A venda de braceletes que prometem fortalecer o sistema imunológico se multiplicou na internet, agora trazendo o novo coronavírus como um dos males que podem ser combatidos. Páginas anunciam tecnologias de infravermelho longo e íon negativo, e o produto chega a custar R$ 200 em alguns sites. O fato é que o uso desta pulseira não apresenta eficácia, e quem explica o porquê é o professor do departamento de Física da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Marcello Costa.

Infravermelho longo e íon negativo?

Esses termos científicos podem parecer vagos à população leiga, que acaba por cair em golpes como esse justamente pela falta de conhecimento. Costa explica que ambos os termos existem, mas têm aplicação prática muito diferente das descritas nos anúncios. O infravermelho é uma onda de frequência baixa, que pode ser entendida como uma “luz invisível”. Essa tecnologia é muito utilizada no dia a dia em termômetros e tratamentos de pele, por exemplo.

Já o íon negativo, também conhecido como ânion, é um átomo ou molécula que ganhou elétrons extras, ou seja, apresenta carga negativa. Os ânions estão presentes na natureza: são liberados quando cerâmicas são expostas a altas temperaturas e, em nossos corpos, são responsáveis pelo envelhecimento da pele.

Entretanto, o professor da UEL elucida que “para que a pulseira funcionasse com infravermelho longo, precisaria ter uma corrente elétrica passando por ela, esquentando-a a uma temperatura altíssima. O ímã não poderia ser de neodímio, como está na propaganda. Deveria ser um imã que fosse cerâmica, para que ele pudesse liberar os íons a essa temperatura”. É preciso entender que essas temperaturas citadas seriam de mais de 170Cº. Assim, vê-se que seria impossível que tais tecnologias estivessem presentes em pulseiras, pois destruiriam a pele do indivíduo.

Ímãs e hologramas?

Em variações do anúncio, ímãs que alteram o campo magnético do corpo e até mesmo hologramas eram citados como propriedades médicas. Costa afirma que essas alegações não têm sentido. Ele explica que hologramas não interagem com o organismo, e mesmo que se tratasse de um ímã muito potente, o campo magnético não seria suficiente para alterar o corpo de uma pessoa.

É mais fácil entender quando pensamos em aparelhos que contém ímãs de proporções maiores: “A ressonância magnética usa um ímã enorme, gigante. Deve ter quase dois metros de diâmetro e, ainda assim, o campo gerado por esse ímã não afeta em nada o nosso organismo”. Sendo assim, como poderia um ímã tão pequeno em um bracelete ter algum efeito?

E a minha saúde?

Aumento da circulação sanguínea e da imunidade, bloqueio de radiação, propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, regulação do equilíbrio e temperatura corporal e até mesmo desenvolvimento da capacidade de raciocínio.

Essas são apenas algumas entre as tantas promessas contidas nas páginas de venda, porém é evidente que nenhuma delas são reais. É necessário atenção ao realizar compras de produtos que não conhecemos, pois “eles (os vendedores) têm esse apelo emocional de tentar melhorar a vida psicológica e a saúde das pessoas. Mas isso é apenas um apelo de marketing”, entende o professor.

Fatores de bem-estar corporal são conferidos pela prática de hábitos saudáveis, como alimentação e exercícios físicos. Já no caso da Covid-19, as mais eficientes formas de se prevenir são as que já conhecemos: seguir os protocolos sanitários, como utilizar máscaras, e tomar a vacina.

Os anúncios que dispersaram essas informações falsas não se valem de argumentos científicos concretos, e ainda apresentam erros gramaticais em seu texto, características que devem sempre causar desconfiança ao consumidor. Se você receber uma informação suspeita, não deixe de enviar para o Folha Confere por meio deste formulário (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd38WzlKEa0f0aAzzCO29kF22I7Ii6igmzsIK9I-2L7DCYpFw/viewform) ou utilizando a hashtag #FolhaConfere nas redes sociais.

* Foto: iStock

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