O burnout parental é um fenômeno que tem ganhado cada vez mais atenção, onde as pressões sobre pais e cuidadores parecem estar se intensificando. Com a expansão das responsabilidades, tanto profissionais quanto familiares, o esgotamento parental surge como uma consequência natural de uma sobrecarga emocional, física e mental.

O conceito de burnout parental pode ser entendido como um estado de esgotamento extremo que ocorre quando os pais se veem incapazes de atender, de forma perfeita, às exigências contínuas de cuidado e atenção. Esse esgotamento afeta a capacidade de desempenhar suas funções parentais de maneira saudável, e frequentemente resulta em sentimentos de fracasso, impotência e, em casos mais severos, distanciamento emocional dos filhos. Um dos elementos centrais desse quadro é a percepção de uma desconexão entre o ideal parental e a realidade.

A teoria do psicanalista Winnicott, por exemplo, nos ajuda a pensar no conceito de "mãe suficientemente boa" (ou cuidador suficientemente bom) como uma forma de aliviar a pressão que muitos pais sentem ao tentar alcançar um ideal inatingível. Para Winnicott, a mãe suficientemente boa não é perfeita; ela falha, erra, mas consegue sustentar uma base de confiança e segurança que permite à criança desenvolver-se emocionalmente de maneira saudável. No entanto, a sociedade contemporânea, com suas múltiplas exigências, promove um cenário onde os pais frequentemente sentem que nunca estão fazendo o suficiente — seja no trabalho ou no cuidado dos filhos.

Existe, muitas vezes de maneira implícita, uma expectativa de perfeição parental. A idealização do pai ou da mãe que consegue equilibrar todos os aspectos da vida sem falhar cria um ambiente onde a culpa se instala facilmente. A incapacidade de atender a essas expectativas pode desencadear intensos sofrimentos.

Além disso, no relacionamento com os filhos, muitas vezes os pais projetam neles suas próprias ansiedades, desejos e frustrações não resolvidas. A criança pode se tornar um "objeto" onde os pais depositam suas expectativas de realização e sucesso, o que pode aumentar a sensação de sobrecarga quando essas expectativas não são correspondidas como desejavam.

No entanto, o burnout parental também pode ser visto como um sinal de algo mais profundo. Em muitos casos, ele revela uma dificuldade de lidar com os próprios limites, tanto físicos quanto psíquicos. A psicanálise sugere que a aceitação de nossa vulnerabilidade e de nossas limitações é essencial para um funcionamento psíquico saudável. No entanto, para muitos pais, admitir os limites e o esgotamento é visto como um fracasso — um reflexo da expectativa cultural de que pais e mães devem ser incansáveis, sacrificando-se continuamente em nome de seus filhos.

Em suma, o burnout parental é uma condição que reflete a sobrecarga emocional de uma sociedade que valoriza o desempenho e a perfeição. Ao aceitar nossa imperfeição e vulnerabilidade, podemos começar a construir uma relação mais verdadeira com nossos filhos e conosco mesmos, favorecendo uma maior saúde mental e emocional para todos os envolvidos.

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