Projetado na década de 1970 pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, o Calçadão da avenida Paraná, em Londrina, passou por algumas intervenções ao longo do tempo e na última grande reforma, no início da década passada, foi totalmente descaracterizado do projeto original, com a troca do piso em petit pave preto e branco pelo paver colorido e a alteração do mobiliário. O projeto de revitalização se estendeu da rua Hugo Cabral até a avenida Rio de Janeiro, deixando de fora o último quarteirão, até a rua Minas Gerais. O trecho, que inclui o Cine Teatro Ouro Verde e a praça Willie Davids, é tombado pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural do Paraná e embora o projeto de recuperação seja antigo, até hoje não avançou.

Ao projetar o Calçadão de Londrina, Lerner inspirou-se no Calçadão da Rua XV, em Curitiba. Restringir a circulação de veículos de uma das vias mais importantes do município foi o início do projeto denominado Novo Centro. Para o arquiteto e urbanista, o centro da cidade deveria contar com espaços que estimulassem a convivência, o comércio, as manifestações populares e artísticas e a mobilidade dos pedestres.

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Passados mais de 40 anos, o trecho do Calçadão, no qual o grande destaque é o teatro icônico projetado pelo renomado arquiteto modernista Vilanova Artigas, na década de 1950, teve o seu brilho apagado pela falta de manutenção. O calçamento ainda guarda o revestimento e desenho originais, mas está cheio de buracos que põem em risco a segurança de quem caminha pelo local; o mobiliário urbano necessita de reparos e o comércio passa por dificuldades, com alguns imóveis fechados.

Dentro de um projeto maior que tenta atrair os consumidores e levar de volta a pujança econômica para o centro da cidade, a Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) pressiona a Prefeitura de Londrina para que dê maior agilidade ao projeto de recuperação do último trecho do Calçadão. “Temos nesse mandato da Acil, como um dos objetivos mais importantes dentro de uma agenda que não é a do dia a dia, o projeto de revitalização de toda a área central, o que envolve a recuperação dos patrimônios históricos, a reativação de comércios e moradias”, comentou o diretor de Relações Institucionais da Acil, Gerson Guariente.

Quando a atual gestão assumiu o comando da entidade, disse o diretor, a primeira ação foi procurar a prefeitura para cobrar a revitalização do chamado “trecho 5” do Calçadão, o trecho onde está o Cine Teatro Ouro Verde. “Soubemos que o projeto ainda não estava concluído e colocamos nossa intenção, o que pretendíamos com a visita e a prefeitura se mobilizou”, relembrou Guariente.

A revitalização daquele trecho é vista pela Acil como um marco da retomada das obras no eixo do Calçadão. “Você praticamente não consegue andar por aquele calçamento, tem que olhar para o chão para não cair. O piso está todo desnivelado, o desenho está errado. Quero ter um programa turístico de reconhecimento para a área central, para andar pelo centro e ver a história de Londrina, mas do jeito que está não tem condição. A dificuldade de circulação acaba com o projeto turístico e comercial”, apontou Guariente, que também cobra normas para a ocupação do espaço. “Não adianta revitalizar o local sem fazer a ocupação pela sociedade. Queremos uma regulamentação.”

No momento, o Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) realiza o levantamento topográfico do local e houve uma solicitação para que o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural colaborasse com as diretrizes de preservação histórica.

A intenção é que ao finalizar a revitalização daquele espaço, além de devolver o conforto e a segurança aos usuários, a obra traga de volta os elementos do projeto original do final dos anos 1970. Além do piso em petit pave, a proposta é recuperar as características do mobiliário urbano, das luminárias e o retorno da ambiência do projeto inicial, que incluía os quiosques. “O trabalho é muito significativo. Ali é o centro do Centro Histórico de Londrina, um local bastante privilegiado”, destacou a diretora de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural do município, Solange Batigliana.

O Ippul foi procurado pela reportagem, mas não se pronunciou sobre o projeto. Segundo Guariente, na última conversa dos membros da Acil com a prefeitura sobre a revitalização do trecho 5 do Calçadão, foi informado que o projeto feito pelo município estaria concluído em setembro deste ano e, na sequência, seria encaminhado à Secretaria Municipal de Obras, para elaboração do orçamento e, então, seguiria para a Secretaria Municipal de Gestão Pública para a licitação. “Esperamos que a obra esteja licitada em, no máximo, seis meses. A gente tem apressado muito a prefeitura porque em dezembro de 2024 Londrina completa 90 anos e a gente tenta pressionar para que a obra esteja pronta para as comemorações.”