Imagem ilustrativa da imagem Carro pegou fogo por ter a chave higienizada com álcool em gel?
| Foto: Folha Arte

Circularam na internet, durante as últimas semanas, diversas mensagens falsas que associavam um incêndio que ocorreu em uma garagem em Belém, no Pará, com o uso do álcool em gel (álcool 70%) na higienização da chave do carro. Na mensagem, o aviso em letras maiúsculas alertam o perigo: "Aviso importante para quem dirige: Não higienize a chave do carro com álcool em gel 70%. Muitos acidentes estão acontecendo por isso. O incêndio que houve recentemente, numa garagem em Belém do Pará, foi decorrente de uma chave de carro higienizada com álcool gel 70%, que ao ser colocada na ignição, gerou uma faísca e acabou incendiando o veículo. Tomem cuidado! Chave de carro deve ser higienizada com água e sabão neutro."

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O caso foi desmentido pelo corpo de bombeiros local à CBN, que informou que o carro teria entrado em combustão cerca de 12 horas após ter sido utilizado pela última vez, tornando impossível que a causa do incêndio fosse a ignição. Mas afinal, uma chave que foi limpa com álcool 70% pode causar incêndio?

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Com a nova rotina de assepsia de objetos trazida pela pandemia da Covid-19, ainda restam muitas dúvidas sobre como realizar tais processos de forma segura. Por isso, a Folha de Londrina conversou com a tenente Luana da Silva Pereira, do 3º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Londrina, que explica ser pouco provável que isso aconteça por uma diversidade de fatores:

Primeiramente é preciso entender que, para que ocorra uma combustão, é necessário que três elementos estejam aliados: O combustível (como etanol, gasolina, o estofado dos banco etc); o comburente (sendo ele, na maioria dos casos o oxigênio); e uma fonte energia de ativação (podendo ela ser uma faísca ou uma quantidade de calor). Partindo disso, entende-se que, no incêndio relatado na postagem, o álcool em gel seria o combustível e que a energia de ativação seria a fagulha provocada ao ligar o carro.

O álcool 70% é um líquido bastante volátil, o que significa que ele evapora rapidamente depois de entrar em contato com a superfície da chave. A quantidade de álcool remanescente na chave seria muito pequena para entrar em combustão ou causar um curto circuito no sistema elétrico do carro.

Outro ponto é que a ignição (ou o “contato” do veículo) é responsável por mandar a centelha que iniciará o funcionamento do motor, mas ela ocorre apenas em uma peça do automóvel chamada vela, a qual é distante demais do contato para reagir com o álcool.

E o álcool em gel armazenado dentro do carro pode gerar um incêndio?

Outro boato em circulação nas redes é de que um frasco de álcool 70% armazenado dentro de um carro exposto ao sol poderia entrar em combustão espontânea. Luana ensina que só o fato de “ter o álcool em gel em um recipiente fechado no interior do veículo não seria suficiente para gerar um incêndio, principalmente porque a temperatura precisaria ser extremamente elevada”.

Para que ocorra a combustão sem uma faísca, é preciso que o álcool atinja esse ponto de combustão, a cerca de 360°C, uma temperatura elevada demais para um carro ao sol. Para se ter uma noção, apenas 100º C já é o suficiente para que a água entre em ebulição – ou seja, borbulhe e se torne vapor – e isso não é observado em garrafas de água deixadas no veículo, por exemplo.

Mas quais são os verdadeiros motivos que poderiam causar um acidente?

A Tenente Luana atesta que a maioria dos incêndios causados em carros é proveniente da falta de manutenção preventiva dos veículos ou até mesmo de processos de revisão e concertos realizados por pessoas não qualificadas para o serviço. Esses fatores comprometem a segurança do carro, tornando-o mais suscetível a falhas mecânicas e elétricas, como vazamentos e curto circuitos.

Outra possibilidade real de acidente com o álcool é o seu uso em serviços domésticos. Para se proteger do novo coronavírus, muitos desenvolveram o hábito de embebedar as próprias mãos de álcool antes de realizar qualquer atividade. Isso é perigoso pois “esses vapores que o álcool libera criam uma atmosfera e, tendo contato com uma fonte de ignição suficiente, podem gerar algum tipo de queimadura” – afirma a Tenente. Isto é dizer que, uma mão limpa com álcool na simples proximidade da chama de um fogão já pode causar ferimentos. O mesmo vale para tentar acender uma churrasqueira com álcool líquido, por exemplo.

Para se prevenir da Covid-19 sem comprometer a segurança, Luana aconselha que se prefira o uso de água e sabão para higienizar as mãos e objetos, tendo o álcool como segunda opção. Vale lembrar que o vinagre não é um agente asséptico contra o coronavírus, afirmação já desmentida pela Folha Confere.

E o que devemos fazer em caso de chamas ou acidentes domésticos?

A primeira orientação de Luana é que se chame o corpo de bombeiros por meio do número de emergências 193. Mas ainda existem algumas medidas de segurança que podem ser tomadas a fim de que os danos do acidente não sejam maiores.

Em caso de fogo no carro, logo que sentir o cheiro ou avistar chamas e fumaça, o direcionamento da Tenente é “o mais rápido possível, estacionar esse veículo com segurança na via e desligá-lo, interrompendo sua parte elétrica, e sair do veículo”. Se houver um extintor de incêndio a disposição é aconselhável acioná-lo, mas apenas se o indivíduo tiver conhecimento de seu manuseio. Caso contrário, o mau uso do equipamento pode agravar o acidente e colocar a saúde do indivíduo em risco.

*Supervisão: Patrícia Maria Alves (editora)