Londrina tem a 20ª maior cobertura de banda larga móvel (percentual de moradores) dentre os municípios do Paraná. A internet móvel chega a 98,78% dos seus habitantes e a 98,86 dos domicílios da cidade, segundo dados divulgados em um mapeamento da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Imagem ilustrativa da imagem À espera do 5G, expansão de internet móvel ainda é desafio
| Foto: Gustavo Carneiro

A diferença com o primeiro colocado no Estado é pequena. Pinhais é a cidade com maior cobertura: a banda larga móvel chega a 100% dos habitantes do município. Curitiba vem em seguida, com 99,99% dos moradores cobertos, e Matinhos (99,92%) logo depois.

Porém, quando se fala em área de cobertura, o cenário é mais preocupante. Pouco mais da metade do território de Londrina é atendido pela internet móvel (52,91%). A tecnologia 4G chega a apenas um terço da área total de Londrina (32,44%). Pelo mapa, é possível ver que as áreas rurais são as mais penalizadas, ou seja, que possuem menor cobertura.

O mapeamento da Anatel foi publicado nesta última semana em um sistema no site da agência. Pelo sistema público, o consumidor pode conferir a cobertura das operadoras no País, estados e cidades pelas tecnologias 2G, 3G e 4G .

A presidente da Associação de Mulheres do Distrito de São Luiz, Cleide Babugia, conta que, quando o distrito ficou incomunicável por 15 dias por problemas com a telefonia celular, os transtornos foram muito grandes. Há apenas uma única operadora que opera na região, que é a Sercomtel, e por isso os moradores dependem do serviço da empresa.

Como os alunos estão estudando em casa e são poucos os que possuem computador, o celular é o único meio que os estudantes têm para assistir às aulas, conta Babugia. A pandemia fez com que o serviço de telefonia celular se tornasse essencial. "É muito ruim, funciona quando quer. A gente está longe da cidade, então tudo que usa ou é celular ou internet. Em tempos de pandemia, questão de trabalho, tudo é celular."

No distrito de Lerroville, Welton Araújo Silva, que é dono de uma casa de produtos agropecuários, também afirma que o serviço sofre de muita instabilidade. "Internet aqui deixa bem a desejar. Ligação depende de como está o tempo. Tem que ser Wi-Fi, porque dependendo do lugar nem torre tem."

A Anatel explicou que a presença de Estações Rádio Base, as antenas das operadoras que transmitem o sinal do celular, é o que influencia a cobertura da banda larga nos municípios. "Essas antenas estão mais presentes em áreas de maior adensamento populacional. Por isso, em geral, o percentual de moradores e domicílios cobertos são superiores à cobertura da área geográfica dos municípios", diz nota da assessoria de imprensa.

As áreas rurais são mais penalizadas, segundo a agência, por estes mesmos motivos. "Em geral, são áreas com menor densidade populacional, o que implica uma quantidade inferior de antenas das operadoras nessas regiões", diz a nota da Anatel. Embora existam instrumentos regulatórios que estabelecem compromissos para cobertura dessas áreas, como o PGMU (Plano Geral de Metas de Universalização), o órgão considera que a lacuna de conectividade ainda é relevante, e deverá ser endereçada em futuras políticas públicas.

Sindicato que representa as empresas de telecomunicações, a Conexis Brasil Digital afirmou que as regras de serviços celulares são definidos nos leilões de radiofrequência da Anatel. "As metas fixadas pela agência preveem a cobertura de 80% da área urbana do distrito sede", diz a nota enviada pela assessoria de imprensa.

Por outro lado, a ampliação da cobertura em áreas rurais depende de políticas públicas, acrescenta a entidade. "Neste sentido, o setor vem dialogando nos últimos anos com o Poder Executivo para defender estas políticas e utilizar recursos dos fundos setoriais (que são valores recolhidos pelas empresas aos cofres públicos) para esta finalidade."

FUNDOS

De acordo com a Conexis, o total recolhido para todos os fundos do setor nos últimos 20 anos foi de R$ 116,9 bilhões, mas apenas cerca de 8% foi utilizado pelo setor. Um deles é o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), instituído com o objetivo de universalização da telefonia fixa. Desde a sua criação, foram arrecadados R$ 26,7 bilhões, e 0% dos recursos foi empregado no setor de telecomunicações.

A nova lei do Fust, aprovada pelo Congresso Nacional no final do ano passado, amplia o escopo dos investimentos que podem ser realizados com esses recursos, diz a Conexis. O edital de 5G, que ainda está sendo analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), também trará compromissos de cobertura mais amplos, continua a entidade.

SEM REGULAMENTAÇÃO

Mas em Londrina, o sindicato relata que as empresas também enfrentam dificuldades para obter licença para instalação de antenas. "Apesar da aprovação, em 2020, de uma lei que moderniza as regras para a instalação dessa infraestrutura na cidade, a lei ainda não foi regulamentada, motivo pelo qual pedidos de novas licenças não estão sendo aceitos pela prefeitura."

A Lei 13.184/2020, aprovada em dezembro do ano passado, dispõe sobre as normas urbanísticas para a instalação e licenciamento de infraestrutura de suporte para antenas de telefonia. O PL que a originou tramitava desde 2015 e, sem lei, a cidade acumulou atrasos no investimento em infraestrutura de telefonia nesse período.

Conforme o secretário de Planejamento da Prefeitura de Londrina, Marcelo Canhada, a lei será regulamentada nas próximas semanas e vai permitir que o município receba antenas mais modernas e prepare o terreno para o 5G. "Temos o PL aprovado e nas próximas semanas vamos regulamentar e Londrina vai estar preparada para receber investimentos nessa área. Empresas de telefonia já sinalizaram que têm interesse de facilitar para que possamos receber antenas menores e com potência maior, que Londrina não recebeu em função da legislação retrógrada que não estava de acordo com o mundo atual."

SERCOMTEL

A privatização da Sercomtel, na visão do secretário, também deverá oferecer um impulso maior nos investimentos em infraestrutura de telefonia da cidade. "Uma empresa pública não tinha condição de investir em tecnologia. Evidentemente que isso acaba impactando nos números. Agora a perspectiva é que a iniciativa privada possa fazer investimentos e a cidade ganhar muito com isso. Estamos trabalhando não só para recuperar o tempo perdido no 4G, mas com o 5G em Londrina."

Com a mudança da direção, a Sercomtel se manifestou apenas por meio de nota da assessoria de imprensa, e disse que é mais difícil levar a banda larga móvel a algumas regiões da cidade por falta de infraestrutura, como antenas e cabeamento. Afirmou também que "faz parte da estratégia do grupo a melhoria de tecnologia e de abrangência geográfica de banda larga e telefonia móvel", e que o fundo que assumiu a empresa avalia, inclusive, a entrada no mercado de 5G.

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Fatores técnicos e econômicos influenciam cobertura

Há vários fatores que podem influenciar na cobertura da banda larga móvel. Um deles é o raio de cobertura que cada tecnologia oferece. Quanto mais evolui a tecnologia móvel, maior a necessidade de antenas para cobrir toda uma área com o serviço de telefonia. "Uma célula de 3G chega a cobrir um raio de aproximadamente 8 km. Uma célula de 4G, metade disso. Tanto que existe uma métrica de que, para cada torre de 4G, serão necessárias 10 de 5G", explica Lacier Dias, professor da VLSM, escola especializada no setor de telecomunicações sediada em Londrina.

O que não quer dizer, entretanto, que o usuário fica desatendido nos pontos onde não há cobertura pelo 4G, por exemplo. "Aqueles pontos de falha na sobreposição são pontos que não têm 4G, mas que estão cobertos pelo 3G", exemplifica o professor.

Outro fator é a "sombra" causada pelos prédios. Quanto mais prédios em uma cidade, mais sombras na área de cobertura. Soma-se a isso o investimento necessário para a cobertura da banda larga móvel nas cidades. "O investimento em telecom é muito caro, e você constrói primeiro para depois cobrar. Esses pontos são críticos e afetam esses números (de cobertura) de forma muito agressiva", afirma Dias.

Um fator que entra no cálculo das operadoras é a densidade de pessoas em cada região. É por esse motivo que é comum em áreas rurais e cidades do interior haver menos antenas disponíveis que nas capitais. "Não é interessante ter uma antena com poucas pessoas usando. Nestes casos as operadoras usam tecnologias mais antigas, que têm área de cobertura maior. Esse é o grande motivo de na área rural ter 2G, em algumas localidades o 3G."

Dias lembra ainda que a infraestrutura necessária para a telefonia móvel vai além das torres e antenas de celular. Também é preciso investimento em fibra ótica, utilizada para "alimentar" as torres. "Tem que lembrar que o 4G, 5G, é a comunicação entre o celular e a torre. Dali para frente é só fibra ótica."

Nos ambientes urbanos, a fibra precisa passar pelos postes, e nas cidades existe um grande entrave nesse sentido, que é o limite de ocupação destas estruturas, afirma Dias. Leis municipais também são impeditivos para obras de instalação destas estruturas, ele acrescenta.

Também há de se considerar a extensão dos municípios. Em cidades pequenas, poucas torres podem dar conta da cobertura celular. "Para cobrir Londrina inteira precisa de uma infraestrutura enorme. Por isso é tão difícil conseguir uma boa cobertura em Londrina, a cidade é muito grande e requer infraestrutura grande. Tem retorno do investimento sim, porém a telecom sofre do paradigma 'constrói primeiro e lucra depois'. Precisa equilibrar essa balança, e essa balança hoje está ainda um pouco desequilibrada, infelizmente para o lado do consumidor."

Cruzmaltina é uma "ilha" no meio do 4G

Uma ilha sem 4G no celular. É assim que se pode definir a cidade de Cruzmaltina, com cerca de 2.900 habitantes, no Vale do Ivaí. No mapa de cobertura do 4G da Anatel, o município é o único pintado de vermelho no Paraná, o que quer dizer que tem percentual de cobertura pela tecnologia bem pequena, próxima de zero.

O Paraná tem a oitava maior cobertura de banda larga móvel por habitante. Segundo o mapeamento da Anatel, o Estado tem 91,59% dos moradores e 91,93% dos domicílios cobertos com internet móvel, e fica atrás somente de Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Sergipe e Rio Grande do Sul neste quesito.

Todos os municípios do Estado possuem cobertura de internet móvel por alguma operadora - são oito operando no momento. Em termos de área de cobertura, entretanto, só 36,66% do território paranaense possui cobertura de banda larga móvel.

É nas regiões mais desatendidas que se encontra Cruzmaltina. A internet 4G chega aos celulares de apenas 1,43% dos moradores e 1,39% dos domicílios. Apenas 3,79% da área do município é coberto com a banda larga móvel. Quando se considera todas as tecnologias, a cobertura sobe para 55,54% dos moradores, 55,62% dos domicílios e 40,90% da área da cidade.

"Pra gente não chega 4G, só 3G. A internet do celular é muito ruim, tem dia que não chega nada", diz Rosa Alves, que trabalha com serviços gerais em um supermercado da cidade. O jeito é usar o Wi-Fi de casa ou de onde estiver, afirma. "Tem que ficar pedindo Wi-Fi dos outros. Hoje em dia tudo precisa de internet."

Os moradores estranham o fato de cidades vizinhas, como Borrazópolis e Faxinal, contarem com a cobertura de 4G e Cruzmaltina não. Dono de um restaurante da cidade, Gilberto Junior diz que os moradores já se acostumaram à ausência da internet móvel, e que por esse motivo todas as casas e estabelecimentos possuem Wi-Fi. "Tudo tem Wi-Fi, casa, comércio, restaurante."

Até o prefeito da cidade, Natal Casavechia, queixa-se do serviço. "Tem localidade e dia que está muito ruim, lento demais." Ele diz que precisa fazer um levantamento na cidade para saber se este é um problema que precisa ser resolvido. Segundo ele, os moradores utilizam o Wi-Fi e, na maioria dos locais onde está disponível, a rede é aberta. "Só não tem na praça."