“Um mestre, próximo de se aposentar, precisava de um sucessor. Entre seus discípulos, dois haviam dado mostras de que eram aptos, mas para escolher entre eles o mestre lançou um desafio para colocar a sabedoria dos dois à prova. Ambos receberam alguns grãos de feijão que deveriam colocar dentro dos sapatos, para então empreenderem a subida de uma grande montanha. Dia e hora marcados, começa a prova. Nos primeiros quilômetros, um dos discípulos começou a mancar. No meio da subida, parou e tirou os sapatos. As bolhas em seus pés sangravam, causando dor. Ficou para trás, observando seu oponente sumir de vista. Prova encerrada, todos voltam ao pé da montanha para festejar. O derrotado aproxima-se e pergunta ao vencedor como é que ele havia conseguido subir e descer com os feijões nos sapatos:

- Antes de colocá-los no sapato, eu os cozinhei - foi a resposta.”

Este conto popular, cuja autoria desconheço, carrega uma verdade importante para compreendermos melhor a nossa natureza. Com ele aprendemos como temos uma grande responsabilidade pela nossa vida. Muitas pessoas se eximem dessa responsabilidade e projetam sua felicidade ou infelicidade nos acontecimentos do mundo externo e se esquecem de dar valor ao modo como vivem. Problemas todos nós temos, mas é preciso que possamos lidar com eles de uma forma mais sábia, a fim de não ficarmos machucados.

Como lidamos com nossos problemas? Queremos de todas as formas nos livrar deles o quanto antes. Querer se livrar dos problemas é humano e compreensível, mas, infelizmente, as coisas não funcionam assim. Não se livra de um problema, mas há a chance de conseguir “cozinhá-los”, ou seja, pensar sobre eles, elaborá-los e dar a eles um fim mais realista. Isto é assumir a responsabilidade pela própria vida e se tornar mais forte que os problemas. Assim, você poderá “pisar” sobre eles problemas sem se machucar.

Por isso cultivar a mente é uma das melhores formas de ficarmos sempre mais fortes e preparados perante os percalços da vida. Aliás, a cura na psicanálise tem a ver com isso. O verbo curar vem do latim curare que quer dizer “cuidar, dar atenção”. Então, a cura se realiza quando damos atenção a algo e passamos a cuidar desse algo. A cura não é milagrosa. Não vem do nada, de repente, mas é um processo que se dá ao passarmos a olhar com mais atenção para aquilo que nos dói. Tal como um curador de um museu. Ele é um cuidador das obras de artes. Se a gente olhar para nossa mente como um grande bem a ser cuidado podemos então a passar a ser curadores de nossos recursos internos.

Que possamos todos aprender a cuidar de nossos problemas com mais acolhimento e discernimento, sem sentir a necessidade de jogá-los longe o mais depressa possível. O mais importante é aprender a lidar com eles para que fiquem “amaciados”. Realizando este processo nos tornamos maduros e sempre estaremos mais preparados para vivenciar a vida com muito mais qualidade e prazer.