Uma prática consolidada na contratação de altos executivos é a oferta de opções de compra de ações (as chamadas stock options) no pacote de remuneração e benefícios, seguindo o raciocínio "se a empresa ganhar muito, você ganha junto". Essa estratégia, além de instigar o senso de dono, ainda evita que profissionais-chave aceitem convites da concorrência para mudar de emprego no curto prazo, já que podem perder muito dinheiro com a saída antecipada.

O que tem acontecido agora é que, para atrair ou manter profissionais talentosos que ainda não ocupam cargos executivos, algumas empresas vêm patrocinando a criação ou desenvolvimento de novos negócios - geralmente envolvendo tecnologia - que foram concebidos na cabeça dessas pessoas.

E como o modelo funciona? As companhias fazem o papel de aceleradoras das startups criadas por seus funcionários ou, então, investem em pessoas de fora que têm uma ideia promissora, mas precisam de alguém que as financie. Na prática, oferecem aos empreendedores acesso a recursos e o suporte financeiro para avançarem rápido, além de mentoria na gestão do novo negócio.

Dando um exemplo, pense que você está à frente de uma indústria de alimentos. João, seu funcionário, lhe apresenta o plano de negócios de um aplicativo móvel que poderá ajudá-los a aproveitar um nicho de mercado inexplorado. Como você vê que não se trata apenas de um projeto que possa ser incorporado à empresa - por ser inovador ou exigir uma cultura organizacional diferente daquela que vocês cultivam -, o empreendimento já nasce independente. E, de uma hora para a outra, seu funcionário se torna seu sócio: você entra com o dinheiro e ele com o trabalho.

Investir em empresas iniciantes continua a ser muito arriscado e, consequentemente, para que um programa de aceleração conduzido por vocês mesmos funcione é preciso colocar as fichas em diferentes negócios de alto potencial. Segundo uma pesquisa publicada na revista americana Fortune, apenas 25% das startups que recebem investimentos dão retorno. Em terras brasileiras a proporção é ainda menor.
Outra coisa a se considerar é que existe um espaço de tempo razoável entre a criação da empresa e o seu break even point - isto é, quando elas conseguem custear as próprias contas. A boa notícia é que o sucesso de uma única empresa iniciante costuma pagar tudo aquilo que foi investido na aceleradora e ainda gera lucro.

Encontrar novas formas para se perpetuar tem sido prioridade máxima para várias empresas que conheço porque seus negócios atuais estão sendo transformados pela tecnologia e elas não querem agir apenas quando a vantagem competitiva que as sustenta se tornar inviável.

Se você também ficou animado com a possibilidade de começar a investir em novos negócios, mas a sua empresa hoje é bastante tradicional, antes de mais nada procure conhecer in loco como essas aceleradoras internas trabalham. E se vocês seguirem em frente, uma dica preciosa: instalem os novos empreendimentos num espaço físico diferente do negócio principal e confiem nos sócios. Startups precisam de autonomia e decisões rápidas para prosperarem.

Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial
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