A re­por­ta­gem con­fes­sa que es­tra­nhou ao sa­ber que ­iria ex­pe­ri­men­tar o ca­fé-ja­cu, mas en­ca­rou com na­tu­ra­li­da­de ao ler so­bre o as­sun­to an­tes de be­ber. É um ca­fé mui­to bom, que dei­xa um gos­to de fru­ta na bo­ca. Se va­le R$ 10 a xí­ca­ra é ou­tra his­tó­ria... As ra­zões pa­ra o pre­ço, po­rém, fi­cam ­mais cla­ras ao ou­vir­mos as ex­pli­ca­ções do pro­du­tor Hen­ri­que Slo­per, um ca­rio­ca for­ma­do em mar­ke­ting na Ca­li­fór­nia, e pro­prie­tá­rio da Fa­zen­da Ca­mo­cim, no Es­pí­ri­to San­to, de on­de sai o exó­ti­co ca­fé. Con­fi­ra al­guns tre­chos da en­tre­vis­ta.
FO­LHA - Co­mo sur­giu a ­idéia do ca­fé-ja­cu?
SLO­PER - Pri­mei­ro gos­ta­ria de di­zer que es­te é um fe­nô­me­no na­tu­ral, só cria­mos a tec­no­lo­gia. An­tes, que­ria me li­vrar dos ja­cus, ­pois os via co­mo pra­gas na mi­nha la­vou­ra. Eu já co­nhe­cia o ko­pi lu­wak (ca­fé da In­do­né­sia, que pas­sa pe­lo pro­ces­so di­ges­ti­vo de um fe­li­no). Foi num dia fa­tí­di­co, quan­do vi­mos uns 80 ja­cus de­vo­ran­do os ca­fe­zais, que ­caiu a fi­cha. Aí a pra­ga vi­rou ben­ção.
  E co­mo é o pro­ces­so?
O ja­cu pe­ga o ­grão no pé, sen­ta per­to do ca­fe­zal e vai co­men­do os fru­tos ma­du­ros até en­cher. É um es­pe­tá­cu­lo es­tra­nho. O ja­cu é uma mis­tu­ra de uru­bu com ga­li­nha, faz um ba­ru­lho as­sus­ta­dor. Ele não tem es­tô­ma­go, é só pa­po e in­tes­ti­no. E o que ele ­quer é só a par­te mo­le da fru­ta. Em 30 a 40 mi­nu­tos ele de­fe­ca.
  Vo­cês co­lhem as fe­zes e a par­tir daí o que acon­te­ce?
Aí en­tra o nos­so pro­ces­so tec­no­ló­gi­co (que não re­ve­la em de­ta­lhes). O mun­do tem vá­rios ca­fés exó­ti­cos. O se­gre­do nos­so foi ter des­co­ber­to uma tec­no­lo­gia pró­pria. Co­lher co­cô de pás­sa­ro é fá­cil. Trans­for­mar aqui­lo em be­bi­da boa é que é a ques­tão. Já re­gis­tra­mos a mar­ca ja­cu-cof­fee no mun­do in­tei­ro e o nos­so pro­je­to é trans­for­mar is­so em te­sou­ro na­cio­nal bra­si­lei­ro.
  E o que ­atrai tan­to os ja­cus pa­ra a fa­zen­da?
São ­três fa­to­res: o sis­te­ma de pro­du­ção flo­res­tal (flo­res­ta com agri­cul­tu­ra), a la­vou­ra or­gâ­ni­ca e bio­di­nâ­mi­ca (sem uti­li­za­ção de pro­du­tos quí­mi­cos), e o mi­cro­cli­ma da fa­zen­da (re­gião de mon­ta­nha, si­len­cio­sa). O ja­cu é sen­sí­vel e não gos­ta de ba­ru­lho.
  Por que o ca­fé é
tão ca­ro?
Por cau­sa do cus­to de pro­du­ção. Na úl­ti­ma sa­fra co­lhe­mos 70 to­ne­la­das de ca­fé na fa­zen­da, sen­do que me­nos de uma to­ne­la­da foi de ca­fé ja­cu. No fi­nal do pro­ces­so, is­so vai ge­rar uns 500 qui­los ape­nas. É me­nos de 1% da pro­du­ção.
  Na ho­ra de be­ber, ­qual a prin­ci­pal di­fe­ren­ça do ca­fé-ja­cu?
Na bo­ca, não sa­be­mos di­zer qui­mi­ca­men­te o que mu­da por­que is­so ain­da es­tá em pro­ces­so de pes­qui­sa. Em re­la­ção ao ou­tro ti­po de ca­fé que pro­du­zi­mos na fa­zen­da, o ja­cu pas­sa por uma se­le­ção na­tu­ral, fei­ta pe­lo pró­prio pás­sa­ro. Ele só co­me os ­grãos ­bons, do mes­mo ta­ma­nho e ma­du­ros, que têm ­teor de açú­car ­mais al­to. O ja­cu sa­be o que faz.
  Vo­cê po­de di­zer por quan­to ven­de o ja­cu-cof­fee no ex­te­rior?
De jei­to ne­nhum. Mas pos­so ga­ran­tir que o pre­ço é bem ­mais al­to do que den­tro do Bra­sil (cer­ca de R$ 40 o pa­co­te de 250 gr de ca­fé em ­grão). E não te­nho pro­du­ção pa­ra aten­der a de­man­da. Pa­ra fo­ra, o ca­fé vai em­ba­la­do a vá­cuo, em cai­xas de cin­co qui­los, em ­grãos ver­des. ­Eles pre­fe­rem as­sim por­que di­zem que o ca­fé tor­ra­do de­pois de 15 ­dias já era... (G.M.)