Há muita gente que pergunta porque os casamentos acabam. Claro que não há uma resposta única e pronta, mas se as pessoas casaram tão felizes, tão apaixonadas, por que muitos casais acabam se afastando um do outro e tomando caminhos opostos? Apesar de muitos se casarem apressadamente e não porque queriam de fato ficar juntos a grande maioria se casa porque se acredita amando de verdade um ao outro. Mesmo assim, com o tempo muitos casais terminam seus relacionamentos porque já não dá mais para continuar juntos. No entanto, fica a pergunta de como isso pôde acontecer.

As relações humanas não são matemática onde um mais um é sempre dois. As relações humanas são muito mais complexas porque variam e estão em constante transformação e não carregam verdades absolutas, ou seja, verdades imutáveis. Aquilo que em um determinado momento fazia sentido em outro pode não ter sentido algum.

Quando duas pessoas começam um relacionamento elas estão em certa sintonia. Imagine figuras geométricas como um cubo. Se trata de uma figura com seis faces ou lados. Nessa sintonia inicial é como se as duas pessoas tivessem um número de lados parecidos, vissem o mundo por vértices similares e por isso mesmo se compreendessem. Agora uma outra figura geométrica como o dodecaedro, por exemplo, conta com 12 faces ou lados. O dobro do cubo e por isso mesmo terá muito mais ‘dimensões’. Já um pentacontágono possui 50 lados o que o deixa com muito mais faces, tornando-o uma figura bem diferente de um cubo.

Usei essa imagem dos polígonos para falar dos relacionamentos. Duas pessoas que estavam vendo e vivenciando o mundo inicialmente de formas parecidas podem, em algum momento de suas vidas, um dos seus membros ganhar novas ‘dimensões’ e por isso mesmo tornar-se bem diferente do que era antes. Às vezes cada um dos membros de um casal vai adquirindo formas diferentes e não mais se ‘encaixam’. Terminam por se transformar em duas figuras que não mais conversam entre si. Nesses casos resta mesmo a separação.

Obviamente, uma separação é coisa séria e não deve ser levada levianamente. A solução nunca é a separação, mas um certo entendimento entre as ‘figuras’ envolvidas, mas a separação passa a ser necessária quando não há a menor chance de entendimento, quando cada um se tornou tão diferente um do outro que não há mais relação. Numa relação não dá para forçar nada, não dá para forçar sentindo onde não há mais chance de haver sentido.

Estamos continuamente nos transformando, mudando nosso jeito de ver o mundo, de responder a ele e de nos relacionar com ele e com os outros. A pessoa que somos hoje certamente não é a mesma que fomos alguns anos atrás. Afinal, muitas coisas vão acontecendo ao longo da vida que mexem conosco e faz com que nos desdobremos das mais variadas maneiras. E quando mudamos não tem volta porque não dá para voltarmos a ser o que já fomos. No entanto, quando os membros de um casal vão mudando, mas encontram e constroem entre si áreas em comum o próprio relacionamento vai evoluindo, se transformando. Isso pode ser bom e enriquecedor. Ganhar novas ‘faces’ em nossas personalidades pode enobrecer muito a vida.

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