Muitas coisas tão bobas estão fazendo imenso sucesso, principalmente na internet. Músicas, se é que podem ser chamadas assim as que vem sendo apresentadas ultimamente, grudam na cabeça e viram sucesso da noite para o dia, para depois desaparecerem sem deixarem marcas ou referências. Postagens sem sentido, sem uma verdadeira consistência são as que mais ganham repercussão. Coisas mais sérias, que demandam mais das pessoas, acabam passando batido. Parece que está todo mundo querendo consumir coisas fáceis e sem muita disposição para se envolver com outras mais consistentes.

Imagem ilustrativa da imagem Usar ou não a própria mente?
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​Textos são lidos por pouca gente. Quando há mais de um par de linhas as pessoas justificam que não têm tempo e passam rapidamente para a próxima atração. Vídeos são vistos, mas apenas se forem muito breves e muito engraçados, quase escrachados. Se for algum vídeo com algum teor mais sério é evitado. Muitos explicam que o tempo é curto, que não dá para “perder” tempo lendo textos ou vendo vídeos mais longos, mas essas mesmas pessoas perdem tempo vendo vídeos e postagens, uma atrás da outra, que não têm sentido algum.

​Até mesmo as músicas estão mais pobres quando comparadas com alguns anos atrás. As letras quase inexistem e são repetições de refrões bem fraquinhos. Onde estão aqueles cantores e músicas que fazem sonhar, que mexem com nossas cabeças? Há, atualmente, um excesso de coisas rápidas, sem profundidade maior e descartáveis. O que será tudo isso?

​Acredito que não sabemos lidar com tantos estímulos que recebemos diariamente. Li uma vez uma reportagem que dizia que uma edição dominical do New York Times continha mais informações que uma pessoa na Idade Média recebia ao longo de toda uma vida! Ou seja, é muita informação para dar conta. Então, será que teríamos que reduzir as informações? Voltar como era antigamente?

Obviamente que não, até porque isso seria impossível. Não precisamos ter um falso saudosismo, como se antigamente fosse tudo melhor, porque não era. Agora, o que se faz necessário é começarmos a pensar sobre como consumimos as informações, como as assimilamos e as usamos. Tudo aquilo que é mais sério e consistente exige uma mente que pense, que faça um trabalho de “digestão” para poder ser assimilado. Ler um texto é mais do que o simples ato de ler, mas é pensar sobre ele, se abrir para o que ele propõe e ficar com tudo isso internamente ruminando. Exige mais. Dá mais trabalho. O que ocorre, todavia, é que tendemos a fugir do trabalho interno de pensar sobre algo e é aí que descambamos para coisas que não exigem nenhum trabalho. Queremos tudo aquilo que é apenas da dimensão sensorial, que nos atinge fisicamente e que não nos faça nos voltar a nós mesmos.

Só que viver apenas através da dimensão sensorial empobrece, não nos permite nos conhecer verdadeiramente e faz com que nossos atos, também, sejam pobres e superficiais. Daí o sucesso dessas melodias e postagens tão bobas e estéreis. Nada nasce delas. Agora, uma boa música nos provoca, causa algo. Um texto nos instiga e nos incomoda. Os jornais e revistas, ao redor do mundo, estão sendo cada vez menos lidos justamente porque exigem de seus leitores. Não deveríamos ter medo de usar nossas mentes. Elas são o melhor recurso de que dispomos nesta vida para viver com qualidade e dignidade.