O ator e diretor Clint Eastwood tem 91 anos e uma vida profissional considerável. No início de sua carreira se notabilizou por papeis de homem durão, viril, que enfrentava todos os perigos com insolência e até inconsequência. Interpretava o papel do “macho” clássico que não tem medo e que ajudava a criar estereótipos do que era um homem de verdade. Muita gente, homens e mulheres, esperava isso de qualquer pessoa do sexo masculino: que representasse o estereótipo tradicional do homem com “H”.

Agora, após muito tempo de vida e uma capacidade de se transformar com as experiências, Clint Eastwood está bem diferente. Nos seus últimos filmes, dirigidos e atuados por ele, o papel de homem não é aquele do estereótipo, mas bem mais interessante. Os homens retratados agora são aqueles que aprendem a se posicionar no mundo e que aprendem, sobretudo, a se relacionar com os outros, principalmente com as mulheres, de forma mais humana. H de homem agora virou H de humano.

Infelizmente, não são muitas as pessoas que sabem o que é ser homem. Muitos acreditam que seja desempenhar o papel do “macho” tradicional muito poderoso e até mesmo insensível. Estamos vendo uma mudança onde o homem está descobrindo o que é de fato vir a ser um homem. Em seus últimos filmes como Cry macho (2021), Gran Torino (2008), Invictus (2009), os papeis masculinos não são mais sobre aqueles homens que tudo explodem sem medir as consequências, mas são os de homens que perdidos numa sociedade em que não cabe mais o típico e tradicional machão, aprendem a se relacionar consigo e com o mundo em que vivem de uma maneira muito mais saudável e enriquecedora. Eles aprendem a ser homens. E as mulheres nesses últimos filmes já não são mais os objetos estúpidos e desejados apenas, mas são uma força que ajudam muitos homens a serem homens.

Ser homem não é seguir um padrão estereotipado que dita regras e deveres. A cartilha de antigamente de como era ser um homem, hoje já não cabe mais. É necessário não uma cartilha nova, mas um espaço onde homens e mulheres possam realmente se entender e se construir. Onde um é importante para o outro. Homens e mulheres, em sua maior parte, encontram-se perdidos procurando um lugar no mundo. Não só os homens ficavam presos nos papeis definidos, mas as mulheres também. O principal a entender, todavia, é que não há o jeito certo de vir a ser homem ou mulher, até porque não existe o homem e a mulher, mas existem os homens e as mulheres. É plural e não singular. Há muitas formas e maneiras de ser homem e ser mulher, porém todas requerem um compromisso com o respeito e a responsabilidade para consigo e para com os outros. Sem isso não haverá humanos de fato, mas só estereótipos.

O que mais falta nesse mundo é humanidade. Ser verdadeiramente humano não vem com o nascimento, vem somente através de um processo de humanização. Nascemos animais bestiais que podem se tornar humanos. Ser homem e mulher é algo que vem somente através de um processo de aprendizagem e mudanças. Caso isso não ocorra seremos apenas machos e fêmeas, sem ampliar a potencialidade inerente que carregamos de nos tornar humanos. Clint Eastwood, pelos seus filmes, parece ter aprendido como se tornar um homem de verdade.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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