Em constante processo de mutação, o Sars-CoV-2, também conhecido como novo coronavírus, tem apresentado ao mundo novas versões de si mesmo, como a variante brasileira P1. Porém, pensar que esse fenômeno seria causado pelas vacinas da Covid-19 é errado e “o que ocorre é justamente o inverso”, alerta o médico Walton Luiz Del Tedesco Júnior, infectologista que atua na Santa Casa de Londrina e no Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina. Tedesco conversou com a Folha de Londrina e explica como surgem essas variantes e qual a sua verdadeira relação com as vacinas.

Imagem ilustrativa da imagem É falso que vacinas contribuem para o surgimento de novas variantes do coronavírus

A começar, é preciso entender que as variantes são novas versões de um vírus ancestral – no caso, o coronavírus – e existem devido às mutações pelas quais o material genético do vírus passa. Esse processo natural acontece em todos os seres vivos a todo o tempo. Porém, diferentemente do que se pode pensar, as mutações são totalmente aleatórias, o que quer dizer que não são planejadas pelo organismo para que haja uma evolução. É por esse motivo que muitas mutações nem mesmo apresentam uma mudança significativa no comportamento do vírus e “geralmente não têm repercussão clínica” – relata o médico.

Entretanto, quando as mutações se tornam expressivas em relação ao vírus original, elas são categorizadas como variantes. Algumas delas podem ser mais transmissivas, ou mais letais, ou qualquer outra característica que pode influenciar na sua resistência. A tendência é que as variantes mais resistentes sobrevivam melhor, enquanto as menos adaptadas ficam para trás. Cientistas podem identificar as novas variantes por meio do sequenciamento genético do vírus. Hoje, além da brasileira P1, as novas versões mais relevantes do vírus são a da África do Sul, do Reino Unido e da Índia, as quais surgiram antes de que esses países vacinassem sua população.

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| Foto: iStock

As mutações ainda apresentam muitas incertezas para a ciência, mas o fato é que elas ocorrem na multiplicação viral, chamada de replicação. Dessa forma, quanto mais replicação há, maiores as chances de acontecerem as mutações ao acaso, e é aí que entra o papel das vacinas. Deve-se lembrar que a imunização total da população não elimina o risco de mutações, pois ainda que vacinadas, as pessoas continuam podendo transmitir o vírus. Porém, Tedesco explica que quando a população é imunizada, a taxa de infecção cai, dando início a um efeito dominó em que “quanto menos pessoas infectadas, menos o vírus está transmitindo, menor é a replicação viral e menor o risco de surgirem novas variantes”.

Até agora, a vacinação se mostrou o meio mais eficaz de diminuir o número de contaminação e mortes pela Covid-19. Da mesma forma, países com alta taxa de vacinação, como Estados Unidos e Israel, apresentam menos variantes para o vírus. Ainda se estuda qual a eficácia das vacinas contra as novas variantes, mas até o momento, a resposta tem sido satisfatória.

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*Supervisão de Patrícia Maria Alves/ Editora

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