Clarice Lispector escreveu: “E se me achar esquisita, respeite também!Até eu fui obrigada a me respeitar!” Todos temos nossas características e,muitas vezes, nos comparando com os outros, nos achamos piores ou menores.Isso acontece porque gostar de si mesmo, apesar de parecer fácil, não o é.Possuir uma verdadeira autoestima é um trabalho de longo prazo. Nãopodemos confundir a autoestima verdadeira com a arrogância, que nada mais édo que uma compensação desastrada de uma baixa autoestima. É tão mais fácil ter baixa autoestima porque durante a vida somossempre muito julgados. Nas famílias, nas escolas, enfim, em toda a sociedadeo ato de se julgar os outros se faz muito presente e, com isso, aprendemos aa agir no mesmo sentido - com os outros e com nós mesmos. Só que julgar o outro é umacrueldade, pois dá ao outro uma posição que nem sempre corresponde àverdade. Rotula-se o outro e se esquece das coisas que este outro sofreu epassou. Culpa-se os outros muito facilmente, sem nenhum traço dehumanidade. Muito melhor do que julgar é refletir. Parece apenas uma troca depalavras, mas na realidade se trata de dois atos totalmente diferentes. Aorefletir ou analisar há a possibilidade de compreensão - aliás, é justamente issoque a reflexão sempre busca: compreender. Com esse tipo de atitude não secoloca o outro numa posição já preestabelecida, mas permite-se revelar averdadeira humanidade por trás das pessoas. Com a reflexão há o respeitopelo outro, passa-se a respeitar quem o outro é.Se cada um na sua vida particular pudesse trocar o julgamento pelareflexão o ganho de toda a sociedade seria imenso. Aprenderíamos a respeitaros outros e a nós próprios e desse jeito a autoestima não seria artigo raro.Poderíamos gostar de nós mesmos e nos abrir mais facilmente às diferençasdos outros. A melhor lição que recebi de não julgar o outro foi no período deestágio na faculdade. Eu era inexperiente e recebi meu primeiro paciente. Nasupervisão fiz uma observação que, na verdade, era um julgamento. Lembro-memuito bem do supervisor ter olhado para mim firmemente e dito: “Sylvio, opaciente chega como pode, não como você quer ou como você acha quedeveria ser” Depois dessa aprendi uma bela verdade que me ajuda até hojequando me encontro com alguém.