé.

O viés de alta do produto desde o último bimestre de 2019, a quebra da safra e as políticas de exportação da Argentina provocaram uma escalada de preços, confirma o presidente do SindiTrigo (Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná), Daniel Kümmel.

Além disso, ele ressalta a suspensão de registros de exportações agrícolas pelo Ministério da Agricultura da Argentina, no último dia 26. “isso provocou um desconforto muito grande no Brasil, porque, se realmente acontecer isso, não teremos trigo argentino até o fim deste ano”, alerta. Atualmente, o produto se encontra na entressafra, ou seja, não há produção até meados do segundo semestre.

O SindiTrigo representa os moinhos de trigo, que compram o trigo para processamento, e a tonelada, que custava entre R$ 850 e R$ 900, navega em torno de R$ 1 mil e já bateu R$ 1.100, afirma ele. “A raridade faz com que o trigo fique neste valor e, tendencialmente, todos os moinhos são obrigados repassar o preço para o produto e isso chega ao consumidor”, justifica.

O SindiTrigo, que representa os moinhos de trigo, afirma que a tonelada do produto, que custava entre R$ 850 e R$ 900, navega em torno de R$ 1 mil e já chegou em R$ 1.100
O SindiTrigo, que representa os moinhos de trigo, afirma que a tonelada do produto, que custava entre R$ 850 e R$ 900, navega em torno de R$ 1 mil e já chegou em R$ 1.100 | Foto: Marcos Zanutto/Arquivo Folha

CONSUMO MAIOR QUE A OFERTA

Analista do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná especialista em trigo, Hugo Godinho afirma que o Brasil importa trigo para suprir a demanda nacional. Enquanto a produção doméstica fica em torno de 6 milhões de toneladas (no ano passado, com produtividade menor, chegou a apenas 5,2 milhões de toneladas), o consumo interno fica entre 11 milhões e 12 milhões de toneladas. No Paraná, do potencial de 3,4 milhões de toneladas produzidos, a safra passada chegou a 2,1 milhões de toneladas.

A Argentina é a maior exportadora para o Brasil, mas o Paraná também mantém bom relacionamento de comércio da commodity com o Paraguai. O Uruguai também é um grande fornecedor para o mercado brasileiro e, em última instância, o trigo também é comprado dos Estados Unidos, que tem a desvantagem do encarecimento devido à distância em relação à região Sul. “A Rússia também pode ter uma exportação um pouco maior para o Brasil”, diz o analista.

De acordo com ele, as cotações internacionais do trigo estão mais ou menos no mesmo patamar do ano passado - mas, cotado em dólar. Porém, alerta ele, com o início da entressafra, a tendência é de elevação de preços até o início da safra nova, na metade do segundo semestre.

Em relação aos produtos feitos de trigo, como os pães e as massas, Godinho ressalta que há outros fatores que influenciam no preço final, como o custo da energia, que teve um grande salto no último ano, e questões salariais, já que as rendas das famílias estão menores. “São muitos os fatores que influenciam mais na cadeia do trigo [que a alta do dólar]”, explica.