Uma antiga frase oriental diz que ‘melhor do que reclamar da escuridão, é acender uma vela’. A escuridão, em termos psicanalíticos, pode ser entendida como uma metáfora para o inconsciente, o estranho, os traumas e os aspectos reprimidos da mente, essa nossa desconhecida. A luta contra a escuridão, ou seja, contra esses aspectos de nossa mente, muitas vezes resulta em uma intensificação dos mesmos. Quando tentamos suprimir ou negar esses conteúdos, eles encontram formas de se manifestar, seja através de sintomas, repetições sem fim e uma péssima qualidade de vida.

A verdadeira transformação do que carregamos dentro de nós não se dá pela negação ou pela repressão, mas pela iluminação. Esse processo de iluminação pode ser entendido como a tomada de consciência, a elaboração e a integração desses conteúdos, sentidos como sombrios. É possível através da análise, do entendimento e da aproximação com os nossos conflitos internos transformar o que se passa dentro de nós possibilitando uma vida mais saudável e harmônica, conosco mesmo e com os outros.

A análise pode ser tal qual um processo de iluminação. Não me refiro aqui à iluminação que se diz mística, mas daquela que joga luz, ou seja, elucida muito dos nossos sofrimentos que carregamos e ficamos presos sem muitas vezes nos dar conta. Esse processo de iluminação permite que a escuridão, representada pelo desconhecido (que somos nós mesmos), seja compreendida e integrada, promovendo assim um olhar diferenciado sobre como vivemos.

A escuridão também pode ser vista como os traumas que carregamos ao longo da vida. Esses traumas, quando não elaborados, permanecem como sombras, influenciando nossas ações, pensamentos e sentimentos. Trauma, em psicanálise, é toda aquela experiência emocional que foi demais para processarmos e elaborarmos, que não foi possível dar conta em um dado momento da vida. Através da análise, criamos um espaço seguro para que esses traumas sejam revisitados e compreendidos. É nesse ato de iluminar, de trazer à luz aquilo que estava oculto, que possibilitamos a transformação.

O ato de iluminar não se trata de um processo racional, mas acima de tudo emocional. Envolve a capacidade de sentir e vivenciar os sentimentos associados aos conteúdos reprimidos. Através da relação terapêutica, baseada na confiança e empatia, o indivíduo é capaz de acessar esses conteúdos de forma segura. Fica então algo que não está na dimensão do aprender racionalmente, mas do viver de fato.

Assim, podemos pensar que não se pode lutar contra a escuridão. A luta implica resistência e repressão, que apenas perpetuam o ciclo de sofrimento. Somente ao iluminar, ao trazer à consciência e integrar os aspectos sombrios de nossa psique, podemos verdadeiramente transformar. Esse processo é o que nos permite não apenas sobreviver, mas viver de forma plena e significativa, com muito menos custo. A psicanálise, portanto, nos oferece a chance de viver de forma menos sofrida nesse mundo. É uma baita vela!

¨¨¨

A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina