O muito querido psiquiatra e grande estudioso da psicanálise Osvaldo Di Loreto, escreveu um belíssimo texto intitulado “Em defesa de meu direito de ser triste”, onde ele aponta os perigos que é desejarmos uma sociedade livre de qualquer sentimento de tristeza e que seja obrigatoriamente feliz a qualquer custo. Esse texto nasceu na onda do prozac, que foi tida por muitos como a pílula da felicidade. Acreditava-se que com o advento desse medicamento e com os de muitos outros que estavam sendo lançados, estados psíquicos tais como depressão, ansiedade, pânico e etc. seriam finalmente erradicados de vez. Até agora, no entanto, isso não ocorreu e muito pelo contrário, parece que cada vez mais há uma epidemia de doenças e distúrbios psíquicos.

Uma pessoa que trabalha em uma grande rede de farmácias contou que os remédios psicotrópicos são a verdadeira galinha de ovos de ouro. O alto número de vendas desses remédios proporciona um lucro obsceno. Sem contar que acreditar na falácia de um medicamento milagroso, que nos cure de sentir, de experimentar nossas emoções e de aprender a se lidar com elas é muito tentadora. Contudo, quanto mais nos afastamos daquilo que está em nossa vida mental mais adoecemos e menos vivemos.

Quero deixar bem claro, entretanto, que não estou aqui pregando contra os remédios. Eles são extremamente úteis e podem ser um divisor de águas na vida de inúmeras pessoas. Sem eles, muita gente estaria numa situação desumana e intolerável. Então, vamos concordar que eles são benvindos e necessários para muitos casos. Só mesmo com muita arrogância poderia se dizer que eles não apresentam nenhuma vantagem.

O problema, todavia, é quando se há uma epidemia desses medicamentos, como se eles pudessem dar conta do ser humano ter que lidar com a própria humanidade. Estar triste hoje em dia virou pecado, algo absurdo. Como podemos, porém, viver sem ter que lidar com muitas coisas que nos deixam tristes e pensativos? Como podemos evitar todo e qualquer sentimento ou emoção que nos vêm e nos obriga a pensar e repensar a vida e nossas ações? Como poderíamos nos expandir e crescer se não abrimos espaço para conhecer aquilo que está em nossas mentes?

A humanidade parece que deseja desesperadamente se curar de si mesma. Quando alguém quer isso corre o risco de virar zumbi, de exterminar sua identidade, seus desejos e de aprender com a vida. Em outras palavras, não cresce, não se desenvolve. Não que devemos permanecer continuamente tristes e mal. Isso também não seria favorável, mas quando o Dr. Di Loreto escreveu o seu brilhante artigo ele pretendia nos mostrar que não temos como fugir de nossas condições internas, mas que temos uma grande chance de aprender com elas e com isso florescer numa vida realmente mais digna.

Há muitos meios para aprendermos a lidar com a vida e com nossos corpos e mentes. Há a acupuntura, a psicoterapia, a psicanálise e muitos outros tipos de terapias que oferecem chances de se aproximar da vida e não simplesmente de querer se livrar de qualquer coisa que sentimos. Infelizmente, essas técnicas são constantemente atacadas e descreditadas das mais variadas formas justamente porque elas não propõem uma fuga de si próprio, mas de um encontro consigo mesmo. Isso dá trabalho, demanda esforços e mudanças. Isso também exige que não se acredite em milagres mágicos e infantis, mas em trabalho árduo. Todos querem um belo jardim, mas ninguém quer colocar a mão na terra ou no adubo, ninguém quer o trabalho de podar, de arrancar as ervas daninhas, de aguar e cuidar das plantas para que um jardim realmente se forme e se constitua. Querem a mágica, mas sem ter que cuidar de nada. Que pena!

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