A Adram, indústria de alimentos à base de milho com mais de 40 anos de existência e unidades industriais em Faxinal (Vale do Ivaí) e Mauá da Serra (Centro Norte), protocolou pedido de recuperação judicial nesta sexta-feira (6).

O advogado responsável pelo pedido, Alan Mincache, do escritório Federiche Mincache Advogados, alega que a empresa está enfrentando “forte crise econômica de suas finanças”. “A Adram (...), desde 2015 vem sofrendo com as fortes oscilações do preço do milho, decorrentes das seguidas quebras de safra, da própria crise política e econômica do país, e da impossibilidade de repassar esse aumento do custo de produção para seus produtos finais, que em geral são destinados às classes C e D da população.”

A dívida constante no pedido de recuperação judicial é de R$ 70 milhões. Após apreciação do pedido pelo juiz, o plano de recuperação judicial deverá ser apresentado pela empresa em até 60 dias. “O objetivo da empresa é o de, através da Recuperação Judicial, buscar de modo adequado sanear suas obrigações junto aos seus credores, a fim de manter-se no mercado, produzindo a função social que sempre foi sua maior preocupação”, enfatizou Mincache.

Trabalhadores demitidos da Adram assinaram o Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho nesta sexta-feira (6), sem poder receber seus acertos
Trabalhadores demitidos da Adram assinaram o Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho nesta sexta-feira (6), sem poder receber seus acertos | Foto: Divulgação

As rescisões de contrato dos 255 trabalhadores da Adram demitidos na semana passada aconteceram nesta sexta-feira (6). Segundo o advogado do Federiche Mincache, as verbas rescisórias - que totalizam R$ 2,3 milhões - serão pagas conforme proposta que será apresentada no plano de recuperação judicial.

O STIAA (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Apucarana e Região) relatou que haverá atrasos no saque do FGTS pelos trabalhadores, devido a um erro na liberação das guias por parte da empresa. Até que a guia seja liberada, os trabalhadores também ficam impossibilitados de fazer o pedido do Seguro Desemprego. O Sindicato aguarda retorno da Caixa Econômica sobre o assunto na semana que vem.

Bloqueio

Em Mauá da Serra, cerca de 50 ex-funcionários bloquearam a entrada e a saída de caminhões da empresa durante o dia. Gesiani de Souza da Silva, que trabalhou por nove anos no setor administrativo da empresa, explicou que o motivo do bloqueio era sensibilizar a empresa para que fosse feito, pelo menos, o pagamento dos 26 dias trabalhados no mês passado. Como as demissões aconteceram antes do fechamento do mês, os trabalhadores demitidos não receberam o salário referente a fevereiro.

“Imagina trabalhar o mês inteiro e não receber? Muitos não têm nem FGTS. Ninguém tem a intenção de quebrar a empresa. Só queremos que pague os 26 dias que levantamos cedo, gastamos combustível e fizemos compras para ir trabalhar. Tem pessoas que viviam e comiam daqui. Hoje não tem ninguém com dinheiro sobrando.”

Silva conta que tem dois filhos, um de nove e outro de oito, e o marido também foi demitido junto com outras dezenas de funcionários de uma madeireira da cidade. Cerca de uma centena trabalhadores da cidade foram demitidos em uma outra indústria de alimentos, afirma a ex-funcionária da Adram. “Aqui não tem mais emprego.”

Impossibilidade financeira

O advogado responsável pelo pedido de recuperação judicial da Adram explicou que as demissões foram realizadas no dia 26 porque, naquele momento, a empresa não tinha mais disponibilidade financeira para o pagamento dos funcionários desligados. "Existia uma impossibilidade financeira que determinou a necessidade das demissões mantendo um quadro bastante expressivo para que a empresa possa, reduzindo um pouco da sua máquina, que é pesada, buscar começar um movimento de reestruturação."

Na semana passada, o STIAA criticou a maneira como foram feitas as demissões, sem negociação de critérios para os desligamentos. "A empresa buscou sim falar com sindicato mas não tinha mais recursos financeiros para fazer negociação no tempo que poderia se demandaria fazer", respondeu Mincache.

Perspectiva

O advogado lembra que a empresa continuará ativa enquanto corre o pedido de recuperação judicial. Ele afirma ainda que não há perspectiva de mais demissões, pois todas as demissões necessárias para que a Adram volte a se tornar produtiva já foram feitas, e que os funcionários que permanecem estão sendo pagos normalmente.