Imagem ilustrativa da imagem Ventiladores pulmonares são os responsáveis pelas mortes dos internados por Covid-19?
| Foto: Folha Arte

Após o prefeito de São Pedro dos Crentes, no Maranhão, associar o número de mortes por Covid-19 com a utilização dos ventiladores pulmonares, muitas pessoas tomaram a alegação como verdade. Porém, não é certo pensar que esses ventiladores, popularmente conhecidos como “respiradores”, seriam os responsáveis pela morte de pacientes internados pela Covid-19. A Médica pneumologista Janne Takahara conversou com a Folha de Londrina e explica o funcionamento do equipamento e como ele é um aliado vital no tratamento do novo coronavírus.

Imagem ilustrativa da imagem Ventiladores pulmonares são os responsáveis pelas mortes dos internados por Covid-19?
| Foto: Folha Arte

Para que serve o ventilador?

A Covid-19 é uma doença causada por um vírus pertencente aos coronavírus, os mesmos responsáveis por outras doenças respiratórias como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Entre outros efeitos, essas doenças podem causar insuficiência respiratória ao infectado, ou seja, o indivíduo pode apresentar dificuldade para respirar em diversos graus. Janne explica que o processo inflamatório ocorrente nos pulmões impede uma troca gasosa adequada. Assim, não há oxigênio suficiente na corrente sanguínea. A médica lembra que “o oxigênio, como é um gás, não existe em comprimido”. É aí que entra o papel dos ventiladores. Eles fornecem suporte mecânico para que o pulmão continue funcionando e fornecendo oxigênio para o corpo.

Todos os infectados usam o aparelho?

É importante saber que nem todos os infectados pelo vírus passarão pelo tratamento utilizando ventiladores, apenas aqueles que estiverem em quadros mais avançados da doença. Em uma pequena parcela dos infectados, a respiração natural se mostra insuficiente pois o pulmão entra em falência muscular, uma espécie de cansaço dado o esforço que ele precisa exercer para respirar. “Se eu machuco um braço, eu consigo deixá-lo quietinho, descansando. Agora, respiração eu não consigo”, compara Janne. Para esses pacientes, no primeiro momento, é recomendado o uso de aparelhos não invasivos que fornecem ar sob pressão ao organismo.

Porém, se esse equipamento não for eficaz, é preciso que o paciente seja submetido a um ventilador invasivo. É hora de ser intubado. Uma parte menor ainda dos infectado chega a esse estágio mais grave da Covid-19, e geralmente está relacionado com situações pré-existentes ao paciente, como insuficiência cardíaca ou renal, por exemplo.

Apenas aqueles que estiverem em quadros mais avançados da doença precisam do uso do aparelho
Apenas aqueles que estiverem em quadros mais avançados da doença precisam do uso do aparelho | Foto: iStock

Mas ele é 100% eficaz?

Quando com Covid-19, um pulmão inflamado que apresenta lesões, naturalmente, se torna mais difícil de ser ventilado do que um pulmão saudável e “não está isento de ter complicações de uma ventilação mecânica” – conclui Janne. Um ajuste de pressão inadequado ao paciente que acarrete pneumotórax, por exemplo, é uma situação possível para esses pulmões já tão debilitados.

E se eu não quiser usar o ventilador?

Takahara explica que a alta baixa concentração de oxigênio pode acusar alterações no pH sanguíneo (acidez), podendo causar insuficiência renal, lesões cerebrais, arritmia e paradas cardíacas, além da falência de diversos órgãos. Nos casos graves, a falta de ar causa paradas respiratórias que podem levar o paciente a óbito. Em outras palavras, a ventilação pulmonar tende a ser a melhor, senão a única opção para tentar garantir a vida de um paciente. Mas Janne declara: “a gente quer que as pessoas não cheguem a fase de ventilação”.

A fala que dispersou essa informação falsa não se vale de argumentos científicos ou dados concretos, característica que deve sempre causar desconfiança ao leitor. Se você receber uma informação suspeita, não deixe de enviar para o Folha Confere por meio deste formulário (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd38WzlKEa0f0aAzzCO29kF22I7Ii6igmzsIK9I-2L7DCYpFw/viewform) ou utilizando a hashtag #FolhaConfere nas redes sociais.

*supervisão de Patrícia Maria Alves (editora)