Nem sempre o que vemos ou sentimos é uma verdade absoluta. É comum muitas pessoas acreditarem que tudo o que sentem trata-se de uma verdade, alguma coisa que não tem como ser questionada e sentem também que tudo o que conseguem ver é algo que não carrega a menor sombra de dúvida. Porém, podemos nos enganar muito, podemos alucinar e juramos que o que alucinamos é verdade quando na realidade não o é.

A alucinação ocorre com todos nós e não apenas com aqueles pacientes que são vistos como comprometidos psiquiatricamente. Estamos sempre sob a possibilidade de alucinar em algum momento e algumas pessoas alucinam mais que as outras. Elas têm menos contato com a realidade, não suportam a realidade e gostariam que as coisas fossem como elas acreditam que deveriam ser. Aliás, quando alguém acha que a vida ou os demais deveriam ser de um jeito ou outro isso já é uma alucinação, pois crê que a vida deve alguma coisa, como se tivesse uma dívida. A vida não nos deve nada.

Até mesmo muito dos nossos relacionamentos estão intermediados pelas alucinações. Isso quer dizer que muita gente está se relacionando com aquele outro que existe na criação delas e não com o outro real. Quando se deparam que o outro pode pensar e agir diferente e que pode ser bem distinto daquilo que imaginavam isso gera inúmeros mal-entendidos e brigas. Para ter um contato mais próximo com a realidade é preciso suporta-la, aceitar que ela pode ser nada como gostaríamos. Quem não tolera a realidade certamente vai alucinar a vida.

A alucinação faz com que entortemos as coisas. Aí achamos que temos o poder de distorcer a realidade ao nosso bel prazer, que controlamos a vida. Quando uma pessoa acha isso, mais ela tropeçará e mais caro a vida vai custando para ela. Acaba sendo sempre um mau negócio.

Tem uma piada que diz que perguntaram para um sujeito todo cheio de si o que ficava mais perto: a lua ou a cidade de Londres? Ele sem pensar muito respondeu que a lua ficava mais perto. Todos ficaram surpresos e perguntaram porque ele achava isso e ele disse que era porque ele conseguia ver a lua de noite e não conseguia ver Londres daqui do Brasil. Então por essa lógica torta aquilo que ele conseguia ver estaria mais perto. Só que sabemos que a lua está muito mais longe e não é porque não vemos Londres e vemos a lua que isso muda.

Quem alucina faz justamente isso: distorce os fatos, distorce a própria percepção também. Percebe apenas o que cria dentro de si e não suporta olhar para a realidade que apresenta algo diferente. Não suporta que há coisas que não entende e de que não faz a menor ideia.

Em uma certa época de nossa vida todos alucinamos com muita frequência. O bebê, por exemplo, alucina o seio da mãe chupando o próprio dedo. Não há problema nenhum nisso, faz parte do nosso desenvolvimento, mas torna-se um problema quando depois tentamos substituir a realidade pelas nossas criações. Aí muita coisa pode ficar confusa e até levar a equívocos perigosos.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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