Agricultores relatam perdas com quinta geada em um mês
Safra do milho foi a mais prejudicada; preço de hortaliças deve aumentar para o consumidor final
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 29 de julho de 2021
Safra do milho foi a mais prejudicada; preço de hortaliças deve aumentar para o consumidor final
Pedro Marconi - Grupo Folha
O amarelo da folhagem do milho dividiu espaço com o branco da camada de gelo. A zona rural de Londrina amanheceu a quinta-feira (29) - dia mais frio dos últimos 20 anos, com 0.5 grau – registrando geada. Se as fotos remetem à beleza, para os homens e mulheres do campo o fenômeno é sinônimo de prejuízo. Segundo o serviço de agrometeorologia do IAT-PR (Instituto Água e Terra do Paraná), foi a quinta geada identificada na região no período de um mês.
Na lavoura de Adelson Serra, no Patrimônio Selva, região sul, o milho safrinha que havia resistindo a geada passada acabou dizimado desta vez. São dois alqueires perdidos, num dano financeiro inicial que passa os R$ 8 mil. “A plantação estava dez dias atrasada e não deu para salvar nada. Coloquei o gado para pastar e comer o que está verde”, relatou. Também houve perda na pastagem, que ficou queimada.
Com mais de 60 anos dedicados ao campo, Serra afirmou que os animais também sofrem com as baixas temperaturas. “Morre leitão recém-nascido, pintinho. Tenho um colega que os bichos dele morreram”, lamentou.
No distrito de Paiquerê, pai e filho acordaram cedo para ver como ficaram as culturas que estão sendo cultivadas na fazenda onde trabalham. “Das últimas geadas, essa foi um pouco mais fraca aqui, porém, o milho safrinha tem perda de 70% a 80%”, contaram Ronaldo e Cícero Brito do Nascimento. No lugar também há plantação de aveia e trigo. “Lavoura aberta não tem como proteger. O trigo, que é cultura do inverno, também teve perda”, constataram.
HORTALIÇAS
As plantas mais sensíveis, como as hortaliças, morrem quando são submetidas ao ar frio intenso e geadas, com a água que tem dentro dos vegetais congelando. No sítio da família de Dirceu Fernandes, às margens da estrada da Cachoeirinha, região sul, o valor do prejuízo ainda será calculado.
“Aqui a geada foi mais intensa que dá outra vez, inclusive, com termômetro abaixo de zero grau. Se não queimou a raiz ainda dá para restabelecer. Do contrário perde 100%. No caso da nossa alface, queimou bastante, assim como a moita da banana e o broto”, pontuou o agricultor, que cultiva alface, almeirão, couve-flor e repolho, além de soja e milho.
Fernandes acredita que o resultado das geadas vai “aparecer” na conta do consumidor final, que terá que desembolsar mais para comprar legumes e verduras. “Começa a faltar no mercado e sempre que falta acrescenta no valor. O agricultor perde, mas não desanima. É difícil porque não queremos que a pessoa que vai consumir pague um preço que não agrada. O custo de vida já está alto”, comentou.
‘CORREDOR’ PARA O FRIO
De acordo com Hervely Morais, agrometeorologista do IAT, as culturas que ficam em regiões de baixada são os lugares com maior ocorrência de formação de gelo sobre a planta. Existe previsão de nova geada nesta sexta-feira (30). “Tudo que não queimou da vez passada pegou agora: milho na fase de grão leitoso, trigo na fase de frutificação. Isso reduz bastante a produtividade. As frutíferas tropicais, café, pastagem, o tomate também perdeu se não protegeu com estufa”, elencou.
Desde 2019, a região Sul do País está sob o efeito do fenômeno La Niña, que é um facilitador para a entrada de massas polares rigorosas, como a atual. “O frio neste ano está sendo muito extremo. Quando tem situação de La Ninã ou neutro prolongado é como se formasse um corredor aberto, fazendo com que massas polares de extrema intensidade ingressem com facilidade, trazidas pelo vento”, explicou. “Para nossa agricultura a melhor condição é o El Niño, que traz bastante chuva e não traz frio.”
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