Há uma frase muito interessante do escritor alemão Goethe que diz “A alegria não está nas coisas, está em nós”. Erroneamente acreditamos que precisamos disso e daquilo para sermos felizes. Nem precisa, necessariamente, ser coisas materiais, mas colocamos nossa felicidade nas coisas externas: casamento, filhos, ter esse ou aquele corpo, etc. Há também, claro, a promessa de felicidade que vem das coisas materiais que preconiza que será feliz quando você tiver aquela casa ou aquele carro, quando conseguir aquela roupa ou joia. Enfim, todas essas “coisas” estão pautadas em algo fora de quem sente e não dentro. No entanto, a alegria só pode existir realmente se estiver dentro.

​É bom ter em mente que determinada condições de miséria ou falta de algo podem, sim, nos deixar infelizes e quando determinadas coisas são alcançadas contribuem para o nosso bem estar. Por exemplo, falta de comida ou de condições minimamente dignas para vivermos geram infelicidade. Obviamente, ninguém em sã consciência, diria que para essas pessoas determinadas coisas que estão em falta não vão trazer felicidade.

​Me refiro, entretanto, às pessoas que têm sua sobrevivência mais ou menos já garantidas e estáveis. Se elas colocarem seu bem estar em tudo aquilo que for um ‘coisa’ externa estão fadadas à infelicidade. Quem é sábio não coloca fora de si o que necessita para estar bem, porém mantem consigo mesmo todos os instrumentos para estar de bem com a vida.

​É que quando alguém tem um instrumento valioso carrega este sempre consigo e não o deixa por aí inadvertidamente nem espera que outras pessoas forneçam o que lhe falta. É muito aconselhável manter justamente tudo aquilo que for inestimável bem próximo e protegido e assim, quando se precisar eles estarão à mão.

​Pensando nisso, por que deixaríamos que coisas externas, as quais vem e vão ao sabor do vento, é que decidam nosso estado de espírito? Não seria nada prudente. Me lembro que agora pouco, antes de me sentar para escrever esse texto, aconteceu de eu estar na rua e ver um motorista buzinando loucamente para o automóvel da frente que demorou uns 3 segundos para sair quando o semáforo ficou verde. Assim que o carro saiu o motorista que buzinava e fazia gestos obscenos e dava para ver que até falava alguns xingamentos saiu a toda quase atropelando uma pessoa de idade que estava na calçada perto da rua. O motorista saiu xingando o idoso também e acelerou com tudo. Não sei, é claro, o motivo de sua imensa pressa, mas me parece que na verdade ela estava de tão mal com a vida que qualquer coisa iria lhe irritar e o tirar do sério. Se o trânsito estivesse favorável alguma outra coisa certamente iria surgir e ser fonte de aborrecimento. A alegria não estava dentro do sujeito em questão, então nada de bom que lhe ocorresse iria servir de fato. Ele estava ruim por dentro, podemos até ousar dizer que naquele momento ele estava tão estragado internamente que não haveria possibilidade alguma de alegria.

​Uma pessoa que está bem consigo mesma, por sua vez, consegue ‘tolerar’ quaisquer contratempos da vida com mais leveza e não se tira do sério tão facilmente assim. Ela não dará ao outro ou a alguma coisa externa o poder de decisão de como vai se sentir. Vale a pena prestarmos atenção nisso.

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