Imagem ilustrativa da imagem Ingestão de creolina combate o coronavírus?

Uma informação falsa tem circulado nas redes sociais alegando que a ingestão de desinfetantes como a água sanitária e a creolina seriam eficazes para se medicar ou prevenir o contágio pela Covid-19. Muitas orientações errôneas semelhantes a essa têm sido criadas no contexto da pandemia, e até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu a possibilidade da aplicação de desinfetantes em pessoas. Entretanto, é comprovado que esses produtos causam intoxicação no corpo humano e podem levar inclusive a morte. Para melhor explicar os perigos do envenenamento por esses agentes, a Folha de Londrina conversou com o professor Camilo Guidoni, que é doutor em ciências farmacêuticas, coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Hospital Universitário da UEL (CIATox-Londrina) e docente na Universidade Estadual de Londrina.

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A creolina, produto químico composto por cresóis, é um desinfetante comumente utilizado na área veterinária e pecuária, sendo eficaz na limpeza e eliminação de bactérias. Ele tem ação forte e por essa razão não tem uso doméstico, diferentemente da água sanitária (ou “Kiboa”) que é de mais fácil acesso à população geral. Guidoni explica que, apesar de serem produtos eficientes na higienização de objetos e superfícies, esses compostos não devem ser ingeridos pois são prejudiciais ao organismo. Seus efeitos no corpo variam conforme a quantidade e a concentração consumidos.

Sintomas leves após beber água sanitária podem ser irritações na mucosa da boca e estômago. O quadro se agrava se o paciente apresenta náuseas e vômito, pois então há o risco de que ele venha a aspirar partículas dessa substância, que vão parar nos pulmões causando problemas. Já a creolina é uma substância altamente tóxica, “causa irritação e é corrosiva para a nossa mucosa gastrointestinal”, explica o doutor. Essa corrosão pode ocasionar queimaduras na mucosa, lesões e edemas (inchaço) na laringe, além da estenose esofágica, que é o estreitamento do esôfago causado pela cicatrização da via. Essa última é uma “complicação tardia da ingestão e a pessoa vai conviver com esse problema por todo o resto da vida”, adverte o farmacêutico. Outros sintomas são alterações na frequência cardíaca, modificação no nível de acidez do sangue e até mesmo convulsões e coma. Em casos mais graves, a intoxicação pode resultar na morte.

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| Foto: iStock

Guidoni afirma que o que se sabe hoje é que o uso oral de desinfetantes “não traz benefícios. Pelo contrário: pode trazer malefícios para o paciente”. No caso de intoxicação proposital ou acidental, Guidoni aconselha que se mantenha a calma e o contato ao CIATox pelo telefone 3371-2244 ou ao serviço de saúde mais próximo de sua residência, para que profissionais qualificados indiquem qual a resolução do problema.

A publicação que dispersou essa informação falsa não se vale de argumentos científicos ou dados concretos, característica que deve sempre causar desconfiança ao leitor. Se você receber uma informação suspeita, não deixe de enviar para o Folha Confere por meio deste formulário (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd38WzlKEa0f0aAzzCO29kF22I7Ii6igmzsIK9I-2L7DCYpFw/viewform) ou utilizando a hashtag #FolhaConfere nas redes sociais.

* supervisão de Patricia Maria Alves (editora)