Henrique Bredda: "O importante é ver o que está acontecendo no ciclo econômico e nos lucros das empresas do Brasil"
Henrique Bredda: "O importante é ver o que está acontecendo no ciclo econômico e nos lucros das empresas do Brasil" | Foto: Ricardo Maia/Divulgação


Independentemente do cenário político, o momento é o melhor para se investir na bolsa brasileira. Os papéis estão muito baratos e a tendência das companhias é de gerarem mais lucros e dividendos. Além disso, os juros, que devem manter-se em baixos patamares por médio prazo, desestimulam a renda fixa. Quem quer ter rentabilidade precisa assumir riscos.
Esse foi o tom da palestra proferida pelo estrategista-chefe da XP Investimentos no Brasil, Marco Saravelle, e pelo gestor do fundo Alaska Asset, Henrique Bredda, no mês de dezembro, em Londrina - uma promoção da Bravus Investimentos, escritório credenciado da XP na cidade. "No final de 2015, a gente viu que os preços dos ativos atingiram um desconto tão grande que fez o investidor sair dos Estados Unidos e começar a comprar no Brasil", afirma Henrique Bredda. E até hoje, de acordo com ele, houve pouca recuperação.

De 2008 - ano da crise financeira internacional - a 2015, a Bovespa (hoje B3) andou para trás devido, principalmente, à queda dos preços das commodities. "O petróleo estava a 150 dólares e caiu para 28 dólares em 2015. O minério foi de 180 dólares para 30 dólares. Os preços do açúcar e das commodities agrícolas desabaram", recorda . Essa desvalorização afetou a balança comercial brasileira e gerou efeito cascata. "O dólar subiu e causou inflação. O produtor de commodities passou a comprar menos caminhão, a Mercedes-Benz (fabricante de caminhões) demitiu e os demitidos passaram a consumir menos. Foi um círculo vicioso de autodestruição que bateu no limite em 2015, coincidindo com o limite dos preços das commodities", alega.

Nos últimos três anos, as commodities tiveram boa recomposição de valor. "O petróleo que chegou a 28 dólares está mais que o dobro - cerca de 60 dólares hoje. O minério está também na casa dos 60 dólares", conta. Mas os papéis se valorizaram quase nada desde então. O gestor compara a evolução do principal índice da bolsa, o Ibovespa. "Em dólares, o investidor pagava cerca de 44 pontos pelos papéis brasileiros. Hoje, está pagando perto de 22 mil pontos em dólares. Dez anos depois, paga praticamente metade", calcula.

Para Bredda, não é o caso de se preocupar com as questões políticas e seus efeitos sobre o mercado de capitais. "Focar a atenção na política não ajuda em nada. Isso acaba criando distorções. O importante é ver o que está acontecendo no ciclo econômico e nos lucros das empresas do Brasil", alega.

O estrategista Marco Saravelle diz que as empresas estão passando por um momento de recuperação de resultados, que não se via há dez anos. Os lucros aumentam até pelo efeito da queda dos juros, que fazem as companhias terem menores despesas financeiras. Mas não só por isso. "Há uma capacidade ociosa nas empresas. De modo que elas não precisam investir e a geração de receita é quase sinônimo de lucro. As empresas também estão pouco endividadas", alega.

Questionado sobre os melhores setores para se investir, Saravelle prefere recomendar companhias. "É complicado falar em setores porque eles reúnem empresas muito boas e muito ruins ao mesmo tempo. No farmacêutico, por exemplo, temos a Raia Drogasil, que é um espetáculo, e a BR Pharma, que quebrou." Algumas das ações sugeridas por ele são as da Petrobras, Suzano, Braskem, Magazine Luíza, Marcopolo e Randon.

RENDA FIXA
Nos anos de 2014, 2015 e parte de 2016, na opinião do estrategista, o brasileiro viveu um período de comodismo. "A taxa DI estava alta e o retorno era fácil (em produtos de renda fixa)", justifica. Segundo a Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados), a taxa DI, utilizada nos empréstimos entre bancos, estava a 14,14% ao ano no início de 2016 e hoje está a 6,40%. "Não há expectativas de que a DI volte a subir tão cedo. Então, para ter rentabilidade, o investidor precisa tomar risco", alega.

Há fundos de ações, segundo o estrategista, que rendem até 30% ao ano. Esses fundos, aliás, são boa opção para quem tem medo de se arriscar na compra de ações. Há também outros produtos com os multimercados que misturam renda fixa e variável.
De qualquer modo, para fazer esses investimentos, é preciso abrir conta em corretora. "Aproximadamente, 0,5% da população tem conta aberta em corretora e opera efetivamente", informa Saravelle.