A saga por uma vaga de emprego continua
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quinta-feira, 01 de fevereiro de 2018
Aline Machado Parodi<br>Reportagem Local
A rotina do adolescente Walter Matheus de Araújo, 18, tem sido percorrer as agências de empregos e empresas de Londrina atrás de trabalho. Ele está desempregado há um ano e meio. A pouca experiência no mercado de trabalho e a falta de qualificação são os entraves que Araújo vem encontrando pelo caminho.
O adolescente engrossa a massa de desempregados do país, que no ano passado registrou a taxa média (12,7%) mais elevada dentro da série histórica iniciada em 2012. Segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Continua), divulgada nesta quarta-feira (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o quarto trimestre de 2017 registrou 2,311 milhões de pessoas em busca de emprego.
Na família do adolescente, apenas o irmão caçula está empregado e no regime de menor aprendiz. A mãe dele, Rosilene Aparecido Narciso de Araújo, 43, procura uma vaga de cozinheira ou auxiliar de cozinha. Ela era contratada do Estado pelo PSS (processo seletivo simplificado) e foi desligada no fim do ano. "Estou esperando para ver se eles me chamam de novo. Mas ainda nem abriu para levar a documentação. Enquanto isso, estou procurando emprego também", conta Rosilene.
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Informalidade está em alta
O total de ocupados cresceu 2% no período de um ano, o equivalente à criação de 1,846 milhão de postos de trabalho. Há menos 31 mil desempregados em relação a um ano antes, o equivalente a um recuo de 0,3%. Como consequência, a taxa de desemprego passou de 12% no quarto trimestre de 2016 para 11,8% no quarto trimestre de 2017, informou o IBGE.
No último trimestre do ano passado, o Brasil tinha 91 mil cidadãos a mais na inatividade, em relação ao patamar de um ano antes. O aumento na população que está fora da força de trabalho foi de 0,1% ante o mesmo período de 2016. O nível da ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, foi estimado em 54,5% no quarto trimestre de 2017.
CORTES
O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explicou que, nesses três anos, o País perdeu muitos postos de trabalho, sobretudo formalizados. "O número de trabalhadores com carteira assinada, que já chegou a 36,6 milhões em 2014, agora ficou em 33,3 milhões. Em três anos, perdemos 3,3 milhões de postos de trabalho com carteira".
O mercado de trabalho no País perdeu 685 mil vagas com carteira assinada no período de um ano. O total de postos de trabalho formais no setor privado encolheu 2% no quarto trimestre de 2017 ante o mesmo período do ano anterior.
O enxugamento do quadro de funcionários deixou o vendedor Thiago Dias, 28, desempregado. Há cerca de três meses ele procura uma vaga, mas afirma que as ofertas estão escassas. "Nem tem aparecido vaga e quando surge alguma coisa a remuneração é muito baixa. Teve uma queda dos salários de quando o mercado estava aquecido para cá", diz.
Ninguém na casa do vendedor está com carteira assinada. A mulher dele, também desempregada, trabalha como babá e cuidadora de idosos. "Neste serviço eles não assinam carteira", aponta. Para manter a renda da família, Dias também faz bicos na vidraçaria do irmão, mas o movimento no comércio ainda anda fraco.
A auxiliar de limpeza Graziele Camargo de Souza, 24,foi dispensada há um mês e vem encontrando dificuldade para recolocação. Ano passado, ela já tinha ficado quatro meses sem trabalho. "Já andei o centro todo e nenhuma agência tem vaga na limpeza. Quando tem alguma vaga é para auxiliar administrativa e daí tem que ter estudo e só tenho até a 7ª série", conta Souza.
RETOMADA
O pesquisador do FGV IBRE (Fundação Getúlio Vargas) Bruno Ottoni afirma que, apesar de a taxa de desemprego média ser a mais alta da média histórica, percebe-se um movimento de redução da queda da taxa mês a mês. "Essa taxa média alta é porque 2017 começou com taxas muito altas, mas vemos um comportamento mais normal do mercado trabalho ao longo dos meses", avalia.
A projeção do especialista é que 2018 seja um ano de maior contratação, com uma perspectiva de 17 mil novas vagas formais no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Mas, segundo ele, a recuperação dos postos de trabalho, assumindo o crescimento do PIB na faixa de 2,8%, em 2018, e 2,5% ou 2% nos próximos anos, pode ocorrer em 2020. "Com a taxa de crescimento da população em idade ativa se mantendo no ritmo atual, o país só vai voltar à taxa de desemprego de um dígito no final de 2020", projeta.