Peter Pan é um personagem jovem que se recusa a crescer e que passa a vida em aventuras ‘mágicas’. Quando pequeno fugiu de casa e passou a viver com a fada Sininho e a morar numa ilha onde as crianças jamais cresciam: a terra do Nunca. As histórias que inventamos, de maneira geral, por mais mirabolantes e fictícias que sejam, sempre contam uma verdade sobre nossa realidade e com essa não seria diferente.

É doloroso crescer e ter que lidar com o mundo adulto. Isso se dá principalmente por duas razões: aceitar perder as ilusões e aprender a se responsabilizar pela própria vida. A criança carrega muitas ilusões que negam a realidade dolorosa. Ela acredita que controla a vida com seu desejo e que tudo deveria existir e funcionar para gratificar os seus desejos. Ela também não vê a própria responsabilidade em muitas situações em que se coloca na vida, preferindo acreditar que é vítima das circunstâncias e dos outros, sem se atentar para a consequência de suas próprias ações.

A criança viver dessa maneira faz parte de seu desenvolvimento, mas quando isso não é abandonado pode se tornar um problema futuro. Serão adultos que viverão em busca somente do prazer e gerarão muito sofrimento desnecessário tanto para si próprios quanto para muitas pessoas ao seu redor. É natural e esperado que uma criança tenha dificuldades em encarar a realidade e tente resistir em tomar consciência de tudo aquilo que vê como ameaçador de seu estado de graça, porém ter essas crenças abaladas e mexidas, mesmo que doído, é importante para o amadurecimento.

Os pequenos são protegidos pelos adultos cuidadores que estão em sua volta e que de certa forma satisfazem muitos dos seus desejos. É preciso que seja assim para que as crianças vão ‘suportando’ esse mundo e aprendendo a lidar com ele. Contudo, à medida que vão crescendo os jovens vão se deparando que o mundo não é tão ‘dourado’ quanto imaginavam e que existe toda uma realidade além de seu controle e vontade. Em outras palavras, aprendem que não são o centro do universo. Se dar conta disso é assustador e doloroso e que muitas pessoas evitam a qualquer custo.

Quando o astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico falou que a Terra não era o centro do universo dando origem à teoria do heliocentrismo isso causou tal revolta e medo que abalou a comunidade cientifica da época e a Igreja. A dor de perceber que existem coisas muito maiores nesse mundo e que somos apenas uma pequeníssima partícula nesse vasto universo foi negada veemente por séculos. Até hoje há pessoas que têm dificuldades para aceitar fatos como a terra ser redonda e outras coisas que matam as teorias que dizem que somos a coisa mais importantes desse mundo.

Perceber-se apenas mais um nesse mundo é doloroso, mas também é libertador. Deixar de ser o centro do universo permite que possamos aprender sobre como o mundo e a vida funcionam e a tirar o melhor proveito do que for possível. Só assim crescemos de fato e desenvolvemos nossa força e capacidades tornando-nos responsável pelas escolhas que fazemos e não depender mais de ‘mágica’ que nos permita verdadeiramente alcançarmos cada vez mais nosso potencial humano. Apesar de prazerosa, a terra do Nunca é assustadora e fatal porque lá nunca o potencial humano pode se realizar

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