Quase a metade dos empresários da indústria paranaense apostam no bom desempenho da atividade em 2024. Embora 74% deles tenham iniciado o ano com expectativa de retração ou estabilidade na economia do país, 41% se dizem otimistas e 6%, muito otimistas com os resultados de seus negócios. Os dados fazem parte da 28ª Sondagem Industrial da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), divulgada nesta terça-feira (20), em Curitiba.

Realizada há 28 anos, a pesquisa traz dados sobre empregabilidade, internacionalização, disposição para investimentos, lançamento de produtos, aposta em novos projetos e mercados e mudanças em processos e serve de referencial para o planejamento de ações estratégicas pela federação na defesa dos interesses da indústria do Estado.

Entre os fatores que levam otimismo ao setor, estão as vendas (51%) e os novos mercados (50%), mas os custos totais de produção, citados por 46%, e a mão de obra, apontada por 44%, ainda são aspectos que preocupam os empresários da indústria paranaense.

Quando perguntados sobre a disposição para realizar investimentos, 33% responderam que pretendem investir o mesmo que em 2023 e 26% deverão aumentar o volume investido. Outros 24% afirmaram que deverão reduzir os recursos injetados na atividade.

Os investimentos deverão priorizar a melhoria de processos, produtos e serviços (55%), a redução do custo de produção (48%) e a prospecção de mercados (47%). A valorização do capital humano aparece em sétimo lugar entre as 11 categorias elencadas, com 23%.

A maioria dos industriais deverão utilizar recursos próprios para fazer os investimentos, totalizando 61% dos entrevistados. Em segundo lugar, com 21%, estão os bancos de fomento e desenvolvimento e os bancos de varejo tradicionais aparecem na terceira colocação, com 12%.

Entre os temas relevantes para o desempenho dos negócios da indústria em 2024, a conjuntura econômica nacional, com inflação, taxa de juros, e variação cambial, é classificada como de alto impacto por 75% do setor industrial, seguida pela agenda de reformas (58%) e corrupção (51%).

Sobre o comércio exterior, 46% esperam vender sua produção a países estrangeiros. E quando questionados sobre os fatores que influenciam positiva e negativamente as exportações, citaram o conteúdo tecnológico do produto (83%) e o conhecimento dos mercados (82%) como os aspectos positivos e, entre os fatores negativos, as taxas, burocracia administrativa, tempo de fiscalização, despacho (84%), seguidas de leis, normas e regulamentos (72%).

Entre os 51% que pretendem importar, 65% citaram os insumos e matérias-primas como o principal item a ser adquirido de mercados externos e entre os fatores de influência para as importações, o conteúdo tecnológico do produto foi o aspecto positivo apontado pela maioria (80%). Entre os fatores de influência negativa, a burocracia aparece em primeiro lugar, com 83%.

A sondagem mediu ainda o desempenho das indústrias em 2023 e 39% dos empresários do setor avaliaram o ano como bom, seguido de 32% que avaliaram o ano passado como regular. Apenas 14% consideraram 2023 um ano muito bom. As vendas foram o aspecto mais positivo para 50% dos entrevistados e 57% afirmaram que o desempenho no ano passado foi afetado negativamente pelos custos de produção.

Os empresários citaram a gestão e a cadeia de fornecedores como os pontos fortes da indústria paranaense, com 83% e 76%, respectivamente, enquanto a burocracia e a carga tributária aparecem empatadas, com 84%, entre os principais pontos fracos.

Ao comentar os resultados da sondagem, o presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, destacou que a segurança energética é um dos itens de maior relevância e que a federação tem percebido a interferência direta desse fator em seus projetos de melhoria de performance e de produtividade do empresariado paranaense. “Não necessariamente na capacidade de geração de energia, mas sim na transmissão da distribuição e das nossas subestações. A variação energética e a falta de expansão para algumas regiões do Estado comprometem o crescimento industrial e uma indústria semiautomatizada tem dificuldade de rodar pela variação de energia e isso nos preocupa bastante.”

Outra preocupação da entidade é em relação ao custo energético. O Brasil tem a sexta energia mais cara do mundo. “A carga tributária em cima da conta de energia traz um empecilho muito grande para o desenvolvimento brasileiro. Exemplo disso é que nós levamos ferro in natura para a China e para outros locais do mundo e trazemos chapa para fazer parte da industrialização de automóveis. O custo de energia é muito caro.”

O presidente da Fiep comentou ainda os problemas de infraestrutura e logística enfrentados pelo setor produtivo paranaense. Uma das fontes de preocupação é em relação ao pedágio. Os contratos anteriores expiraram em 2021 e até agora não começaram as cobranças do novo sistema. “A ampliação da malha traz uma expansão, uma democracia à infraestrutura, mas vai gerar uma confusão sobre o preço por quilômetro rodado e o preço nas cancelas já instaladas. A métrica, não necessariamente, vai acompanhar o desconto por quilômetro rodado e quando a gente fala dos eixos de escoamento – Foz-Paranaguá, Londrina-Paranaguá – o eixo do transporte talvez não tenha o desconto nominal que se fala nas licitações. Mas precisamos que haja celeridade, inclusive há um debate muito grande dentro da federação.”

Para tentar contornar os problemas de infraestrutura e logística que persistem e acabam prejudicando o transporte da produção até Paranaguá, o Conselho de Infraestrutura da Fiep vem se debruçando sobre possíveis alternativas. “O Conselho estuda uma nova saída para a serra, uma sequência da BR-101, ligando Garuva a Morretes, para termos um plano B quando houver esses problemas na descida da serra.”

Rodada de fóruns temáticos começa em março no Paraná

Durante apresentação do resultado da 28ª Sondagem Industrial, a Fiep também antecipou a programação dos Fóruns Regionais da Indústria, que irão acontecer em todas as regiões do Estado, começando por Cascavel, no dia 15 de março, e Francisco Beltrão, no dia 22.

Esses eventos são um novo projeto da atual diretoria para mobilizar os empresários do setor em todo o Estado. Com os fóruns, a Fiep visa a implementação de diretrizes de uma nova política industrial para o Paraná, focada nas prioridades de cada região. A federação aponta como uma das principais características o engajamento da comunidade industrial, entidades parceiras e poder público no sentido de fortalecer o processo de desenvolvimento do setor.

Nos fóruns, serão abordados temas que irão impactar a atividade industrial nos próximos anos, como a mão de obra, a empregabilidade, a infraestrutura, a energia logística, a inovação e a produtividade. “Vamos debater os temas relevantes para cada região, com base nas perspectivas dos empresários”, destacou o gerente de Desenvolvimento Industrial e Social da Fiep, Marcelo Percicotti.

Em abril, os fóruns seguem pelo Norte e Noroeste do Paraná, e se encerram em maio, com edições nos Campos Gerais e Região Metropolitana de Curitiba.