Repetição é um fardo
Parar de se repetir implica em mudar como se vive, em se responsabilizar por tomar um caminho diferente
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 04 de outubro de 2021
Parar de se repetir implica em mudar como se vive, em se responsabilizar por tomar um caminho diferente
Sylvio do Amaral Schreiner
Estamos todos sujeitos à repetição. Se não nos tornamos conscientes de nós mesmos vamos nos repetir indefinidamente. Podemos cair sempre nos mesmos equívocos vezes seguidas, ter os mesmos comportamentos que levam sempre aos mesmos resultados. Isso é nitidamente visto quando alguém parece que “não sai do lugar”. Está sempre repetindo a mesma história, o mesmo drama e nunca sai do mesmo sofrimento. Para algumas pessoas a vida é sempre uma contínua repetição.
Parar de se repetir implica em mudar como se vive, em se responsabilizar por tomar um caminho diferente. Se sempre pegamos as mesmas rotas só vamos mesmo cair nos mesmos destinos. Apenas ao mudar o caminho temos a chance de chegar a um destino novo. Isso é óbvio, mas é justamente do óbvio que mais temos dificuldades de nos aproximar e lidar.
Quem está constantemente se repetindo espera muitas vezes por mudanças, mas não entende e não aceita que a mudança só pode ser a sua própria, acredita que a mudança deve estar no mundo externo. Quer, então, que o outro mude, que o mundo mude, mas nunca a si mesmo. Claro que não tem como encontrar realização desse jeito. Não adianta querer que o mundo lá fora mude. Ninguém tem poder para tanto. Temos, contudo, chances de mudarmos a nós mesmos aprendendo a nos relacionar com o mundo de forma diferente.
É frequente ouvir pessoas reclamando de outras e afirmando que seus problemas vêm todos do que as outras pessoas fazem ou deixam de fazer. Ou reclamam do mundo como se este fosse o inimigo. Essas pessoas esperam e exigem que o mundo lhes seja mais favorável, que ele seja o mais conveniente possível, sem que delas mesmas não seja exigido nada. Viver assim é uma excelente maneira de ser infeliz.
Existe na Língua Portuguesa vários ditados que dizem coisas como: “andar em círculos”, “correr atrás do próprio rabo”, “chover no molhado”, “trocar seis por meia dúzia”... O que eles têm em comum é demonstrarem que a repetição é algo que nunca faz sair do lugar, nunca pode trazer mudanças ou transformações. A repetição é sempre sinal de ignorância.
A ignorância é cegueira, se recusar a ver. Não há como ninguém ser verdadeiramente satisfeito se repetindo na ignorância. Há um pensamento de Heloá Marques que é bem interessante: “O pior cego é aquele que não quer ver, ouvir, nem acreditar. O pior cego, é aquele se faz de surdo. Aliás o pior cego não é cego, é burro!”
Não vale a pena viver a vida na “burrice”. Todo mundo tem o direito de viver como quer, mas quando nos damos conta do quanto a ignorância é cara, do quanto ela cobra um preço alto, podemos buscar viver a vida pagando um preço mais justo. O preço que pagamos forma nossa qualidade de vida. Quanto mais alto o preço, menor a qualidade de vida, maiores os erros e sofrimentos. Por outro lado, quando aprendemos a pagar um preço mais justo menores serão os erros e maiores as oportunidades que teremos para viver.
Podemos escolher como vamos viver. Repetir-se não precisa ser um destino imutável. Nós escolhemos se vamos sempre andar em círculos ou se vamos ousar pegar caminhos novos.
A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina
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