Curitiba - O vice-presidente da República, José de Alencar, manteve seu discurso de ataque aos juros, mas recuou no confronto direto ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Alencar disse que o Brasil já poderia ter feito as mudanças na política econômica para promover a queda dos juros há um ano, sendo que nesse período o governo já gastou R$ 150 bilhões só com juros, dinheiro que está fazendo falta para investimentos em infra-estrutura, educação, saúde e políticas sociais.
De acordo com Alencar, o presidente Lula desautorizou a equipe econômica do governo em taxar a contribuição previdenciária do empresariado em 20,6%. Disse que a medida foi objeto de exame e de especulação, mas não significava que seria adotada. ''Antes de concretizar a iniciativa, o presidente decidiu que não deveria elevar a carga tributária'', afirmou.
Alencar esteve ontem, em Curitiba, onde participou ao lado do governador Roberto Requião (PMDB), do XIV Congresso Brasileiro da Confederação das Associações Comerciais e Empresarias do Brasil (CACB). Requião provocou um clima hostil ao ministro Palocci, quando numa crítica à atual política econômica disse que os ''companheiros estavam comendo o pão que o Palloci amassou''.
No encerramento da palestra, Alencar defendeu Palocci, parodiando sua atuação com a de um time, que tem atuantes em todas as posições. Destacou que o ministro da Fazenda atua como ''beque'', na retaguarda, que é uma posição tão fundamental quanto as demais do time, salientou.
Alencar exibiu uma lista de uma empresa de consultoria colocando o Brasil como campeão mundial no ranking da taxa de juros elevada. De acordo com o vice-presidente, o País está convivendo com uma taxa básica de juros dez vezes mais alta do que a média de 30 países que figuram na lista. Depois do Brasil vem a Colômbia em segundo lugar com uma taxa de 2,3%, seguido da Malásia, com 2% e Inglaterra, com 1,9% de juros anuais.
Para o empresariado o caso é mais grave, destacou. Segundo Alencar, os empresários estão convivendo com uma taxa de juros anual que chega no mínimo a 35% ao ano, desestimulando qualquer investimento. Disse que os investimentos obtém no máximo um lucro de 5% depois de três anos, enquanto que a aplicação no mercado financeiro rende 16% ao ano.
Para reverter essa situação, Alencar disse que está na hora do povo brasileiro se ''desincabrestar'' dos juros altos e reivindicar a queda das taxas. ''Eu mesmo investiria mais, não fosse essas altas taxas'', referindo-se à baixa alavancagem das empresas brasileiras. Ele atribuiu aos juros altos o fato de que na maioria das vezes as lojas vivem vazias, enquanto que em outros países sempre estão cheias de consumidores. O vice enfatizou que só o crescimento econômico vai abrir espaço para o emprego formal.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) manteve inalterada em 16% ao ano a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. A decisão ficou dentro das expectativas dos analistas.
O presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo Rocha Loures, considerou que o BC perdeu mais uma oportunidade para reduzir a taxa básica de juros. ''Estamos vivendo um bom momento, com o crescimento da economia, exportações em expansão e melhoria do superávit primário. O cenário era propício para a redução da Selic e para uma mudança na política monetária. Mas o Copom perdeu a oportunidade'', avaliou Rocha Loures ao saber da manutenção da taxa de juros em 16% ao ano.
Segundo o presidente da Fiep, a redução dos juros melhoraria a capacidade de pagamento da dívida brasileira e diminuiria o Risco Brasil. ''Esta é uma questão central para o País e não foi levada em conta'', afirmou. ''O Brasil está perdendo as chances que se apresentam para sair da sinuca dos juros altos na qual foi colocado há nove anos'', completou.