O mês de setembro fechou com deflação de 0,04%, puxada principalmente pelo recuo do grupo alimentos e bebidas. Foi o menor resultado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desde a queda de 0,22% de 1998, o que é positivo para o orçamento familiar de curto prazo, mas começa a preocupar analistas pelo risco de estagnação econômica causada pela baixa demanda. Os dados foram divulgados na quarta-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A variação de preços ficou bem abaixo de setembro do ano passado, quando houve alta de 0,48%. Ainda, indica uma tendência de baixos índices nos últimos meses, quando a inflação foi de 0,01% em junho, de 0,19% em julho e 0,11% em agosto, segundo o IBGE.

Com isso, o acumulado do IPCA ficou em 2,49% de janeiro a setembro e em 2,89% em 12 meses, resultados muito próximos ao piso da meta de inflação estipulado pelo BC (Banco Central), que é de 4,25% com margem de erro de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Faltam três meses para o fechamento do ano e, caso a inflação fique abaixo do piso de 2,75%, será o segundo ano em três que o País registra variação de preços abaixo da margem do BC. O resultado ficou em 2,95% em 2017, quando o piso da meta era 3,00%, e ficou em 3,75% em 2018, um pouco acima do mínimo da margem, de 3,00%.

Na prática, não há penalização à população caso o BC não cumpra a meta. O órgão tem apenas que explicar ao governo federal os motivos e quais medidas adotará para que o índice volte ao centro da meta. Porém, economistas afirmam que a inflação atual indica uma grande falta de demanda do consumidor, em um momento em que o País patina para conseguir retomar a geração de empregos, renda e PIB (Produto Interno Bruto).

O presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes, afirma que não houve evento anormal neste ano a ponto de gerar alta de preços nos alimentos, somente variações sazonais. "O que chama a atenção nesse grupo é que as bebidas também estão jogando a inflação para baixo."

Ele considera que o País enfrenta grandes dificuldades de sair da crise econômica, que começou em 2015. "Temos inflação abaixo do centro da meta, dificuldade em ter crescimento econômico, estamos com a menor taxa básica de juros da história e a demanda ainda é muito fraca", cita Antunes.

O professor de economia José Moraes Neto, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), afirma que é preciso acompanhar a tendência do processo inflacionário. "Por mais que a inflação não seja desejável, uma deflação duradoura pode reduzir a lucratividade das empresas, gerar perda de valor em ativos e isso gera menor tendência de investimentos."

Neto diz que é preciso observar outros indicadores em conjunto, como a ociosidade da indústria, o endividamento da população e a geração de empregos, todos com certa estabilidade. Porém, não enxerga a adoção de políticas públicas que tenham dado resultado para reverter esse quadro. "A redução de juros pelo BC tem certa importância, e é certo que deve continuar caindo, mas facilitar o crédito para as famílias não vai gerar demanda para elevar a produção, emprego e renda."

Para o professor de Curitiba, o cenário reacende a necessidade de se discutir o tamanho do ajuste fiscal proposto e o teto de gastos. "Existem economistas que defendem que o Estado precisa ser administrado como um lar, com gastos menores do que a receita, mas há outros que acreditam que um investimento público gera retorno maior ao governo em médio prazo, pela arrecadação sobre a produção, geração de empregos e de consumo. É preciso fazer essa discussão no Brasil."

Para Antunes, as reformas trabalhista e da Previdência não deram o resultado prometido e que há uma conjuntura mundial de retração que precisa ser considerada. "Se não tivermos um ajuste no mercado externo exagerado no próximo ano, ainda que todas as previsões indiquem que teremos, devemos começar a ter uma recuperação. Agora, se as políticas econômicas não começarem a dar resultado em seis meses, principalmente em empregos e investimentos privados, a cobrança sobre o governo vai ficar séria", afirma.