É impossível desvincular a classe médica do progresso de Londrina: são apenas sete anos que separam a fundação do município da criação da Associação Médica de Londrina (AML), que, em seus 83 anos, tem sido um dos principais atores na construção dessa cidade tão vanguardista.

Segunda entidade de classe mais antiga do município, a AML foi fundada em 18 de outubro de 1941, mesma data em que é comemorado o Dia do Médico. Naquele período, um grupo de médicos, farmacêuticos e dentistas se uniu para organizar uma entidade de classe que zelasse pelos interesses dessas profissões.

Inicialmente chamada de Sociedade Médica, Odontológica e Farmacêutica de Londrina, a primeira diretoria foi liderada pelo presidente Adolfo Barbosa Góis, médico, e pelo secretário Orestes Medeiros Pullin, farmacêutico. Apesar da participação de outros profissionais de saúde, a entidade passou a se chamar Sociedade Médica de Londrina em 18 de outubro. Em 1956, após um acordo para que cada grupo profissional criasse sua própria associação, a entidade assumiu seu nome atual: Associação Médica de Londrina.

“Londrina, desde o início, sempre atraiu grandes médicos, tornando-se um importante polo regional de saúde. A AML surgiu nesse contexto”, destaca a atual presidente da Associação Médica de Londrina, a médica pediatra e homeopata Rosana Mara Ceribelli Nechar, associada à AML há 40 anos.

Histórias que se entrelaçam

As histórias de Londrina e da AML se confundem com a evolução da Medicina no município. Em todos os momentos importantes da história de Londrina, da criação de hospitais à fundação da Universidade Estadual de Londrina, entre outros exemplos, a presença da entidade foi constante.

Imagem ilustrativa da imagem Medicina, história e inovação: a trajetória de 83 anos da AML

“A própria cooperativa de médicos Unimed foi criada a partir da iniciativa de um grupo de médicos associados”, destaca a Dra. Rosana.

As conquistas médicas capitaneadas pelos associados extrapolam, ainda, os limites da cidade. Londrina foi destaque na Medicina, há 51 anos, quando foi realizado o primeiro transplante de rim do Paraná, no HU, fato que tornou a cidade centro de referência nacional na especialidade. Já em 1997, ficou famoso o caso do médico que usou supercola para salvar a vida de uma paciente com hemorragia no coração

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Médicos londrinenses participaram ativamente na formação do SUS

O sistema público de saúde no Brasil antes de 1988 atendia a quem contribuía para a Previdência Social. A saúde era centralizada e de responsabilidade federal e a população recebia apenas o serviço de assistência médico-hospitalar. Antes da implementação do SUS (Sistema Único de Saúde), a saúde era vista como ausência de doenças. Na época, cerca de 30 milhões de pessoas tinham acesso aos serviços hospitalares e quem não tinha dinheiro dependia da filantropia.

Londrina foi pioneira na implantação de modelos de atenção primária à saúde em Londrina, antecipando as diretrizes do futuro SUS. Médicos associados atuaram ativamente nos debates da Constituinte de 1988, contribuindo para a criação do Sistema Único de Saúde e tornando Londrina um referência nacional nesse modelo de gestão.

A proposta gestada em Londrina se inspirava no modelo de Atenção Primária à Saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde. Os principais objetivos foram romper com a dicotomia da Medicina preventiva e curativa, além da melhoria do acesso à assistência, implantando unidades onde as pessoas passaram a ser atendidas dentro de seu contexto sócio-econômico cultural.

“Nosso compromisso vai além dos profissionais médicos, abrangendo também a saúde em sua dimensão ampliada. Temos uma atuação real e efetiva, nosso objetivo é continuar sendo uma entidade de vanguarda, transmitindo aos médicos e à população um sentimento de confiança e inovação”, afirma Rosana Nechar.

A sede própria: uma conquista dos médicos

A Associação Médica de Londrina reúne atualmente cerca de 900 associados, incluindo médicos em atuação e acadêmicos de Medicina. A entidade promove a interação social, o aprimoramento técnico-científico e a qualificação dos serviços, fortalecendo a já reconhecida assistência médica de Londrina e Região Metropolitana.

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| Foto: Divulgação/AML

Desde a fundação, os médicos associados tinham como objetivo a construção de uma sede própria para a AML, consolidando o espaço como a Casa do Médico. O sonho coletivo da sede própria começou a se concretizar em 30 de junho de 1958, quando foi lavrada a escritura de doação de um terreno de 360,08 metros quadrados no Centro da cidade. Em 1959, foi lançada a pedra fundamental da sede histórica da Associação Médica de Londrina, onde hoje funciona a sede cultural.

A AML era presidida pelo médico Saul Brofman quando foi iniciada a execução do projeto do arquiteto curitibano Rubens Meister. O prédio histórico, inaugurado em 1967, apresenta características do estilo modernista, com fachada envidraçada, elementos em ferro e linhas retas. Foi a primeira edificação particular oficialmente listada em Londrina como “Patrimônio de Interesse de Preservação” pela Secretaria Municipal de Cultura. Isso significa que o local apresenta características dignas de serem preservadas e por isso poderá receber incentivos para sua conservação.

Em 1999, a entidade mudou-se para a atual sede, na Avenida Harry Prochet. Por dez anos, o prédio histórico do Centro esteve em comodato. Depois de um grande trabalho de recuperação, a Associação Médica de Londrina inaugurou oficialmente, em 18 de agosto de 2022, o espaço AML Cultural, ao lado da Concha Acústica.

O edifício, que antes dava lugar a reuniões médicas que ajudaram a construir a saúde de Londrina, hoje é um espaço voltado às artes, à cultura, à educação e aberto à comunidade, com um teatro de 126 lugares aparelhado com modernos equipamentos de som e imagem, área para exposições, além de salas para aulas de teatro, dança e canto.

Em 2023, a sede cultural da AML inaugurou, ainda, o Memorial Histórico da Medicina de Londrina, o qual reúne um acervo de mais de 80 anos recuperado pelo Centro de Documentação e História da AML por meio de documentos da própria associação e doações de médicos e familiares de pioneiros, clínicas, hospitais e entidades.

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| Foto: Divulgação/AML

Além de uma exposição aberta ao público no primeiro andar, o Memorial tem um acervo audiovisual exibido para os visitantes em seis televisões. No formato de documentário, expõe depoimentos de médicos pioneiros e familiares que contribuíram para a história da medicina e também da cidade.

Paralelamente, há uma exposição de fotografias. A ideia da atual diretoria é que os agentes da Medicina e promotores da saúde em Londrina sigam compartilhando materiais para compor a exposição permanente para que, futuramente, o local se torne um museu.

“Grandes festivais também passaram por aqui e ainda passam. Essa ligação simbiótica entre a Medicina e a arte existe e é concretizada nesse ambiente”, resume o gerente da AML Cultural, João Vidotti

Futuro: Londrina saudável, segura e sustentável

Em sintonia com o objetivo de consolidar Londrina como uma cidade inteligente, a Associação Médica de Londrina criou em 2024 o Comitê de Inovação e Tecnologia em Saúde (CITS-AML). O novo núcleo tem como missão explorar e fomentar contribuições da entidade para avanços tecnológicos, tanto no âmbito interno quanto para a comunidade londrinense.

Rosana Nechar, presidente da AML
Rosana Nechar, presidente da AML | Foto: Divulgação/AML

“A AML reforça seu caráter vanguardista com a criação do CITS-AML, uma iniciativa que reflete nosso compromisso com a inovação em tecnologia, pensando na saúde de Londrina como um todo”, explica a presidente Rosana Nechar.

A atual diretoria da AML também participa de governanças de relevância na cidade de Londrina, como a SALUS (Saúde Londrina União Setorial), o Fórum Desenvolve Londrina, iniciativas com participação ativa da entidade há quase duas décadas. “Estas entidades nasceram dentro da Associação Médica e, até hoje, são atuantes”, destaca a Dra. Rosana Nechar.

Além disso, a AML ocupa posições estratégicas em outras iniciativas de planejamento urbano e desenvolvimento sustentável. “A AML faz parte do Masterplan desde a sua criação, que estabelece os principais problemas a serem superados na cidade e propõe estratégias até 2040, e também na comissão que discute melhorias para o Centro da cidade”, pontua a presidente.

O Masterplan reflete a visão de uma Londrina saudável, segura e sustentável. “Os médicos da AML esperam que essa proposta contemple, entre outros aspectos, uma reorganização no fluxo de atendimento à saúde pública, assegurando que Londrina disponha de um sistema de saúde compatível com sua vocação de cidade de vanguarda”, afirma.